sexta-feira, 30 de abril de 2010

2010, o ano de Caravaggio

Michelangelo Merisi di Caravaggio
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Obra inédita de Caravaggio encontrada em Roma
A 18 de Julho de 2010, passam 400 anos sobre a morte de Caravaggio, figura marcante do barroco italiano. Caravaggio teve uma vida curta - não chegou aos 40 anos - e viveu a maior parte desse tempo em Roma, que o lembra actualmente (20 de Fevereiro a 13 de Junho) através de uma grande exposição na Scuderie del Quirinale, que reune as principais obras do artista.

Michelangelo Merisi terá nascido na localidade lombarda de Caravaggio ou em Milão, a 28 de Setembro de 1571. Certo é que, em 1576, vivia com seus pais em Caravaggio. Seu pai era arquitecto e decorador. Órfão, é levado para Milão em 1584, onde aprendeu a arte e os segredos da pintura com Simone Petrazano, que fora discípulo de Ticiano.


"In questo rione nacque e visse la sua giovinezza Michelangelo Merisiil piu illustre dei figli della terra caravaggina - Giugno 1990"

Com vinte anos, muda-se para Roma. Aí, trabalha como assistente do pintor Giuseppe Cesari até se arriscar a abrir o seu próprio atelier, em 1594. Nesse ano, pinta a sua primeira grande obra, “Os Jogadores de Cartas”. A sua mestria não passa despercebida ao cardeal Francesco Del Monte, patrono da “Academia de São Lucas”, que viria a ser o seu principal mecenas. Com um aposento no palácio do cardeal, Caravaggio pinta, aos 24 anos, a Igreja de San Luigi dei Franchesi e três cenas de vida de São Mateus na Capela de Contarelli.

No início do séc. XVII, Caravaggio já era um pintor muito conhecido em Roma. A sua pintura caracteriza-se pelo forte realismo das figuras e contrastes dramáticos de luz e sombra – escurecendo deliberadamente os fundos para realçar os planos de cor e os rostos dos personagens. Para retratar personagens bíblicos, recrutava modelos entre os pedintes de Roma.

O temperamento irascível e violento do pintor, contrastava com a sua preferência por temas religiosos, tendo realizado trabalhos de pintura em diversas capelas, igrejas e catedrais em Roma, Nápoles e Malta. São muito raras as sua obras com temas profanos – uma das quais ficou famosa: “O Triunfo do Amor”, de 1602. Entre outras peças notáveis deste período, destacam-se “Cristo em Emaús” (1602-1603) e “A Morte da Virgem” (1605-1606) – curiosamente, uma das peças em falta na exposição que assinala o 4º centenário da morte do artista.

Em 1606, Caravaggio foi obrigado a fugir de Roma. Envolvera-se numa questão com armas por causa de uma aposta e o seu jovem adversário, Ranuccio Tommasoni, não resistiu aos ferimentos. Foi refugiar-se em Malta, onde também se meteu em confusões e acabou por ser expulso da ilha. Passou depois por Siracusa, Messina e Palermo, geralmente fugindo de um lugar para outro, mas foi neste período de exílio e perseguições que pintou as suas obras mais importantes: “Nossa Senhora do Rosário” (1607); “Sete Obras de Misericórdia” (1607); “João Batista” (1604); “Degolação de João Baptista” (1608) e “Ressurreição de Lázaro” (1609). Nunca regressaria a Roma.

O espírito truculento do pintor levou-o novamente à prisão, onde contraiu uma febre. Morreu em 1610, aos 39 anos de idade, em Porto Ercole, na Toscana, miserável e só.
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A 18 de Julho 2010, foi anunciada pelo diário do Vaticano, "L'Osservatore Romano", a descoberta de uma pintura provavelmente da autoria de Caravaggio, pertencente à Ordem sacerdotal católica dos Jesuítas. Retratando o martírio de São Lourenço ("Martirio di San Lorenzo"), um dos mártires da implantação do Cristianismo em Roma, a obra apresenta todas as características da pintura de Caravaggio mas falta confirmar a sua autoria e autenticidade.
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Em 1986, Derek Jarman (1942-1994) realizou “Caravaggio”, um filme belíssimo que parece uma sequência de quadros do artista barroco, com intérpretes à altura (Nigel Terry, Sean Bean, Tilda Swinton). Misturando factos e ficção, Jarman estabeleceu pontes entre a nossa época e o tempo de Caravaggio através de elementos visuais e sonoros (máquina de escrever, calculadoras, sons de comboios a vapor, etc.), denunciando as diferenças cosméticas para sublinhar a intemporalidade das relações amorosas e das questões sociais.


O realismo da pintura de Caravaggio fica bem patente neste cesto de frutas

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