segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ARTE NO METRO

Jovens artistas nos bilhetes de Metro

O novo projecto (1) do Metro do Porto e o Metropolitano de Lisboa designa-se “Próxima Paragem Cultura” e pretende dar a conhecer ao grande público 20 obras de pintura, desenho e fotografia de jovens artistas nacionais. Foi apresentado no dia 9 de Setembro na Estação de Metro de S. Bento, no Porto, com a presença da secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
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Numa primeira fase, com início em Outubro, serão divulgadas 5 obras dos artistas Ana Sério, Domingos Loureiro, Joana Rego, Mónica Oliveira e Pedro Pires, através de imagens reproduzidas nos títulos de viagem e nos placards electrónicos das estações. Os restantes artistas serão seleccionados por uma Comissão de Arte e Cultura do Metropolitano de Lisboa, presidida por Salvato Telles de Menezes - Administrador-Delegado da Fundação D. Luís.

A divulgação de conteúdos através dos bilhetes de Metro é uma novidade em Portugal mas já foi testada noutros países. No entanto, é a primeira vez que se recorre a bilhetes de transporte para promover jovens artistas.

E porquê estes artistas e não outros? Uma possível resposta a esta pergunta pode ser encontrada num texto de Salvato Telles de Menezes, publicado a propósito de uma exposição de Ana Sério (2):

“(…) Há artistas assim. Artistas que gerem a sua carreira no estrito quadro das linhas de força muito precisas, rigorosas, em que a discrição atinge um valor central, inviolável. Agem metodicamente, desenvolvem as suas buscas estéticas, plasmam as suas ideias em tela, papel ou outro suporte qualquer, no refúgio dos seus locais de trabalho, sem desvios oportunistas, sem estarem preocupados com benefícios alheios às suas próprias exigências intelectuais e à obrigação que sentem de se exprimirem libertos de quaisquer constrangimentos sejam eles desta ou daquela índole. São seres delicados, frequentemente ariscos e inseguros, um pouco desatentos à necessidade, imposta pela sociedade de consumo actual, de se exporem ao reconhecimento público. (…)”
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Já agora, uma curiosidade: em 2007, apareceram no blogue wishes-heros uma série de desenhos que o jovem ilustrador Ricardo Rodrigues (“Desejos de Natal”, da Civilização) ia fazendo nos bilhetes durante as viagens de Metro. A 18 de Maio de 2007, Paula Costa deixou o seguinte comentário:

“Esses bilhetes do metro são o máximo! Se os senhores do metropolitano te "apanham" ainda te pedem para fazer o novo design dos mesmos!!”

Parece que alguém aproveitou (?) a ideia. Mais de dois anos depois, foram “apanhados” – para já – os artistas Domingos Loureiro, Joana Rego, Pedro Pires, Mónica Oliveira e Ana Sério. Ricardo Rodrigues será um dos próximos?

Simples e efémeros, os bilhetes de Metro entram agora (em Portugal) na lista de suportes alternativos de promoção, juntando-se os selos de correio, caixas e carteiras de fósforos, pacotes de açúcar, calendários de bolso e cartões telefónicos - que são hoje típicos objectos de colecção (3).

Mas quem são os 5 artistas seleccionados para inaugurar a “colecção de arte” nos bilhetes do Metro “Próxima Paragem Cultura”?

Ana Sério nasceu em Oeiras em 1976. Licenciatura em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa (2001-2002). Mestrado em Pintura na Norwich School of Art and Design, Inglaterra.
Participou em diversas exposições colectivas desde 1998. Entre as várias exposições individuais que realizou, destacam-se as da Galeria Barata (Prémio de Pintura João Barata, 2001, e “A Forma das Cores”, 2004), a MA FA Exhibition 2002, na Norwich School of Art e Design, e na Galeria Municipal Paços do Concelho de Torres Vedras (2006).
Distinguida com o Prémio de Pintura João Barata em 2000 e com o Prémio Artur Bual em 2005, a artista recebeu Menções Honrosas no Salão de Primavera do Casino Estoril em 2002 e 2003, no Prémio Fundação Marquês de Pombal em 2003 e 2005, e no Prémio D. Fernando II da Câmara Municipal de Sintra em 2004.

Domingos Loureiro nasceu em Valongo em 1977. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (1996 a 2001). Em 2001, frequentou a Kunst Akademy em Karlsruhe, Alemanha. Mestrado de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Começou a expor em 1998, em mostras colectivas, tendo participado na ARCO de Madrid e na Feira de Arte de Basileia, através da galeria Plumba, de Madrid, e da Galeria 24B, de Oeiras. Expôs individualmente em Ermesinde, Sintra, Braga, Porto, Oeiras.
Prémios: Prémio Sousa Pinto – Artvallis, 1999 e 2001; Prémio de Revelação D. Fernando II, 2003; Prémio de Pintura D. Fernando II, 2004.
Realiza trabalhos de grande dimensão, em Mdf escavado, que funcionam como “grandes matrizes de xilogravura” com “um aspecto próximo de objectos cerâmicos e de design relegando para segundo plano a imagem”, permitindo o contacto táctil do público com a obra de arte.

Joana Rêgo nasceu no Porto em 1970. Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto (1995). Mestrado em Pintura no San Francisco Art Institute, EUA (1999). Doutoramento pela Universidade de Vigo / Pontevedra e ESAP.
Pintora e Professora do Ensino Superior, expõe colectivamente desde 1993, tendo participado em várias edições da ARCO de Madrid (1999 a 2004) através da Galeria Fernando Santos. Realizou a sua primeira exposição individual em 1996, na Cooperativa Árvore, tendo exposto depois em Amarante, San Francisco (EUA), Vila Nova de Cerveira, Porto, Roterdão (Holanda), Lisboa, Olhão, Vigo (Espanha), Viana do Castelo, Guimarães, Aveiro.

Mónica Oliveira nasceu no Porto em 1971. Vive e trabalha actualmente no Porto. Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (1994). Doutoramento em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Salamanca (2000).
Entre 1995 e 1996, foi bolseira do Ministério dos Negócios Estrangeiros e, de 1996 a 1999, do Ministério da Educação - Gabinete de Gestão Prodep.

Pedro Pires nasceu em Luanda em 1978. Reside e trabalha actualmente em Albarraque. Licenciado em Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2005). Em 2004, frequentou em Atenas a escola superior de artes Anotati Scholi Kalon Texnon como bolseiro do programa Erasmus.
Autor da escultura pública “Homem Muralha”, no Parque das Nações, Lisboa (2008), foi distinguido com uma Menção Honrosa na X Edição do Prémio D. Fernando II, em 2008.
Participou em várias exposições colectivas e projectos em diversos pontos do país. Entre as suas exposições individuais, destacam-se: “Desenhos de Pólvora” (Oeiras, 2007); as exposições na Galeria Arte Periférica (Lisboa, 2007 e 2008); “Gunpowder Men” (Galeria Designersdotgallery, Atenas, Grécia, 2008); “Habitar” (Centro Cultural Mestre José Rodrigues, Alfândega da Fé e Braga, 2008).

(1)-Tal como acontece noutros países, alguns deles com mais e melhores tradições artísticas, o Metro nacional tem concedido um importante espaço de divulgação à arte e aos artistas portugueses, sobretudo nos amplos espaços das estações de Metro, “intrometendo” diversas propostas artísticas no quotidiano das duas maiores cidades do nosso país. No entanto, essa ligação às artes tem privilegiado artistas consagrados.

(2)- Galeria Municipal dos Paços do Concelho de Torres Vedras, 14 de Setembro a 13 de Outubro de 2006.

(3)-Sem esquecer que podem ser igualmente reutilizados para habilidades mais ou menos artísticas, como fizeram em 2007 os funcionários do metro de Osaka - ou o ilustrador Hubert de Lartigue, que explica no seu site como fazer origami com bilhetes de Metro.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Casa das Histórias - o "museu" de Paula Rego

A Casa das Histórias, o primeiro museu dedicado à obra de Paula Rego, tem inauguração marcada para o dia 18 de Setembro de 2009, às 18 horas.

O espaço projectado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura receberá mais de uma centena de obras da artista e do seu falecido marido, Victor Willing.

Ver fotos da Casa das Histórias (Avenida da República, Cascais).

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Emília Nadal homenageada em Lamego


Inserido na dinâmica do primeiro festival de cinema Douro Film Harvest, decorreu nos dias 12 e 13 de Setembro, em Lamego, um encontro multidisciplinar de artes, o “Plast&Cine”.

Organizado pela Câmara Municipal de Lamego, em parceria com as Edições Cão e participação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, o encontro homenageou Emília Nadal. Algumas das obras produzidas pela artista ao longo de décadas, desenho, pintura e objectos, foram reunidas numa exposição com curadoria de Dalila Rodrigues (1) e reinterpretadas por alunos da FBAUP em intervenções de arte pública.


As obras patentes ao público no centro histórico de Lamego inspiram-se no trabalho desenvolvido por Emília Nadal nos anos 70 (talvez a fase mais interventiva da artista, veiculando uma crítica implacável à sociedade de consumo) mas apelando à promoção e consumo de produtos regionais. Por exemplo, a bôla (“bolla heart”) com imagem da “Pizza Hut” – entre vinte “embalagens” gigantes cuja presença e conteúdo comunicativo alterou por completo o quotidiano dos lamecenses, ainda mal recuperados das Festas da Nossa Senhora dos Remédios, que terminaram a 9 de Setembro.

A obra "Slogan's" (1979), na exposição Serralves 2009: A Colecção (30 MAI-05OUT 2009)

Emília Nadal nasceu em Lisboa em 1938, com ascendência catalã por parte do pai. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde se licenciou em Pintura em 1960.

Admiradora de Almada Negreiros, não seguiu tendências, explorando temas e técnicas do seu exclusivo interesse, como deveria fazer qualquer artista. Em grande parte por esta razão, manteve-se à margem do mercado de arte, orientando a sua vida profissional para outras áreas da Cultura, sendo actualmente directora do Museu de Belas Artes de Lisboa e presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Foi uma pintora “figurativa numa época em que o abstracto estava muito em voga entre nós” (Manuel Rio-Carvalho, 1986), sendo depois considerada uma pintora “abstracta ou abstractizante de estilo Pop” (Fernando de Pamplona, 1988), “Filtrada, é óbvio, pela sensibilidade de uma pintora que não se deixaria aprisionar por completo, nem para sempre, por nenhuma dessas doutrinas ou experiencias, por muito libertadoras que fossem” (Yvette Centeno, 2006).

Nos anos 70, entregou-se fora de tempo à arte Pop, interpretando os artistas americanos no contexto europeu, mais elaborado e filosófico, enveredando pela crítica ao consumo das ideias, denunciando o poder encantatório e manipulador da publicidade através de slogans irónicos, “em metáfora irónica, em lúcida mas amena expressão anedótica de tom doméstico” (Fernando Pernes). Foi, segundo a própria artista, o período mais importante da sua obra (2), destacando-se nesta fase a sua exposição no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, intitulada «Embalagens para Produtos Naturais e Imaginários Liofilizados». São também da década de 70 as suas fases “Paisagens imaginárias” (1974-76) e “Ovnis” (1976-78).

Desde o início dos anos 80, desenvolveu o tema da paisagem (“Paisagens oblíquas”), num regresso “se não ao espírito, pelo menos ao sentimento da paisagem” (Bernardo Pinto de Almeida, Colóquio-Artes, Março de 1983).

Em cerca de 50 anos de actividade artística, dedicou-se à pintura, desenho, gravura, objectualismo e cenografia para teatro e ballet (Ballet Gulbenkian, Teatro Nacional D. Maria II e ACARTE). É autora do mural no exterior da Biblioteca João Paulo II, em Lisboa. Foi ainda bolseira da Fundação Gulbenkian para investigação em artes visuais, sendo autora de diversos ensaios e artigos sobre educação estética e ensino artístico.

Participou em numerosas exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro. Realizou diversas exposições individuais em Lisboa, Porto, Coimbra, Vila Real, Évora, Funchal, Macau, Madrid e Paris.

Prémios: Prémios Anunciação e Lupi de Pintura, Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa; XVIº Prémio de Desenho Joan Miro, em Barcelona.

Encontra-se representada nas colecções do Museu de Arte Moderna de Serralves, do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, da Galeria de Arte Contemporânea do Funchal , Colecção Berardo, CGD, BCP, e outras colecções particulares.


Notas

(1) - O envolvimento de Dalila Rodrigues na homenagem a Emília Nadal em Lamego, sendo compreensível não deixa de ser curiosa. Doutorada em História da Arte pela Universidade de Coimbra (especialização em História da Pintura Portuguesa), Dalila Rodrigues dirigiu o Museu de Grão Vasco, em Viseu, desde 2001 a 2004, sendo responsável pela renovação e revitalização deste importante espaço de Cultura. Afastada do cargo, foi logo depois nomeada directora do Museu Nacional de Arte Antiga pela ministra Maria João Bustorff, do PSD. No MNAA, angariou prestígio (organizando grandes exposições e as festas da Noite dos Museus, para além de captar importantes mecenatos) mas foi demitida em Agosto de 2007 pela ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima (PS), após criticar o modelo de gestão dos museus, sem autonomia financeira e administrativa. A demissão da directora do MNAA teve enorme repercussão política e esta foi prontamente colocada na Casa da Música, como responsável pela Direcção de Comunicação, Marketing e Desenvolvimento da Fundação Casa da Música, cargo até então desempenhado por Guta Moura Guedes, directora da bienal Experimenta Design. Dalila Rodrigues foi também a responsável pela exposição das obras de Paula Rego no "Museu" Casa das Histórias, a inaugurar brevemente em Cascais. Enfim,… curiosidades do mundo dos museus e não só. Resta acrescentar que o Museu de Grão Vasco continua sem director próprio, sendo orientado em acumulação pelo director do Museu de Lamego.

(2) - "Foi a fase das embalagens para produtos imaginários. A minha ideia era de que tudo era passível de ser consumido", recordou, contando que "havia de tudo", desde "detergente para lavagem ao cérebro" a "discursos políticos em flocos" e "Algarve enlatado". (JN 03/09/2009)

Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Fernando de Pamplona, vol. IV, Civilização, 1988.

sábado, 12 de setembro de 2009

PAULA REGO E "LES PLANCHES COURBES"

Em Setembro e Outubro, a Galeria 111 mostra em Lisboa (10 de Setembro a 7 de Novembro) e no Porto (19 de Setembro a 31 de Outubro), um conjunto de gravuras de Paula Rego, datadas de 2009, algumas das quais inspiradas na obra de Yves Bonnefoy, "Les Planches courbes".

As gravuras, a água-tinta e água-forte, inserem-se na obra gráfica da artista portuguesa radicada em Londres desde 1979. Ver o resumo da biografia de Paula Rego da autoria de José Eduardo de Almeida.
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A mostra junta-se a diversas outras iniciativas nacionais em torno da obra de Paula Rego e a propósito da inauguração da Casa das Histórias, o museu dedicado a Paula Rego em Cascais, cuja inauguração ocorre a 18 de Setembro. Localizado na Avenida da República, o espaço projectado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura vai ser inaugurado com a presença do Presidente da República, Cavaco Silva, e da artista.

A Galeria 111 foi fundada em 1964 por Manuel de Brito (1928-2005), sendo a mais antiga galeria de arte aberta ao público em Portugal e uma galeria de referência no percurso artístico de Paula Rego – e de outros artistas que Manuel de Brito ajudou no início das suas carreiras. Como é sabido, a actual galeria de Paula Rego é, desde 1989, a Malborough Fine Art de Londres.
A propósito, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais apresenta em Bragança, até 15 de Outubro de 2009, a exposição "Paula Rego Na Colecção Manuel de Brito.

Deve-se também a Manuel de Brito a criação da Associação Portuguesa de Galerias de Arte, em 1989, e a "conversão" do empresário Joe Berardo à arte moderna, facto que esteve na origem da colecção Berardo, parcialmente exposta no Centro Cultural de Belém. Após o desaparecimento do galerista, a 111 passou a ser dirigida pelo seu filho, Rui de Brito.
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Yves Bonnefoy nasceu em Tours, em 1923. Em 2001, publicou "Les Planches Courbes" (ed. Mercure de France), livro que reune poemas escritos entre 1996 e 2001 : Jeter des pierres (1996) ; L'Encore aveugle (1997) ; Les Planches courbes (1998) ; La Pluie d'été (1999) ; A Même rive (2000) ; La Voix lointaine (2001).

O título exprime a ideia de barco (tábuas curvas) e de passadiço (pranchas encurvadas pelo uso/peso dos passantes), no contexto do poema que dá o título ao livro, mas também pode ser visto como um oximoro - a expressão de uma contradição, na qual "os conceitos vulgares perdem a sua nitidez e é possível uma conciliação de contrários" (1).

O poema em prosa "Les Planches Courbes" fala de uma criança que atravessa um rio na barca de passagem. Reescrevendo o mito de São Cristóvão, o autor coloca a criança nas costas do barqueiro quando o barco começa a afundar-se.

A visão pós-moderna de Yves Bonnefoy inclui o extraordinário e os sonhos mas centra-se na morte dos grandes ideais, como Deus, o Homem e a Arte. Perdidas estas referências, o autor esboça tentativas de regresso à inocência, à infância – um percurso de inquietudes, e não apenas de memórias, que dão também forma e força a muitas obras da Paula Rego da fase iniciada com "A Menina e o Cão" (acrílico s/tela, 1986), após ter realizado pesquisas sobre contos infantis,nos anos 70, como bolseira da Fundação Glubenkian.
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Para Bonnefoy, a infância é sinónimo de uma sabedoria para lá das palavras - "como a etimologia mostra, « l’enfant » é aquele que não fala" (2). Nas obras de Paula Rego transparece igualmente essa visão crua e quase cruel da infância e puberdade, um sofrimento silencioso que perturba profundamente o observador, colocado pela artista na incómoda posição de “voyeur”.

"Les Planches courbes" ainda não se encontra traduzido em português, mas já existe em espanhol: “Las Tablas Curvas”, Ediciones Hiperion, 2003.

– Dicionário de Literatura, Figueirinhas / Porto, 4ª edição, 1989, pág. 779.

domingo, 6 de setembro de 2009

JOÃO VIEIRA (1934-2009)

Ontem (05 de Setembro), faleceu em Lisboa o pintor João Vieira, aos 74 anos, devido a problemas pulmonares após uma operação ao coração, realizada no dia anterior.

João Vieira não era um pintor mediático, sendo conhecido sobretudo por ser um dos fundadores do grupo KWY (1) e pela sua característica pintura de letras (alfabetos) e números, desde 1959. Trabalhou ainda versos de poetas como Cesário Verde e Herberto Helder. Segundo ele próprio explicou em 2006, “queria fazer poemas com pintura”.

Para além dos alfabetos, abordou o tema do corpo em “Mamografias” (1981/82). Os seus trabalhos com espuma de poliuretano remonta ao início dos anos 70, tendo trabalhado como designer na FLEXIPOL (fábrica de espumas) em 1974 e 1975.

A sua irreverência, abertura ao novo e espírito criativo multidisciplinar, tiveram continuidade no seu filho, Manuel João Vieira, também ele artista plástico (sob pseudónimos diversos), vocalista dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita, para além de candidato à Presidência da República em 2001.


João Vieira era natural de Vidago, onde nasceu a 04 de Outubro de 1934. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

Em 1956, participou pela primeira vez numa exposição colectiva, integrado no grupo do café Gelo. Realizou a primeira exposição individual em 1959, na Galeria do Diário de Notícias, em Lisboa. Ver
exposições e obras.

Nesse mesmo ano, vai para Paris como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Na capital francesa, onde ficou até 1961, foi aluno de Henri Goetz e trabalhou com Arpad Szenes.

Regressou a Lisboa em 1962, para leccionar Pintura na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1962-64). Em 1965, parte para Londres, tendo leccionado durante um ano no Maidstone College of Art, em Londres.

Regressado definitivamente a Lisboa em 1967, dedicou-se à cenografia de teatro, pintando e expondo regularmente. Recebeu vários prémios de cenografia (1968 – Prémio do Círculo do Teatro Latino de Barcelona, 1971 – Prémio Nacional de Encenação).

Leccionou no IADE (1971), no Conservatório Nacional (cenografia, 1978-79) e na SNBA (1980).

Em 1985, a Fundação Calouste Gulbenkian evocou os seus “25 Anos de Trabalho (1959-1984) com uma importante exposição. Em Abril de 2001, o Centro Cultural de Belém recordou o pioneirismo do grupo KWY.

(1) - Em 1959, em Paris, juntamente com René Bertholo, Lourdes Castro, José Escada, Gonçalo Duarte, Christo e Jan Voss.


João Vieira - Painel do Infante, 1987