segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Rita Portugal - ponte entre Mundos

"Hora de Visita", Hospital Júlio de Matos, 2003

Rita Portugal Lima é uma das artistas portuguesas contemporâneas com mais e melhor presença no extremo oriente e uma série de exposições interessantes em Portugal.

Com uma obra diversificada, abordando articuladamente problemáticas nacionais / europeias e orientais, e cujo fio condutor liga a pintura, materiais reciclados, objectos e manipulação de imagens, Rita Portugal faz realmente a ponte entre mundos.

Sem esquecer a sua formação de escultora, a artista aborda com grande versatilidade as mais diversas áreas das artes plásticas, numa constante experimentação (materiais, técnicas, soluções), por vezes em acções espectaculares.

Em Maio de 2009, a Casa de Portugal organizou em Macau uma exposição representativa da obra desenvolvida por Rita Portugal nos últimos três anos, intitulada “Percursos”. A mostra reuniu cerca de cem peças, muitas delas sobre Macau, divididas em quatro temáticas. As obras mais recentes, sobre o tema do “Tarot” / Misticismo, foram realizadas a partir de manipulações de imagens obtidas por scanner e já tinham sido expostas em Xangai.

O segundo núcleo da exposição permite rever trabalhos de 2007, nomeadamente fachadas de prédios de Macau, recorrendo a técnicas de computador e aplicação de cordas e cartão. O recurso a materiais reciclados combinados com a pintura serviu a Rita Portugal para abordar a temática das portas criando uma relação visual e poética com os livros.

A quarta temática da exposição abordava a culinária chinesa. Através de imagens manipuladas em computador, tintas acrílicas e alimentos reais conservados em resina, a artista recriou alguns pratos de buffet.

(2005)

Rita Portugal Lima

Nasceu em Lisboa.
Formada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2003).
Membro permanente da FIDEM - Fédération Internationale de la Médaille e da “Volte Face”.

Exposições individuais

“Percursos” – Casa de Portugal em Macau (Maio 2009);
"The door or the Space and Time Beteen You and Me". Tap Seac Square, Macau. Para o projecto “Great Wall of Books”, Welltheatre company e Instituto Cultural (Macau, 2007);
"Noisy Undiscovered Taste" – CCI - Creative Macau (Julho 2007);
"Ritmos Suspensos" - Livraria Portuguesa - IPOR (Macau, Abril 2007);
"simBiose" - Sala do Veado - Museu de História Nacional (Lisboa, Dezembro 2006);
"Hora de Re.creio" - Casa de Cultura D. Pedro V Gallery - Mafra, Portugal, October 2005;
"Vestígios" - Instituto Politécnico - Castelo Branco, Portugal, November 2005.
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Prémios
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Menção Honrosa (medalha) - "Prémio Dorita Castel-Branco" (Sintra, Outubro 2005); Menção Honrosa (medalha) – Prémio de Inovação da III Bienal Internacional da Medalha Contemporânea (Seixal, Novembro 2003)Menção Honrosa (Escultura) - VII Prémio D. Fernando II (Sintra, Setembro 2003).
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Exposições colectivas
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Divergence: Macao's Proposed Artworks for the 53rd Venice Biennale (2009)“Major Arcana” – Art World Project / Art Labor Gallery (Xangai, China, 2008) "Colectiva de Artes Plásticas", Centro de Indústrias Criativas de Macau (Macau SAR, China, 2006);"Arte Urbana para Intervenção", Mupi (Lisboa, 2005);"Arte no Feminino X", Galeria Municipal (Vendas Novas, 2004); "Prémio Thomas de Mello, III Biennal Artes Plásticas" (Nazaré, 2003);"Exposição Colectiva de Artes Plásticas", Faculdade de Belas Artes (Algés, 1998); "Texturas", Direcção de Serviços de Turismo (Macau SAR, China, 1995); "XII Exposição Colectiva de Artistas de Macau", Galeria do Leal Senado (Macau RAE, China, 1994);"Miragens", Galeria de Exposições da Casa Garden, Fundação Oriente (Macau RAE, China, 1994); "X Exposição Colectiva de Pintura dos Artistas de Macau", Instituto Português do Oriente (Macau RAE, China, 1993); "VII Exposição Colectiva de Pintura dos Artistas de Macau" (Macau RAE, China, 1991).
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Escultura
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Participação na "XXIX F.I.D.E.M (Seixal, Portugal, 2004); "ZART 21" - "Camas" - Hospital Júlio de Matos (Lisboa, Portugal, 2003); Prémio Dorita de Castel – Prémio Medalha Contemporânea (Sintra, Portugal, 2003); Exposição de pintura e escultura "ADN and the secrets of life" - Faculdade de Ciências (Lisbon, Portugal, 2003); "Prémio de Arte Salúquia" - Galeria Municipal de Arte (Moura, Portugal, 2003); "Exposição de Finalistas da Faculdade de Belas Artes da Universidade Técnica de Lisboa" - Lisbon University - Caxias, Portugal, 2003; "Zart 21" - Instalação - "Penetrações" - Casa do Castelo (Lisboa, Portugal, 2003); "New Ideas in Medallic Sculpture" (Nova Iorque, Filadélfia, Turku, Lisboa, 2003)"Prémio de Arte Salúquia" - Galeria Municipal de Arte (Moura, Portugal, 2002); "Medalia Rack & Humber Gallery" - New Ideas in Medallic Sculpture (Nova Iorque, Filadélfia, Nuremberga, Lisboa, 2002); Prémio Dorita de Castel – Prémio Medalha Contemporânea (Sintra, Portugal, 2002); XXVII FIDEM (Paris, France, 2002). Bienal Internacional da Medalha Contemporânea (Seixal, 2001); Exposição de Medalha Contemporânea, Faculdade de Belas Artes (Lisboa, 2001); X Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante (Lisboa, 2001); 2º Encontro de Medalha Contemporânea – Galeria Municipal Artur Bual (Amadora, 2001); Exposição colectiva de Medalhas, Galeria dos Escudeiros (Casa das Artes, 2001);Projecto Volte Face (Beja, 2001);XXVII FIDEM (Weimer, Alemanha, 2000).

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A primeira exposição individual de Hugo Canoilas realizou-se em Seia

Hugo Canoilas - Seia, 1994

A carreira artística de Hugo Canoilas, um artista português que concluiu a sua formação superior em Inglaterra e tem exposto em diversas cidades europeias, começa oficialmente em 2000, omitindo exposições anteriores. No entanto, gostaria de recordar aqui que a sua primeira exposição individual ocorreu em São Romão, Seia, em Fevereiro de 1994.

O jovem artista era, à data, aluno do Curso de Artes Visuais da Escola Secundária de Mafra - apesar de ser natural de Lisboa, cresceu e estudou em Mafra – e as suas obras distinguiam-se naturalmente, pela expressividade e cor das composições, numa exposição colectiva paralela à Exposição Nacional de Pintura Prémio Tavares Correia, realizada em Seia no final de 1993 (1).

Logo depois, a empresa de imagem e comunicação “Elenco”, de Mafra, através do Arquitecto Luís Conde, promoveu e organizou a exposição individual de estreia de Hugo Canoilas, realizada no Salão dos Bombeiros Voluntários de São Romão entre 12 e 26 de Fevereiro de 1994.


A mostra compunha-se de 15 pinturas (tinta da china e aguarela) sobre papel, a maior parte delas de grande formato (2), explorando a gramática expressionista em composições equilibradas de formas e cores vibrantes e dinâmicas, muito além do mero exercício escolar. “Gosto de pintar o movimento, o corpo, a paisagem”, escrevia o jovem artista no desdobrável da exposição. “Trabalhei muito as formas de ver. Trabalhei intensamente a face humana, a forma como os outros me viam. Agora trabalho a forma como os vejo, como sinto as coisas” (idem).

A listagem “oficial” de exposições de Hugo Canoilas omite todas aquelas em que participou até 2000, ano de conclusão da licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Tecnologia, Gestão, Arte e Design (ESTGAD) das Caldas da Rainha. As primeiras exposições registadas, datam desse mesmo ano: a exposição colectiva de final do curso e uma outra, com Martinha Maia, na Galeria dos 30 Dias (Caldas da Rainha).

Antes da primeira individual em São Romão, Canoilas participara em cinco exposições colectivas: em Mafra (Maio1991), Junta de Turismo da Ericeira (Novembro de 1992), Galeria de exposições temporárias da Câmara Municipal de Mafra (1993), a já referida Exposição Nacional de Pintura Prémio Tavares Correia (Seia, 1993) e na exposição “Os Novíssimos”, promovida pela Câmara Municipal de Mafra na Casa da Cultura D. Pedro V (Mafra, 1994).

Hugo Canoilas


Nasceu em Lisboa em 1977.

Licenciatura em Artes Plásticas pela ESTGAD, Caldas da Rainha.
MA (“Master of Arts”) em Pintura no Royal College of Art em Londres (2004/2006), com bolsa de estudo pelo Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian.
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Exposições individuais:

Paisagens, Certamen Explum (Puerto Lumbreras, Espanha, 2008); Endless Killing, Huarte Contemporary Art Center (Huarte - Navarra, Espanha, 2008); Labyrinth, Galeria Nosbaum & Reding (Luxemburgo, 2008); Peinture, Sculpture, Architecture, Politique, Galeria Quadrado Azul (Lisboa, Portugal, 2008); Un Poema Chino, Colégio Assuncion Jordan, Certamen Explum (Puerto Lumbreras, Espanha, 2007); Frankfurter Kunstverein (Frankfurt., 2007); Giefarte (Lisboa, 2007); Propaganda, Workplace Gallery, Gateshead/Newcastle – Reino Unido, 2006); Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio da Ajuda (Lisboa, 2006); A casa de meu pai, Project Room, Centro Cultural de Belém (Lisboa, 2005); Solitude, Assírio & Alvim (Lisboa, 2004); Galeria Lisboa 20 Arte Contemporânea (Lisboa, 2003); Margens, Galeria Municipal do Montijo (Montijo, 2003); Pinturas de Verão, Art Attack (Caldas da Rainha, 2001); Exposição (Caldas da Rainha, 2000).
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As acções (exposições, instalações, intervenções) artísticas de Hugo Canoilas possuem cumulativamente uma dimensão construtiva e uma dimensão expressiva, centradas no desenho como conceito e prática - e daí o re-desenho dos espaços, a paisagem, as perspectivas pouco usuais e até surpreendentes, os percursos condicionados pela re-pintura de objectos, ...). Títulos como "Na Vidraça há o Ruído do Universo" (exposição na Fundação Carmona e Costa, 2007) apelam para essa dualidade e lembram que a representação é sempre uma reinterpretação do real, seja em que escala for: geográfica, arquitectónica, antropométrica, sensorial, ... histórica, filosófica, moral. Em minha opinião, a sua obra com mais impacto - pela natureza do tema, dimensões físicas da obra e grandiosidade do desenho - é a instalação mural / pintura sobre papel intitulada Endless Killing , realizada expressamente para o espaço do Centro de Arte Contemporâneo de Huarte (Navarra) e aí exposta entre 01 de Março e 01 de Junho de 2008. Sem preconceitos, a obra destaca o papel da violência na evolução e progresso da Humanidade, despoletando múltiplas reflexões socialmente confrangedoras e a incomodidade do observador perante a evidência acusatória do "Assassínio Sem Fim".

Hugo Canoilas participou em diversas exposições colectivas em vários países europeus e encontra-se representado nas colecções da Fundação Carmona e Costa, Centro Cultural de Belém, Caixa Geral de Depósitos, PCR (Pedro Cabrita Reis) Collection, Budapest Galeria, Associação Nacional de Jovens Empresários, Fundação PLMJ, Câmara Municipal de Loures.

Em 2001, foi premiado na Jov'arte, Loures, com o 1º Prémio de Fotografia e, no ano seguinte, recebeu o Prémio Francisco Wandschneider, atribuído no Porto pela ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários.

(1)- Que organizei no âmbito dos Encontros de Arte’93 para a Escola Evaristo Nogueira, entre 20 de Novembro e 12 de Dezembro de 1993.
(2)-Oito com dimensões entre 50 e 100 cm, na sua menor e maior dimensão, três com 50X35 cm e as restantes em formato A3.

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

RON MUECK

O genro australiano de Paula Rego
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Mask II (2001-02) - Ron Mueck

Nascido na Austrália (Melbourne, 1958), o escultor Ron Mueck vive e trabalha na Grã-Bretanha, sendo conhecido internacionalmente pelas suas esculturas hiper-realistas (realismo fotográfico, fotorrealismo), reproduzindo o corpo humano com grande detalhe mas jogando com a escala para obter desconcertantes efeitos visuais: bebés e crianças gigantescas, homens e velhinhas minúsculas, gigantes tímidos, …

Mueck começou por trabalhar como construtor de modelos e de bonecos para filmes e programas de TV (com Jim Henson). Estabeleceu-se depois em Londres, onde criou uma empresa de fotografia e animações para a indústria da publicidade.

Em 1996, iniciou-se nas belas artes pela mão da sua sogra, Paula Rego. Coube a Mueck produzir as figuras que integravam a exposição da artista portuguesa na Hayward Gallery e foi ela quem apresentou o genro a Charles Saatchi, que apoiou e divulgou o seu trabalho. Deve-se a Saatchi parte do sucesso da escultura “Dead Dad” (1996-97), que tornou Mueck famoso. Nesse trabalho, o escultor reproduziu o corpo do pai nu em silicone, a uma escala reduzida (dois terços do tamanho real). Para um maior realismo e identificação com a escultura, utilizou algum do seu próprio cabelo.

A partir de então, as suas esculturas são sucessos garantidos. Em 1999, a sua escultura “Boy”, representando com todo o realismo um rapaz com cinco metros de altura, foi apresentada na Millennium Dome (a fantástica estrutura arquitectónica construída em Greenwich, Inglaterra, para a passagem do Milénio) e depois na Bienal de Veneza.

Em 2007, o Museu de Arte Moderna de Fort Worth (Texas, EUA) exibiu 30 obras de Ron Mueck, incluindo as famosas esculturas “Untitled” (Mulher Sentada) (1999), Dead Dad (1996-97), In Bed (2005), Untitled (Gigante) (2000), Two Women (2005), Crouching Boy in Mirror (1999-2000), Spooning Couple (2005), Mask II (2001-02), Mask III (2005), Wild Man (2005), e “A Girl” (2006).

Em 2008, Ron Mueck realizou a sua primeira exposição no Japão (21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa), após grandes exposições na Grã-Bretanha, EUA, Canadá e França.

Links:
Ver obras de R.M. em energiaradiante.wordpress.com
Ver obras de R.M. em washingtonpost.com - 29/12/2005
http://en.wikipedia.org/wiki/Internet_Movie_Database
http://www.creativepool-compensis.de/mood_art/mueck.html

Mais uma grande tarde de inaugurações simultâneas na Miguel Bombarda

Circuito Cultural Miguel Bombarda
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A Rua de Miguel Bombarda tornou-se definitivamente o centro artístico portuense, promovendo regularmente inaugurações simultâneas de exposições nas quase trinta galerias de arte instaladas no quarteirão, novas colecções nas lojas de design e moda, tudo condimentado com muita animação e intervenções artísticas nas ruas e no CCB – Centro Comercial Bombarda.

A iniciativa realiza-se há uma década (1), sempre num sábado à tarde, a partir das 16 horas. Atenta ao fenómeno, a Câmara Municipal do Porto decidiu apoiar o meritório esforço de galeristas e lojistas da zona, baptizando o acontecimento como “Circuito Cultural Miguel Bombarda”. A sétima "BOMBARDA" de 2009 (2) decorreu no passado dia 07 de Novembro. No mesmo dia, pelas 15.00 horas, foi lançada na Livraria Leitura (3) a revista “bombart”nº 06, de Novembro/Dezembro 2009 (4).

Pouco depois das 16 horas, a rua e as galerias começaram a encher-se de gente. Enquanto uma troupe de palhaços despertava risos e colhia aplausos ao longo da rua, as galerias propunham os seus artistas e respectivos projectos, muito diversificados, criativos e estimulantes:

Cirurgias Urbanas: ilustração de Cristina Furtado – “Todas Elas Têm Uma História”. Até 20 de Janeiro de 2010.
Esteta7: Júlia Pintão – “Do(o)r”. Até 16 de Janeiro de 2010.
Franchini’s Galeria: colectiva de 130 artistas brasileiros e convidados (portugueses e alemães) – “Pequenas Grandes Obras – Digital”. Até 31 de Dezembro.
Franchini’s Galeria: Manuel Gio – “Crianças Indigo”. Até 31 de Dezembro.
Franchini’s Galeria: Muchagata – “Paisagem Interior”. Até 31 de Dezembro.
Franchini’s Galeria Sala Oficina 2000&5: pintura de Fernando Durão – “Magia de duas Fronteiras”. Até 31 de Dezembro.
Galeria Alvarez: Catarina Machado – “Translation Movement”. Até 10 de Dezembro.
Galeria Artes Solar Stº António: colectiva de pintura e escultura – “Questão de estilo”. Até 31 de Dezembro.
Galeria Arthobler – Porto: Pio Silva – “The New Normal”. Até 5 de Dezembro. www.arthobler.com
Galeria Fernando Santos: Group Show - Gerardo Burmester, Pedro Cabrita Reis, Patrícia Garrido, José Loureiro, João Louro, Pedro Quintas, Rui Sanches.
Galeria Fernando Santos – Project Room: José Almeida Pereira – “Olhar Amplo”. Até 23 de Dezembro.
Galeria João Lagoa: desenho de António Gonçalves. Até 30 de Novembro.
Galeria da Miguel Bombarda: Pinto Pereira – “Homem Tijolo”. Até 30 de Dezembro.
Galeria Presença: Mafalda Santos – “One day every wall will fall”. Até 16 de Janeiro 2010.
Galeria Quadrado Azul – desenho e fotografia de Pedro Tropa – “Travessia. Evidência. O Monte Rosa”. Até 18 de Dezembro.
Galeria Serpente: Pedro Constantino – “All the imperfect things”. Até 22 de Dezembro.
Galeria Simbolo: Maria Paredes – “Fios de Tempo”. Até 12 de Dezembro.
Galeria Trindade: Rui Coutinho – “Europetour”. Até 15 de Dezembro.
Mariana Jones: projecto de Célia Machado, Filipa Guimarães, Ilídio Candja, Isabel Monteiro, Maurizio Lanzillotta, Mónica Oliveira e Nuno Machado – T6+1. Até 30 de Dezembro.
Por Amor à Arte Galeria Seara. Até 5 de Dezembro.
Reflexus – Arte Contemporânea: Carlos Noronha Feio – “Tentando alcançar o ponto zero”. Até 2 de Dezembro.
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As exposições decorrem nos espaços referidos, com diferentes horários (consultar sites das galerias) até Dezembro, sendo de supor que haverá novas inaugurações simultâneas e festa na Miguel Bombarda em Janeiro de 2010.

E em Lisboa?

Na capital, realiza-se anualmente uma iniciativa do género, a Príncipe Real Live, que decorreu entre 05 e 08 de Novembro e contou, este ano, com a inauguração da Casa Décor 2009. Esta feira reune cerca de 50 artistas (decoradores de interiores, artistas plásticos, designers, arquitectos) e caracteriza-se por ter tudo à venda, desde o mais pequeno objecto até ao próprio palacete (dois milhões de euros) que alberga o certame. Isabel Sá Nogueira, Margarida Bugarim e Pedro Canoilas contam-se entre os artistas representados este ano.

A Príncipe Real Live resulta de parceria entre os lojistas da Praça do Príncipe Real, Rua D. Pedro V e Rua da Escola Politécnica.

(1)-Em 1996, Fernando Santos mudou a sua galeria de arte para a Rua Miguel Bombarda, entre a Rua de Cedofeita e o Palácio de Cristal. Dois anos depois, foi criado o Artes em Partes, a origem do movimento comercial e cultural. Nessa altura, havia cinco galerias na rua. Actualmente, o quarteirão acolhe noventa por cento das galerias portuenses.
(2)-As anteriores, tiveram lugar no dia 17 de Janeiro, 07 de Março, 18 de Abril, 06 de Junho, 04 de Julho e 19 de Setembro.
(3)-
Livraria Leitura - Rua de Ceuta, Porto.
(4)-A revista “bombart” é uma edição da Bienal de Vila Nova de Cerveira Projecto – Núcleo de Desenvolvimento Cultural, dirigida por Augusto Canedo, um artista ligado à Galeria Alvarez.


Rua Miguel Bombarda
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Tocador de realejo no CCB - Centro Comercial Bombarda
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Muchagata - "Paisagem Interior", Franchini's Galeria

Manuel Gio - "Crianças Indigo", Franchini's Galeria

T6+1 - Galeria Mariana Jones


T6+1 - Galeria Mariana Jones


Pinto Pereira - "Homem Tijolo", Galeria da Miguel Bombarda

Pinto Pereira - Galeria da Miguel Bombarda

Pedro Tropa - Galeria Quadrado Azul

Animação de rua
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Mafalda Santos - "One day every wall will fall"

Galeria Presença

Júlia Pintão - "Do(o)r", Esteta7

Galeria Arthobler

Pio Silva - pormenor de uma obra da exposição "The New Normal", Galeria Arthobler

Uma interessante colectiva ("Questão de estilo") na Galeria Artes Solar Stº António

Seara - Galeria Por Amor à Arte

Galeria Fernando Santos - Exposição colectiva

José Almeida Pereira - Project Room da Galeria Fernando Santos

Carlos Noronha Feio - Reflexus

Maria Paredes - "Fios de Tempo", Galeria Simbolo


Fim de tarde na Rua Miguel Bombarda

Este post aparece referenciado no 12º RPA, de Anjos Mendes.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A instrospecção transformativa nos desenhos de Ricardo Cardoso

Post actualizado em 23 de Julho 2010
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"Morro no Altar de Mim" - Desenhos de Ricardo Cardoso, Turismo Municipal de Almeida, de 01 a 29 de Julho 2010.
"Morro no Altar de Mim" - Desenhos de Ricardo Cardoso, Posto de Turismo de Seia/ARTIS IX, Maio/Junho 2010.
“Morro no Altar de Mim” – Desenhos de Ricardo Cardoso, Fábrica de Braço de Prata, de 5 a 29 de Novembro 2009.
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Post com uma referência no blogue seiaportugal.

Painel 1

Sob a temática da identidade e do corpo, a exposição do jovem artista senense na Fábrica Braço de Prata consta de 15 desenhos repartidos por 3 painéis, ao longo dos quais questiona sequencialmente os auto-conceitos de interioridade e de identidade através das máscaras e poses exteriores do corpo. O projecto "visa questionar o que somos e a introspecção que fazemos de nós próprios(1).

A construção da sequência narrativa, ao jeito da banda desenhada, parte do exterior para o interior, de fora (corpo, máscara) para dentro (espírito, intelecto) e termina com uma reacção libertária. “O corpo não é o mais importante, mas sim o que habita nele, é isso que mais interessa representar(1).

Painel 2

Esta temática tem sido explorada, nas suas múltiplas vertentes, por diversos artistas. Em certa medida pode até considerar-se uma característica do expressionismo, mas Ricardo Cardoso acrescenta à necessidade de libertação, a meu ver, uma certa necessidade de purificação. Nietzsche: “Os mais cuidadosos, hoje, perguntam: “Como se há-de preservar o homem?” Zaratustra, porém, é o primeiro e único a perguntar: “Como se há-de superar o homem?” (2).

Painel 3

No primeiro painel de 5 desenhos de “Morro no Altar de Mim”, vê-se o artista enquanto restaurador e conservador de Arte Sacra (3) ou em poses contemplativas. “Este Projecto surgiu da ideia de egocentrismo, andar em torno de si, e a dado momento vai existir uma quebra, um sair de si que coincide com o momento em que se constrói conhecimento a partir do exterior(4). No segundo painel de 5 desenhos, dá-se uma transformação, “o sair de si”, a descaracterização. Finalmente, no terceiro painel, a desfiguração e desindividualização atingem o auge e são-nos mostrados em grandes planos auto-retratos distorcidos, com expressões lupinas.

“Morro no Altar de Mim” compreende-se melhor enquanto corolário (por ser totalmente explícito) de um tema que Ricardo Cardoso vem tratando desde 2008. Como tudo o que faz sentido na arte – e na vida – resulta de uma renovada percepção dos labirintos interiores do Homem, uma viagem que se faz muitas vezes à beira do abismo. Abrindo a exposição, Ricardo Cardoso cita Fernando Pessoa: “De que te serve o teu mundo interior que desconheces? Talvez, matando-te, o conheças finalmente…Talvez acabando, comeces…”.

Num trabalho anterior, “Confronto” (2008), o artista toma consciência de que o seu corpo alberga mais que um ser, ele próprio (auto-retratado) e um estranho, reflectido no espelho. “O corpo é um espaço onde só habita um ser, neste caso pretendi colocar um corpo (o meu) onde estão mais que um ser ou forças opostas, espaço de confronto e de divisão, pondo em causa o equilíbrio psicológico da personagem, podendo levar á loucura. O confronto trata-se de um jogo trágico ao qual Nietzsche designou por um jogo entre as forças apolíneas e dionisíacas, estando sempre em confronto, ou se sobrepondo uma à outra(6). A personagem reflectida no espelho invade a série de desenhos, em poses delirantes, terminando “virada para nós com um ar agressivo e animalesco, mas não é para nós que está a olhar, é para dentro de si para o confronto de forças que estão a decorrer em si, que dificilmente entraram em concilio, poderá é haver o adormecimento de uma delas, deixando uma prevalecer. Essas forças espirituais são tão presentes que praticamente se exteriorizam, deixando assim o observador perceber o tormento deste ser(6).

Noutro trabalho de 2008, “Procura de uma liberdade”, o artista ensaiou uma libertação de si próprio ao longo de uma sequência de 19 desenhos. O artista sente-se repartido entre o seu ser interior e o ser que tem de dar ao exterior, e representa a sua “morte espiritual, para que possa sobreviver como técnico de restauro de arte sacra, e ter dinheiro para viver neste mundo materializado e capitalista. E desta forma poder trabalhar naquilo que gosto, embora tenha de esconder algumas partes de mim e alguns dos meus ideais, ou seja, tenho de ter duas caras(6). Ou duas identidades, à semelhança de certos super-heróis da banda desenhada, de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, do mito do lobisomem.

A intensidade dramática das poses contorcidas e expressões atormentadas nos desenhos de Ricardo Cardoso, cuja energia contida faz lembrar a série de Paula Rego da “Mulher Cão”, estão igualmente na linha dos “retratos imaginados” de Francis Bacon, seja como representação da introspecção transformativa da personagem, buscando o âmago da interioridade, seja para emitir em todas as direcções o alerta de que a parte do ser humano que nos habituámos a designar por espírito nada tem afinal de angélico – e nessa medida poderíamos evocar alguns trabalhos (7) dos anos 70 do artista suíço Urs Lüthi (n. 1947). Recordo ainda uma exposição organizada por Luís Serpa em 1990, “Je est un autre” (8) e o registo de uma obsessiva busca interior numa série de auto-retratos desenhados de Pedro Cabrita Reis na exposição “O Rosto da Máscara”, em 1995, no Centro Cultural de Belém (9).

Pedro Cabrita Reis - CCB, 1995


Ricardo Cardoso nasceu em Seia em 1982. Reside em Seia.

Licenciatura em Artes/Desenho na Escola Superior Artística do Porto – extensão de Guimarães (2009). Curso de Conservação e Restauro de Arte Sacra – Madeiras do Cearte, Coimbra.
Membro da Associação de Arte e Imagem de Seia e da ARGO – Associação Artística de Gondomar.

Foi homenageado pelos Artistas Senenses na ARTIS IX (2010).

Expôs individualmente no Turismo Municipal de Almeida (Julho 2010), na Galeria do Posto de Turismo de Seia - exposição integrada na ARTIS IX (Maio/Junho 2010), na Fábrica de Braço de Prata (Lisboa, Novembro 2009), no Restaurante Velho Minho, Povoa de Lanhoso (2008), Whisky Bar, Prado (2005), Casa Municipal da Cultura de Seia (2004), Posto de Turismo de Seia (2002 e 2004), Hotel de Gouveia (2003), e em bares - Conta-Gotas (Seia, 2002 e 2004), No Limite (Seia, 2003), Preto e Branco (Seia, 2003).

Participou em várias exposições colectivas, entre as quais: Exposição EXIT’09 Sociedade Martins Sarmento, Guimarães (2009); Exposição Aberta da Povoa de Lanhoso (2008); Exposição no Castelo da Povoa de Lanhoso (2007); Exposição Aberta da Povoa de Lanhoso (2005); Exposição de Artistas da Argo, Auditório Municipal de Gondomar (2004); Artistas Senenses em Lisboa, Centro Cultural Casapiano (Belém, 11/09 a 03/10/2004); ARTIS I, II, III, IV, V, VI (Seia, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007); 7ª Arte Jovem/Prémio Galeria Jovem – Casa D. Ana Nogueira (São Romão, 2002); I, II e III Exposição de Arte da Biblioteca da Escola Secundária de Seia (2002, 2003 e 2004); IV AgirArte (Oliveira do Hospital, Dezembro de 2001); I, II e III Exposição Colectiva de Artistas Senenses (1999, 2000, 2001).

Realizou a performance "Sem Título: ...?" na ARTIS IX (2010). Ver no youtube.

(1)- Textos do autor no seu blogue.
(2)-Nietzsche, Friedrich, “Assim falava Zaratustra".
(3)-Empresa de Conservação e Restauro (CR), habilitada para as seguintes áreas de intervenção: talha dourada, esculturas policromadas, mobiliário, azulejo, metais, pintura mural, pintura de cavalete. Realiza ainda trabalhos de pintura artística.
(4)-Textos do autor no seu blogue.

(5)-Alguns artistas levam a problemática da libertação a extremos verdadeiramente físicos, como acontece nas mutilações cirúrgicas da artista francesa Orlan (n.1947),ou nas auto-mutilações da italiana Gina Pane (1939-1990).
(6)-Textos do autor no seu blogue.

(7)-Sobretudo em The Number Girl (1973) e Just another story about leaving, 1974, sobre o auto-retrato e o corpo.
(8)-Galeria Cómicos e Serralves, 1990.
(9)-“A Auto-representação na Arte Portuguesa”, CCB, 1995.

domingo, 1 de novembro de 2009

Centenário de Francis Bacon (1909-2009)

Francis Bacon, Auto-retrato

A 28 de Outubro de 2009, passaram 100 anos sobre o nascimento do pintor autodidacta Francis Bacon. Nascido em Dublin, a infância difícil levou-o a adoptar um comportamento de oposição ao pai, homem rude e violento, e a desdenhar a Irlanda natal, à semelhança de outros conhecidos irlandeses, Oscar Wilde e James Joyce.

O reconhecimento tardio do seu génio (em 1944, graças ao tríptico “Three Studies for Figures at the Base of a Crucifixion”), após ter trabalhado vários anos como decorador e designer de mobília e alcatifas, foi ampliado pelo escândalo da sua primeira exposição individual em 1945, na Lefevre Gallery. Quando ninguém queria recordar os horrores da guerra e só se falava na urgência de construir a paz e o bem-estar geral, Bacon expôs telas pintadas com tons sanguíneos, representando entranhas.

Ao longo da sua actividade artística, Bacon tratou com grande frontalidade alguns temas tabus que ainda hoje chocam a sociedade (como a pedofilia, as fantasias masoquistas, a mutilação e desmembramento de corpos, a representação do corpo recorrendo aos seus fluidos, a violência sexual, …), captando a atenção dos media e provocando a reacção do público, obrigado a concordar ou a discordar, a procurar justificações do artista e semelhanças com outros casos. A verdade é que muitas obras de Bacon provocaram mais repulsa do que admiração mas não se esgotavam em si próprias, sendo até concebidas para envolver e absorver a crítica do público e dos media. Ficaram famosas as suas abordagens transgressivas dos retratos do Papa Inocêncio X, de Diego Velázquez – na linha das abordagens de Picasso a conhecidas obras do mesmo artista.

Picasso foi, aliás, uma das referências de Bacon, juntamente com Rembrant, Grünewald, os expressionistas alemães, os surrealistas, assim como por alguns mestres da fotografia e do cinema. Entre o material de inspiração e de trabalho do artista, contavam-se recortes de jornais e revistas com reportagens de crimes violentos, mas sobretudo as fotos de amigos e amantes tiradas por outros amigos (como John Deakin, fotógrafo da Vogue britânica), pois Bacon só pintava em completo isolamento, num atelier caótico (VER foto).

Com a morte dos amigos que gostava de pintar, dedicou-se mais ao auto-retrato, reinterpretando o próprio rosto através de fotografias, muitas delas tiradas em cabinas fotográficas públicas.

Nos anos 80, dedicou-se sobretudo à paisagem e inspirou-se em novos materiais – como, por exemplo, a poesia de Garcia Lorca.

A história da arte enciclopédica e as notícias do centenário evocam as suas obras mais consensuais, como "Crucificação", de 1965, apesar de serem exemplos limitados da modernidade defendida por Francis Bacon. No entanto, certo é que contribuiu para alargar os caminhos da arte moderna e, sobretudo, intensificar a sua função social.

Entre as grandes exposições que assinalam o centenário, conta-se a retrospectiva da Tate Gallery (que já tinha organizado em 1985 uma grande retrospectiva, com a colaboração e presença do artista) – Londres, entre 11 de Setembro de 2008 e 04 de Janeiro de 2009, Museu do Prado – Madrid, 03 de Fevereiro a 19 de Abril de 2009 (78 telas), e no Metropolitan Museum of Art – New York, de 20 de Maio a 16 de Agosto de 2009 (66 telas).

Em 2003, a sua obra foi mostrada no Museu de Serralves.

O pintor faleceu em Madrid, com 82 anos, a 28 de Abril de 1992. Seis anos depois, John Maybury escreveu e realizou “Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis Bacon (1998, 90 min), uma biopic centrada na relação amorosa do artista (interpretado por Derek Jacobi) com o seu maior e mais conhecido amante, George Dyer (Daniel Craig). O filme coleccionou prémios (7) em grande parte pela corajosa abordagem do tema da homossexualidade na arte. VER trailer do filme.

Os seus últimos 16 anos de vida foram partilhados com um ex-barman analfabeto, John Edwards, 41 anos mais novo que ele.
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Links para obras de Francis Bacon na Internet:
http://pintura.aut.org/BU04?Autnum=11.193&EmpNum=15531
http://www.ocaiw.com/catalog/?lang=pt&catalog=pitt&author=229