quinta-feira, 29 de julho de 2010

A ÚLTIMA CEIA NO MUSEU DE ÉVORA

ÚLTIMA CEIA – Instalação com fotografias de Jorge de Sousa, Marcos López e escultura de Noémia Cruz, Museu de Évora, 01 de Julho a 30 de Setembro.
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Jorge de Sousa, "A Última Ceia" (1)

Integrado no programa do Festival de Performance e Artes da Terra “Escrita na Paisagem” 2010, encontra-se patente no Museu de Évora, até 30 de Setembro, uma Instalação intitulada “Última Ceia”. A mostra junta duas fotografias de Jorge de Sousa (n. Moçambique, 1962) e do argentino Marcos López (n. Santa Fé, Argentina, 1958) com a escultura de Noémia Cruz (n. Ourique, 1948), “Isto é o meu corpo”. A escultura subverte o sentido da última ceia ao jogar com o conceito de corpo, oferecido, partido, partilhado, anexando a esse sentido o seu próprio historial acidentado: exposta pela primeira vez em 1979, a obra foi vandalizada; no ano seguinte, ficou parcialmente destruída num incêndio no atelier da artista; finalmente, foi recuperada e exposta três décadas depois.
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Leonardo da Vinci, “L’Ultima Cena”, 1495-1498
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O tema da última ceia de Cristo com os apóstolos tem sido muito tratado na arte ocidental, sobretudo através da pintura, nas mais diversas épocas e contextos artísticos. A obra mais conhecida é a pintura mural realizada por Leonardo da Vinci no refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, mas essa obra teve precursores como Andrea de Castagno (Castagno, 1423-Firenze, 1457).

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Andrea de Castagno, “L’Ultima Cena”, 1447, Sant’Apollonia, Florença

Ao longo dos séculos seguintes, inúmeros pintores foram sensíveis ao tema, também abordado no século XX por artistas como Salvador Dali (“O Sacramento da Última Ceia”, 1955), Andy Warhol (série “The Last Supper”, 1986), Francine LeClercq ("Mise en S(cène)", Instalação, 2007) ou Devorah Sperber (Instalação, 2007). O próprio Museu de Évora, que alberga a instalação, inclui no seu acervo duas pinturas da última ceia, uma da autoria do Mestre do Retábulo da Sé e outra do pintor flamengo Martin de Vos (Antuérpia, 1532-1603).

Há últimas ceias desenhadas, gravadas, impressas, esculpidas, modeladas, colagens, assemblagem de objectos inusitados, e até construídas em Lego, sendo igualmente um tema recorrente da arte popular dos mais diversos países e culturas tocadas pelo cristianismo. Finalmente, a fotografia agarrou o tema e recriou-o com a liberdade possível em contextos modernos, impulsionada pela publicidade e abençoada pelos media. Não é por acaso que imagens relacionáveis com este tema serviram para promover filmes e séries televisivas como "M.A.S.H." (Robert Altman, 1970), “Battlestar Galactica” (2003), “Star Wars”, “House” (2004), “Shameless” (2004), “Asao” (Hong Kong, 2005), “The Sopranos” (uma belíssima foto de Annie Liebovitz), “The Simpsons”, “Lost” (última temporada, 2010).


Doménikos Theotokópoulos, El Greco, “A Última Ceia”, 1567-1570

Na pintura, a minha última ceia preferida é a de El Greco (1541–1614), obra pintada entre 1567 e 1570. No quadro, tudo parece pairar, com uma estranha leveza e dinâmica, desde a mesa da ceia às figuras esvoaçantes. A lembrar que a pintura de El Grego não se enquadra em qualquer estilo artístico do seu tempo.

Para além da unidade e equilíbrio da composição e encenação bem sugestiva, as fotografias de Jorge de Sousa e de Marco López estão recheadas de pormenores bem contextualizados: o estilo “urbano” de Jorge de Sousa em contraste com uma ceia tipicamente argentina.

O fotógrafo português procura fixar, sem qualquer fotomontagem, “imagens que se comportam como máquinas do tempo, construídas a partir de elementos contemporâneos, para viagens a um passado por vezes muito mais distante do que a minha própria existência”. O argentino, pelo seu lado, não quis fotografar a “refeição da tristeza, suspeição e ira que caracteriza a obra-prima italiana, mas sim a refeição do encontro da comunidade, da hospitalidade e da amizade”. “Tento que o meu trabalho tenha a dor e o despojamento da América mestiça" (2).
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A exploração de temas religiosos na arte – e na literatura, como sucedeu, por exemplo, com Salman Rushdie ou José Saramago - pode ser um assunto delicado e gerar polémicas. A Última Ceia, padronizada pela obra paradigmática de Leonardo da Vinci, é um dos temas mais abordados, glosados e abusados, especialmente por não encerrar um conceito fundamental e por isso intocável, como acontece com a Divina Trindade ou a Sagrada Família, mas sim pela efervescência dramática da cena, que pode ser decalcada noutros contextos, o caldeirão de emoções que anuncia a Paixão de Cristo. A competição de imagens na publicidade e a democratização da imagem graças às novas tecnologias da informação e comunicação intensificou a manipulação da obra-prima de Leonardo, com reacções pontualmente intransigentes. Em 2005, por exemplo, um anúncio encomendado pelos estilistas franceses Marithé e François Girbaud com uma foto inspirada na última ceia foi proibida em França e em Milão. Já nos EUA, a utilização da última ceia serve inclusive para anunciar feiras de rua e pizzarias. Por cá, nem estaremos muito mal se nos lembrarmos da reacção do mundo islâmico à publicação das célebres caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, nesse mesmo ano (2005). Em Portugal, o desacato ficou-se pela controversa caricatura do papa João Paulo II, de António Antunes (“Preservativo Papal”, 1992), engrossando as ondas de choque produzidas pela publicação de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), de José Saramago, mas ainda hoje existem críticas e pressões. Em entrevista ao site frrrkguys.com , Jorge de Sousa reconhece ter “recebido algumas críticas oriundas dos sectores mais conservadores e fundamentalistas do Cristianismo, mas talvez, pelo carácter sério com que abordo este tema, acaba por não sobrar muito espaço para os argumentos dessas pessoas ofendidas pelo meu trabalho” (3). Já Marcos López parece mais ambientado aos meandros e contingências da publicidade na Argentina. Vive em Buenos Aires, onde trabalha como fotógrafo e realizador de filmes independente, encontrando-se actualmente envolvido em projectos de arte e direcção fotográfica para anúncios de televisão.


De entre os diversos fotógrafos que trataram este tema, gosto particularmente das últimas ceias do israelita Adi Nes (n. 1966), do americano David La Chapelle (o “Fellini da fotografia”, segundo o New York Times, n. 1963), da sueca Elisabeth Ohlson Wallin (n. 1961), e do americano Howard Schatz (n. 1940).
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(1) - frrrkguys.com
(2) – Texto da instalação – Évora, 2010.
(3) – “
O Corpo como Templo da Alma” – T. Angel entrevista Jorge De Sousa, 2009.

domingo, 25 de julho de 2010

3ª BIENAL DE CHAVES ATÉ SETEMBRO


Decorre até 10 de Setembro, em Chaves, a 3ª edição da Bienal de Artes, este ano organizada pela Associação Chaves Viva, Cooperativa Árvore e Câmara Municipal de Chaves, com o apoio do Turismo de Portugal. A primeira edição (2006) foi organizada pela Associação de Artistas do Alto Tâmega e do Vale de Monterei, a Tamagani, e a segunda (2008) pela Cooperativa Árvore, que assim ampliou a sua influência artística no norte de Portugal.

A edição de 2010, que se iniciou a 01 de Junho, organiza-se em torno de três exposições importantes, destacando dois artistas flavienses: João Vieira (Vidago, 1934-Lisboa, 2009), com uma exposição de homenagem no espaço multiusos do Centro Cultural, reunindo obras de grande formato do artista; e Nadir Afonso (Chaves, 1920), na sala de exposições da Biblioteca Municipal. A terceira exposição , “Sinais da Arte Ibérica no Século XX”, no Pavilhão Expoflávia, pretende destacar o relevo actual de Chaves no contexto artístico nacional (terra de artistas, Bienal, Fundação Nadir Afonso – com o edifício sede projectado por Siza Vieira) e a sua relação de proximidade com Espanha. Integram esta exposição obras de grandes nomes das artes ibéricas o século XX: Amadeo de Souza-Cardoso, Dominguez Alvarez, Domingos Pinho, Jaime Isidoro, Joaquim Rodrigo, Jorge Pinheiro, José de Guimarães, Júlio Pomar, Mário Cesariny, Nikias Skapinakis, Antoni Claves, Carmen Calvo, Eduardo Arroyo, Jorge Castillo, Juan Miró, Luis Feito, Manolo Millares, Miguel Barceló, Pablo Picasso, Rafael Canogar. As obras dos artistas portugueses foram seleccionadas considerando a relação que elas estabelecem com a cultura espanhola, e vice-versa.
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Do programa da 3ª Bienal de Artes de Chaves fazem ainda parte uma conferência, "As indústrias criativas: cultura, economia e desenvolvimento", de Joaquim Azevedo e Cristina Azevedo, e um atelier de pintura, a funcionar de 6 a 10 de Setembro, no Centro Cultural.

FERNANDA FREIRE NA VÍCIO DAS LETRAS

“Boas Consonâncias” – Pintura de Fernanda Freire na Vício das Letras – Santa Maria da Feira, de 03 de Julho a 20 de Agosto 2010.


A pintora Fernanda Freire – que é também dada à escrita – regressa ao espaço Vício das Letras, onde expôs em Março de 2007 (“Unidade na Diversidade”), com um conjunto de obras genericamente intitulado “Boas Consonâncias”.

A artista apresenta agora uma pintura mais espontânea, gestual, neo-expressionista, muito diferente da pintura reflectida e trabalhada que praticava há poucos anos atrás. A profusão de cores e de elementos figurativos, assim como a variação da escala e do ritmo e a violência da pincelada, sugerem um emaranhado de ideias e de recordações em conflito, paisagens caóticas, visões complexas do Amor Universal que a artista pretende transmitir em “Boas Consonâncias”. Como escreveu Artur Manso, “Na pintura de Fernanda Freire cabe o mundo todo porque o que mais lhe interessa não é o caminho já percorrido, mas sim a busca interminável de graus mais elevados do sentir o do Ser. “

Fernanda Freire nasceu em Vide, concelho de Seia. Reside no Porto.

Participou em inúmeras exposições colectivas em Caldas da Rainha, Coimbra, Lisboa, Oliveira do Hospital, Paços de Ferreira, Porto, Santa Maria de Lamas, Santa Maria da Feira, Seia, Setúbal, Tábua, Tui (Galiza) e Vila Nova de Gaia.

Participou nas ARTIS III e IV (Seia, 2004 e 2005). Encontra-se representada em várias colecções particulares em Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e Alemanha.
Ilustrou livros de literatura juvenil e de poesia.

Referências:
Seiaportugal

ANTOLÓGICA DE ANA VIDIGAL NO CAM


No Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, decorre até 26 de Setembro uma importante exposição antológica de Ana Vidigal, intitulada "Menina Limpa. Menina Suja".
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O título da exposição foi emprestado de uma série de obras que a artista realizou em 2000, inspiradas nas personagens de Monteiro Lobato ("Sítio do Pica-Pau Amarelo"), sobre o lado menos limpo das pessoas, aquele que não mostram tanto.

Composta por 120 obras, a exposição permite rever trabalhos da artista realizados nos diversos momentos do seu percurso artístico de 30 anos, seleccionados por Isabel Carlos, a curadora da mostra. Uma retrospectiva antológica, de acordo com a explicação de Ana Vidigal: “é como estar a olhar para um livro e a folheá-lo para trás”.

A obra mais antiga é um quadro de 1980, representando a primeira fase, e a mais recente um quadro de 2010. Entre estas duas datas, Ana Vidigal realizou pinturas abstractas, colagens bi e tridimensionais, instalações, tratando temas relacionados com a (sua) infância e a condição social da mulher - assumindo-se como feminista.

As suas primeiras exposições já tinham colagens mas eram bidimensionais. Gosta de trabalhar com tesoura e cola, tendo chegado a afirmar que a "pintura é tudo o que se cola" - a começar pelos pigmentos no papel ou na tela, por acção do aglutinante. Em 1985, começou a reutilizar objectos e materiais, desde logo incorporando-os na pintura, com a ironia que se tornou uma marca da artista e que começa logo nos títulos “divertidos”. Na fase mais recente, realizou instalações integrando objectos e materiais fora de uso, desde velhos bancos de madeira (bancos “Monosigóticos”, 2000) ou as cartas que o pai enviou à mãe quando esteve na Guerra Colonial (“Penélope”, 2000) a uma velha roulotte (instalação “Querido mudei a casa”, 2007), babetes (“Tenha sempre um plano B”, 2007) e à reconstituição do seu quarto de criança, com as mobílias originais (“Void”, 2007).

Ana Vidigal nasceu em Lisboa em 1960.

Formada em Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1984.

Co-fundadora do grupo "Talentos Emergentes". Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1985 e 1987. Estágio de gravura com Bartolomeu Cid dos Santos, em 1989, na Casa das Artes de Tavira.

Criou painéis para as estações do Metro de Lisboa em Alvalade (1995) e Alfornelos (2002).

Em 1998 e 1999 foi artista residente na Museu de Arte Contemporânea - Fortaleza de São Tiago, Funchal.

Trabalha com a Galeria 111 desde 1999, ano de forte impulso na sua carreira.

Foi distinguida com o Prémio Maluda-Pintura (1999) e o Prémio Amadeo Souza-Cardoso (2003).

Ainda em 1999, foi seleccionada pela AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) para integrar a colecção de pinturas de onze artistas oferecidas ao Brasil, subordinadas ao tema "A carta de Pêro Vaz de Caminha".

Exposições recentes:

Estoril FashionArt Festival – 2010 (“Boomshirt”)
Galeria 111, Porto – 2010 (“Matar o Tempo”)
Espacio Atlântico, Vigo – Galiza – 2010
ArteLisboa 09 – 2009
Bienal de Sharjah 9, Emiratos Árabes Unidos - 2009
Galeria 111, Lisboa – 2009 (“Pintura 2005/2006”)
Allgarve’09, Faro – 2009 (“Dialogues Boxes on Street Windows”)
Centro de Arte Manuel de Brito, Algés – 2009 (“Anos 90”)
Art Basel Miami Beach 2008
ArteLisboa 08 – 2008
Galeria Municipal de Abrantes – 2008 (“Tenha sempre um plano B”)
AR.CO’08, Madrid – 2008
Trienal Arquitectura Lisboa – 2007 (“Vazios Urbanos / Urban Voids” – “Querido mudei a casa”)
ArteLisboa 07 – 2007 (Project Room “Voids”)
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Blogue de Ana Vidigal

terça-feira, 20 de julho de 2010

EXPOSIÇÃO DE STELA BARRETO NO MUSEU DE ESTREMOZ


Decorre até ao dia 29 de Agosto 2010, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, a exposição de pintura de Stela Barreto – “Evoluções”.
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Stela Barreto nasceu em Portimão em 1952.

Estudos da escola espanhola de Desenho e Pintura Artística e um Curso de Artes da Escola António Arroio em Lisboa. Foi aluna de Jean René Thellier, Carlos Lança e teve o apoio crítico do mestre Fernando Azevedo.

Membro da Sociedade Nacional de Belas Artes e fundadora da Associação INICIARTE, com sede na Casa das Artes em Portimão, onde lecciona Desenho e Pintura.

Tem exposto individual e colectivamente em galerias em Portugal, França, Áustria, Alemanha, EUA, Finlândia, Espanha, Japão e em Barcelona no V Salão Internacional de Artistas Contemporâneos Independentes, 2001. Fez parte do encontro internacional de artistas plásticos da Unitas Humana na UNO City em Viena de Austria no ano 1999. Foi seleccionada para o tour das capitais europeias do BAZARART Internacional nos anos 2003 e 2004. Participou na Feira Arte Algarve em 2009. Foi a artista portuguesa convidada para participar no Calendário do Advento da BMW. Em 2010, foi uma das artistas convidadas para a ARTIS IX – Festa das Artes e Ideias em Seia.

Recebeu vários prémios e menções honrosas em Portugal e Espanha, entre os quais o 1º Prémio de Pintura do INATEL (Lisboa, 2006) e o 1º Prémio no concurso Lucena Punto de Encuentro (Córdoba, Espanha, 2007). Em 2009, foi homenageada pela Câmara Municipal de Portimão.

http://www.artisdeseia.blogspot.com/

"ALEGRIAS" - Fotografia de Herman Mertens

Fotografia de Herman Mertens no Museu Municipal de Resende, de 23 de Julho (inauguração pelas 18h00) a 19 de Setembro 2010.
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"Preparando esta exposição em Resende, Herman Mertens visitou a terra e lugares vizinhos, demorou-se nas redondezas, conheceu pessoas que ali moram, fez amigos. Encantou-se com a paisagem e com os vestígios do passado, que gosta de fotografar para sentir o mundo ao seu redor e compreender o tempo presente ou o que lhe parece estranho. Ficou maravilhado com as pessoas que conheceu e fotografou, nos locais onde habitam e trabalham, rodeados pelos seus objectos quotidianos, memórias e sonhos. Para Herman, “fotografar é mais do que carregar no botão. É entrar na imagem que vê. Sentir um momento da vida dos outros”.

O elemento humano é essencial em muitas das suas fotos: difuso e secundarizado, tratando-se de gente anónima, desconhecidos; mas dominante a transbordando personalidade quando fotografa pessoas conhecidas e amigos. Como se as ligações entre as pessoas fossem a luz mais necessária a essas imagens felizes. Por terras de Resende e em volta, Herman Mertens vivenciou a pacífica e verdadeira alegria da gente simples e amável que tão bem o recebeu. As fotografias desta exposição, justamente intitulada “Alegrias”, envolvem o observador nos sentimentos e cumplicidades que lhes deram origem a fixaram no tempo como um agradecimento e uma mensagem de esperança num mundo melhor".

Sérgio Reis

ANTÓNIO OLAIO E A CÁTEDRA DE SÃO PEDRO

Até 5 de Setembro, a sala de exposições temporárias do Museu Grão Vasco acolhe uma exposição de António Olaio, intitulada “Na Cátedra de S. Pedro”.

Contextualizada pela presença no museu da obra “São Pedro” (1), de Vasco Fernandes (Viseu, 1475-1542), depois conhecido por Grão Vasco, a exposição consta de diversas obras (desenho, pintura e video) concebidas em torno da ideia de cadeira, “cátedra”.
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Vasco Fernandes (Grão Vasco) - “São Pedro”, 1535-1542 e “São Pedro Patriarca” (c. 1535)

Não existe um modelo consensual para a cadeira de S. Pedro, que tem um dia próprio no calendário católico, 22 de Fevereiro. A existência de uma cadeira portátil no Vaticano terá sido já referida no ano 370 pelo Papa São Dâmaso, mas a cadeira guardada na Basílica de S. Pedro em Roma, no relicário construído por Gian Lorenzo Bernini (Altar da Cátedra de São Pedro) em meados do séc. XVII, será afinal o trono de madeira do Imperador Carlos II, o Calvo (823-877). A cátedra de S. Pedro que se pode ver na pintura de Grão Vasco é um trono monumental apropriado à ideia do Papa enquanto chefe e mestre da cristandade, o elo entre o céu e a terra – muito além do trono mais modesto de “São Pedro Patriarca”.

António Olaio apresenta a cadeira enquanto lugar humanizado tornado objecto, estabelecendo correspondências entre a arquitectura, as artes plásticas e a performance. Nesta mostra, o artista prossegue as suas pesquisas em torno da natureza e limites da arte e do artista, começando por expor na sala de entrada, frente a frente, o modelo e a sua representação: pinturas monocromáticas representando cadeiras (de várias épocas e estilos) e as respectivas cadeiras. A presença física e o peso histórico das cadeiras contrastam com a sua representação monocromática, com o artista a re-interpretar os conteúdos funcionais das cadeiras, descentrando primeiro o objecto da forma e da função, e depois libertando-o do seu volume para o re-interpretar através de uma projecção bidimensional. Enquanto a sombra aparece como complemento (embora um pouco autónomo) do objecto nas pinturas, na série de desenhos da segunda sala, a sombra da cadeira paira ou voa acima de uma realidade estereotipada. A re-interpretação da realidade cria novas realidades coexistentes e não apenas o seu duplo.

A personagem da única cadeira "habitada", na primeira sala, regressa na projecção do video que fecha o percurso da exposição - uma revisão do video "KünstlerLeben" (2010). A cadeira como lugar humanizado, de pose e de palco, uma espécie de pedestal ou de trampolim - como escreve o artista, "na assumpção de que cada um de nós terá a sua própria cadeira, como uma espécie de lote unipessoal, sem tecto" (2).
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Para o artista, a essência da arte passa claramente pela transdisciplinaridade proporcionada pela performance, ou no mínimo pelo seu registo, e as cadeiras de António Olaio tornam-se lugar e corpo sensível e comunicativo, bancada de teste e de provocação dos paradigmas contemporâneos.

A única cadeira "habitada" da exposição


António Olaio nasceu em Sá da Bandeira, Angola, em 1963. Reside em Coimbra.
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Curso Superior de Artes Plásticas/Pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (1987). Doutoramento pela Universidade de Coimbra - Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia (2000). Professor do curso de Arquitectura da Universidade de Coimbra, onde lecciona desde 1991.
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Entre 1987 e 1992 fez parte do grupo musical “Repórter Estrábico” (3), desenvolvendo depois com o músico João Taborda projectos comuns. Trabalha actualmente com a Galeria Filomena Soares.
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Prémio de escultura Repsol (2000) juntamente com os arquitectos Desirée Pedro e Carlos Antunes. A obra encontra-se na Área de Serviço de Penafiel da A4.

Exposições individuais

2010
- "A cátedra de São Pedro", Museu Grão Vasco
- La Prospettiva is sucking reality, Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira
2009
- Crying my brains out, Galeria Filomena Soares, Lisboa
- Brrrrain, Culturgest, Lisboa
- LA PROSPETTIVA, Galeria Mario Mauroner, Viena, Áustria
- "Planeta Coimbra", Galeria de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Coimbra/Edifício Chiado
2008
- António Olaio, Galeria Mario Mauroner, Viena, Áustria
2007
- I Think Differently, Now that I Can Paint, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
- Singing the art away, Teatro Académico Gil Vicente, Coimbra
2005
- Pictures are not movies, Galeria Filomena Soares, Lisboa
- Under the stars, Galeria Zé dos Bois, Lisboa
2004
- 40 Years in a plane - Kenny Schachter Contemporary, Nova Iorque, EUA
- I'm growing heads in my head, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
2003
- You are what you eat - Centro Cultural Andratx, Palma de Maiorca, Espanha
2002
- What makes a home a house? - Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
2001
- António Olaio. Slow Motion ESTGAD, Caldas da Rainha
- Mostra antológica no âmbito de Urban Lab, Bienal da Maia 2001
- Foggy days in old Manhattan, Galeria Filomena Soares, Lisboa
2000
- My left hand is changing, Galeria Pedro Oliveira, Porto
1999
- Sunset TVs, Espaço Poste ite, Porto, e Galeria OM, Coimbra
1998
- And this is the drawer where he kept his gun, Galeria OM , Coimbra
- My Home is a logo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
- What do you want for Christmas? Galeria Zé dos bois, Lisboa
1997
- Bambi is in jail, Galeria Pedro Oliveira, Porto
1994
- PostNuclear Country, Galeria Monumental, Lisboa
1993
- Waiting for Christmas, Cìrculo de Artes Plásticas, Coimbra
1991
Ma main, c`est un readymade, Galeria Pedro Oliveira, Porto
1989
- Blaupunkt Blues, Galeria Roma e Pavia, Porto
1998
- Sofás amarelos, vermelhos não são, Galeria do Jornal de Notícias, Porto
1987
- Quem matou a porteira? - Galeria Roma e Pavia, Porto
1985
- Na Atlântida, Galeria Roma e Pavia, Porto
1984
- Graças à luz eléctrica, Cooperativa Árvore, Porto
- Os espelhos não reflectem a imagem de Drácula, Galeria EG, Porto
1983
- Fernão Mendes Pinto visita Marcel Duchamp, Galeria Roma e Pavia, Porto

(1) – Na mesma época (cerca de 1530), Vasco Gonçalves terá pintado “São Pedro Patriarca”, em colaboração com Gaspar Vaz, pintor activo em Viseu pelo menos desde 1522. Essa obra encontra-se no Mosteiro de São João de Tarouca.
(2) - António Olaio, no desdobrável da exposição.
(3) - Para além de António Olaio, vocalista e figura carismática do grupo, a formação original dos “Repórter Estrábico” incluía Paula Sousa (sintetizador, sampler, piano e voz), Paulo Lopes (guitarra), Luciano Barbosa (caixa de ritmos, percussão e voz), José Ferrão (guitarra) e Anselmo Canha (baixo). O seu álbum de estreia, “Uno Dos”, foi editado em 1991. Blitz

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quatro Artistas Unidos

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Entre 31 de Julho e 31 Outubro, a Artistas Unidos (1) apresenta no Armazém das Artes, em Alcobaça, um conjunto obras de quatro artistas unidos apenas pelo gosto de pintar.

"Os Quatro" artistas unidos são Jorge Martins (Lisboa, 1940), Manuel Casimiro (Porto, 1941), Nikias Skapinakis (Lisboa, 1931) e Sofia Areal (Lisboa, 1960).

O grupo formou-se no início de 2010, para uma participação na Giefarte (Lisboa, Fevereiro 2010) e esta exposição produzida pela Artistas Unidos irá percorrer o país até 2012. Entre 29 de Maio e 25 de Julho 2010, passou pelo TMG – Teatro Municipal da Guarda.

(1) - A Artistas Unidos é uma sociedade artística e companhia de teatro portuguesa, fundada em 1995 e dirigida por Jorge Silva Melo - que assina o texto do catálogo da exposição "Os Quatro". A sociedade produz espectáculos, filmes, recitais, seminários, encontros e exposições.
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O Armazém das Artes. O espaço teve diversas utilizações, ao longo de décadas. Foi recuperado a partir de uma ideia do escultor José Aurélio, natural de Alcobaça (1938), e inaugurado em Março de 2007.

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A
ÁLVARO RÊGO CABRAL
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ANTÓNIO NOGUEIRAAVELINO CUNHAL


C
CARLOS MOURA
CARLOS BRITO


D
DORA TRACANA


E
EMÍLIA GIL


F
FERNANDA FREIRE
FRITZ WESSLING
FRITZ WESSLING - Semana das Artes 2012



H
HELENA ABREU - 1
HELENA ABREU - 2
HENADZI LAZAKOVICH



J
JOAQUIM PINTO
JOSÉ SANTOS - 1JOSÉ SANTOS - 2JOSÉ SANTOS - 3JOSÉ SANTOS - 4JÚLIO VAZ SARAIVA - 1
JÚLIO VAZ SARAIVA
- 2


L
LUCAS MARRÃO
LUIZ MORGADINHO - 1
LUIZ MORGADINHO - 2



M
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P
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R
RENATO PAZ
RENATO PAZ - álbuns digitais

RICARDO CARDOSO - 1
RICARDO CARDOSO - 2

RICARDO CARDOSO - 3
RICARDO CARDOSO - 4 (TMG)

RICARDO CARDOSO - Semana das Artes 2012


S
SERAFIM CORREIA 


T
TÂNIA ANTIMONOVA
TAVARES CORREIA - 1
TAVARES CORREIA - 2
TAVARES CORREIA - 3

TRISENA


V
VIRGÍNIA PINTO
VIRGÍNIA PINTO - 2012

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A
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ALFREDO KEIL - Centenário da República
ÁLVARO FRANÇA - Escultor
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO
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ANA PIMENTEL - Exposição Amarante
ÂNGELO DE SOUSA
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ANN P. SMITH - Escultura
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ANTÓNIO OLAIO - Exposição em Viseu
ANTÓNIO SENA - Prémio ASC 2011 
ARMANDO CORREIA
ARTE LISBOA 2010
AURELIANO LIMA - Escultor


B
BALBINA MENDES - Máscaras 
BANKSY -1
BEATRIZ MILHAZES - FCG
BERNARDO CARVALHO - Prémio TITAN 2009
BIENAL DE CHAVES - 3ª edição 2010
BMW ART CARS - Tema
BOMBARDA 2010 

BOMBARDA 2012


C
CAMILLA WATSON - Fotografia
CARAVAGGIO - 400 anos

CARL WARNER - Fotógrafo
CARLOS CARREIRO
CARLOS MARQUES
CARLOS OLIVEIRA
CASA DE SERRALVES - Recordações...
CATARINA MACHADO - Pintura 
CENSURA NA ARTE?
CHEMA MADOZ - Fotografia "surrealista"
CLARA MENÉRES - Escultura
CLEMENTINA MOURA
COLUMBANO BORDALO PINHEIRO
COLECÇÃO BERARDO - Observadores... 
CRUZEIRO SEIXAS - Exposição na Guarda


D
DANÇA DOS URSOS - Museu de Portimão
DE KOONING - Retrospetiva no MoMa, 2011
DORITA DE CASTEL-BRANCO - Escultura


E
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EDUARDO BATARDA - Serralves 2012
EIME (Daniel Teixeira) - Street Art 
EMÍLIA NADAL - Homenagem em Lamego
EURICO GONÇALVES - Homenagem em Seia


F
FAUSTO SAMPAIO - Paris
FERNANDO PERNES
FIARTE 2011 - Coimbra
FRANCO CHARAIS - Pintor


G
GABRIEL ABRANTES – Prémio EDP 2009
GÓIS ARTE 2010
GONÇALO M. TAVARES - Escritor
GUNTHER GRASS - Pintor e escritor


H
HENRI FANTIN-LATOUR


HENRIQUE DO VALE
HERMAN MERTENS - 1
HOMEM T - Porto 2009
HUGO MACIEL - ARTIS X
HUGO RIBEIRO - Braga 2012
HUMBERTO NELSON


I
INÊS OSÓRIO - Prémio 16ª Bienal Cerveira


J
JEAN DUBUFFET - Arte Bruta / Arte Outsider
JOANA VASCONCELOS - O Livro
JOÃO DA SILVA - Escultura
JOÃO PENALVA - CAM
JOÃO R. DUARTE - Escultura
JORGE MEALHA - Cerâmica
JOSÉ CARLOS MALATO - Pintor
JOSÉ DE GUIMARÃES - Paço dos Duques / Plataforma das Artes
JOSÉ DUARTE MIRANDA - Professor
JOSÉ MALHOA - O Fado
JOSÉ MARIA PIMENTEL - Fotógrafo
JOSÉ MÁRIO SANTOS - ARTIS X
JOSÉ MARQUES DA SILVA – Arquitecto
JOSÉ PESSOA - Fotógrafo
JOSÉ RODRIGUES - Homenagem
JOSÉ SARAMAGO - Escritor
JOÃO VIEIRA -
JORGE COELHO - Escultor
JORGE SOUSA - Fotografia
JÚLIO RESENDE (1917-2011)


L
LAURO CORADO
LUCIAN FREUD (1922-2011)
LUÍS BELO - artista plástico / designer


M
MALANGATANA
MALUDA
MANUEL CARGALEIRO - Exposição em Coimbra
MANUEL GUSTAVO BORDALO PINHEIRO
MANUEL LARANJEIRA - Escritor
MANUEL MARIA BORDALO PINHEIRO
MARCO LÓPEZ - Fotógrafo
MÁRIO SILVA - GoisOrosoArte 2011
MARTINS BARATA
MAURO CERQUEIRA - Prémio EDP 2009
MIGUEL PALMA - Fundação EDP Porto


N
NADIR AFONSO - 1
NADIR AFONSO - 2
NATUREZA MORTA - FCG
NATUREZA MORTA - A Perspetiva das Coisas/FCG
NICK CAVE - Escultura
NOÉMIA CRUZ
NUNO DE CAMPOS


P
PAUL JORDAN-SMITH (Pavel Jerdanowitch)
PAULA REGO - 1 - Les Planches Courbes
PAULA REGO NO PORTO
PAULO NEVES - Escultura
PAVEL JERDANOWITCH (Paul Jordan-Smith)
PEDRO GUIMARÃES - Arquitecto
PHILIPP TOLEDANO - Fotógrafo
PIMENTA NUNES
PINTURA NO PÁRA-VENTO - Porto 2010
PIO SILVA
PRÉMIO DE PINTURA ABEL MANTA - Gouveia
PRÉMIO DE PINTURA ABEL MANTA 2011


R
RAFAEL BORDALO PINHEIRO 
RAQUEL VIDAL - Realizadora
REIS DUARTE - Escultura
RENATA CARNEIRO - 1
RENATA CARNEIRO - 2
RENATA CARNEIRO - 3

RON MUECK
RUI MONTEIRO - 16ª Bienal Cerveira


S
SÉRGIO REIS - Os outros Sérgio Reis
SLINKACHU
SIMÕES DE ALMEIDA (SOBRINHO)
SIMPÓSIO DO PORTO #II 2010
SOARES BRANCO - Escultura
TERESA BLACK - Exposição em Seia
TIM BURTON


U
URBAN SKETCHING - Draw Lisbon 2011


V
VASCO FERNANDES (GRÃO VASCO)
VICTOR MOTA


X


Z