quarta-feira, 29 de julho de 2009

Fotografias de Herman Mertens



Devido às vastas possibilidades da fotografia digital - que permite fotografar a preto e branco (P/B) utilizando o filtro da máquina, converter fotografias a cores para P/B no computador, retocar e modificar fotos, entre outros efeitos especiais - e sem esquecer as especificidades dessa modalidade fotográfica, que se tornou uma opção artística ainda antes do surgimento da fotografia a cores, é cada vez mais importante valorizar o conteúdo da imagem enquanto produto da poética e da criatividade do fotógrafo.

Essas facilidades da fotografia digital fomentaram a multiplicação de fotógrafos amadores na modalidade da fotografia a cores. Já no P/B, reduto de fotógrafos profissionais e campo experimental de artistas das mais diversas áreas de criação e expressão, poucos se aventuram a lidar com a falta da cor e correspondente necessidade de gerir uma grande variedade de tons e de jogar habilmente com os contrastes. Um deles é o belga Herman Mertens.


Uma das suas fotos mostra a presença distraída da autoridade junto de uma parede antiga na qual alguém escreveu “pequena verdade”. Destaco esta foto pois ela parece resumir o projecto fotográfico de Mertens: reabilitar e valorizar o que está esquecido, abandonado, em vias de perder-se para sempre. A começar pelo tempo, pelo espaço, pelo silêncio – tudo matérias fotografáveis para Herman Mertens.

Nesta foto, "sente-se" o peso do tempo e "ouve-se" o silêncio

Mertens não se importa de fotografar com cor as pequenas e maiores verdades do mundo a cores, mas apanhou bem a pulsação da fotografia a preto e branco para desbravar as sombras por vezes fantasmagóricas do tempo, os caminhos e recantos mágicos dos espaços rurais e urbanos, mais claros ou difusos, socialmente enegrecidos ou artificialmente iluminados, os olhares fundos e escuros das gentes, os vestígios do trabalho e da longa espera do homem ao redor dos tempos, o homem aprisionado no seu quotidiano ou libertando-se nos ritmos da festa.


A composição é versátil - ora dominada pela verticalidade, ora pela combinação de oblíquas com horizontais, mas também simetrias e estruturas triangulares, entre esquemas de composição mais complexos, jogando com o contraste para definir e destacar linhas e manchas orientadoras da composição, mas diluindo a forma principal na sua própria aura de objecto perdido. Noutras obras, parece manter as personagens das suas fotografias presas pelo(s) olhar(es) de quem as vê – através de quem as viu (o fotógrafo) - conduzindo a outra percepção do mundo que nos rodeia, repleto de história(s) que vale a pena ver contar.

Herman Mertens nasceu na Bélgica, perto de Antuérpia, em 1950. Reside em Portugal desde 2000, actualmente em Ervedal da Beira – Oliveira do Hospital. Ver o seu blog.

Estudou publicidade e decoração de interiores, montras e exposições. Durante mais de 25 anos, trabalhou em artigos decorativos, têxtil e móveis.

Participou no curso de Fotografia Aplicada e Fotografia de Grande Formato na Escola Superior de Tecnologia de Tomar e no Estúdio Carlos Relvas, na Golegã. Trabalha actualmente na área da publicidade, que combina com a sua primeira paixão – a fotografia.

Exposições

“Arte e Fogo”

(Um incêndio florestal destruiu a casa de Herman Mertens, em Vale do Ferro, Ervedal da Beira. A tragédia inspirou uma exposição de fotografia no próprio local e depois na sede do concelho)

- Na sua casa ardida, Vale do Ferro, Maio 2007
- Casa da Cultura Dr. César de Oliveira, Oliveira do Hospital, Junho 2007
- Livraria Apolo, Oliveira do Hospital, Julho 2007
- Lagar Vale dos Amores, Ervedal da Beira, Agosto 2007

“Mo(nu)mentos da Vida”

- Lar de Ervedal da Beira, Novembro 2007
- Vale do Ferro, Julho 2008

“Cantos Encantos”

- Livraria Apolo, Oliveira do Hospital, Março 2008
- Vale do Ferro, Julho 2008
"Ligações" - ver post de 04 de Março de 2010
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Foto sem título. Nem precisa. O mundo em que vivemos é feito de pequenas verdades.

Fotos de Herman Mertens, com utilização sujeita a autorização do autor.

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