domingo, 16 de agosto de 2009

Fausto Sampaio - Viagem ao Oriente

Fausto Sampaio, auto-retrato


Fausto Sampaio e Tavares Correia

A notícia de uma grande exposição de pinturas e desenhos de Fausto Sampaio na Galeria Sul do Museu da Fundação Oriente, para além do interesse plástico da sua pintura e do tema unificador das 60 obras expostas (“Viagens no Oriente”), lembrou-me a sua amizade com o pintor senense Tavares Correia – que se manteve até à morte de Sampaio (Lisboa, 1956). Mas o que tinham em comum estes dois artistas, o primeiro natural da Anadia (Alféolas, 4 de Abril de 1893) e o outro nascido em Seia (5 de Dezembro de 1908), para além do gosto pelas artes?

Ambos surdos-mudos (Fausto Sampaio em consequência de uma incapacidade auditiva aos 22 meses e Tavares Correia de nascença), conheceram-se e tornaram-se amigos no Instituto de Surdos-Mudos da Casa Pia de Lisboa. Quinze anos mais velho, Sampaio foi mesmo o primeiro pensionista do Instituto e Tavares Correia entrou em 1918 com o nº 15.

Juntos realizaram a instrução primária e iniciaram a sua aprendizagem técnica e artística sob orientação de Augusto de Campos. Prosseguiram estudos de desenho e pintura da Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde Fausto Sampaio expôs pela primeira vez em 1929.

Nesse mesmo ano, rumaram juntos a Paris, para desenvolverem a sua técnica de pintura e tentarem a sorte nas selectivas exposições colectivas do principal centro artístico internacional. Acabaram ambos a representar Portugal (com outro jovem pintor português, Carlos Botelho) no prestigioso Salon de Paris, após estudos orientados por Pierre-Paul Lourens e Émile Renard (Fausto Sampaio) e Lyon Arno (Tavares Correia).

De regresso a Portugal realizaram a sua primeira exposição individual em Lisboa, com assinalável sucesso. Fausto Sampaio, logo em 1930, saudado pelo público e pela crítica. Tavares Correia só em 1932, com assinalável sucesso – vendeu todas as 43 obras expostas e a crítica considerou-o “uma revelação no meio artístico português”.

Depois, os seus percursos divergiram. Tavares Correia optou por ficar na sua terra natal, comprometendo uma carreira artística nacional, e entrou para o gabinete técnico da Câmara Municipal de Seia, onde foi, durante décadas, o desenhador mais qualificado. Continuou a pintar e a expor até Agosto de 2000, tendo falecido a 21 de Setembro de 2005, no Hospital da Universidade de Coimbra, a poucos dias do seu 97º aniversário. Fausto Sampaio dedicou-se sobretudo à pintura paisagista, distinguindo-se na interpretação da luz. Captou exemplarmente a atmosfera das terras do Vale do Vouga e do Alto Douro, mas ficou conhecido sobretudo pela tradução do colorido e do clima das paisagens africanas e orientais, assim como pela sua interpretação do exotismo das gentes, usos e costumes de terras distantes. Sobretudo nos anos 30 e 40, construiu uma obra centrada na grandeza heterogénea do então território português, que lhe valeu o título de "Pintor do Ultramar Português” e mesmo de “Pintor do Império". Tavares Correia, por seu lado, ficou conhecido como “Pintor da neve” (jornal “República”, Janeiro de 1934).

Por ocasião do centenário do nascimento de Fausto Sampaio, em 4 de Abril de 1993, Tavares Correia esteve presente na homenagem que a Câmara Municipal de Anadia prestou ao ilustre filho da terra. A cerimónia contou com a presença de Maria Barroso Soares, esposa do Presidente da República.

Sobre Fausto Sampaio, escreveu Fernando de Pamplona: “Verdadeiro pintor do nosso Ultramar nunca esquecido, fez-nos sentir, em suas telas de viva palpitação cromática, o encanto, o sabor, o sortilégio dessas terras espalhadas pelo vasto Mundo” (1) - sentimentos evocados na exposição que decorre no Museu do Oriente até ao dia 27 de Setembro.

Tavares Correia com a viúva de Fausto Sampaio, D. Maria José Sampaio - Anadia, 4 de Abril de 1993


Tavares Correia com a filha de Fausto Sampaio, Drª Teresa Sampaio, que foi Secretária de Estado do governo de Sá Carneiro - Anadia, 4 de Abril de 1993.

Fontes:
Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, (1) volume V, pág. 122.
Dicionário de Autores Casapianos, Biblioteca-Museu Luz Soriano/Ateneu casapiano, de António Bernardo e José dos Santos Pinto.
Catálogo da exposição anual de Tavares Correia, Dezembro de 1993.

Sem comentários: