sábado, 23 de julho de 2011

OFF THE WALL


Arte "fora da parede" e obras de arte ativadas pelo visitante

“Off the Wall” é o título da exposição patente no Museu de Serralves até 02 de outubro 2011, reunindo diversas ações performativas de artistas internacionais de referência, realizadas principalmente na segunda metade do século XX. Trata-se de uma versão da mostra apresentada em 2010 no Whitney Museum of American Art, em Nova Iorque, acrescentada com novas obras, sobretudo de artistas portugueses - Helena Almeida, Alberto Carneiro e Fernando Calhau, e prolongada com a exposição de obras de Robert Morris.

Umas das principais características da arte do século XX é o cruzamento de géneros artísticos e formas de expressão, o que permite reinventar os modos de produção artística, alargar o conceito de arte e integrá-la mais diretamente no quotidiano. A obra de arte deixa de ser apenas um quadro para pendurar na parede, ou uma escultura, mas sim o próprio acontecimento artístico, gestos e atos performativos onde interagem as artes visuais, as artes do movimento, a música e a experimentação sonora. Porém, o caráter sempre efémero desses atos é minimizado através de registos fotográficos, cinema e video – e são estes registos que se apresentam em Serralves, quase todos na parede.

Os dadaístas, que pregavam a não-arte e criavam obras totalmente ao arrepio das conceções artísticas da época, estão na origem de todas as irreverências, mas a performance, enquanto género artístico, nasce com a compreensão e valorização do próprio ato criativo e não exclusivamente na obra final, exposta para ser contemplada no plano vertical da parede. Artistas como Jackson Pollock transformaram o ato de criar em autênticas performances, enquanto outros preferem intervir mais diretamente no espaço real da vida, para veicular mensagens filosóficas e poéticas de redescoberta da individualidade e sentido da existência, muitas vezes com intuitos de crítica social. O que o artista procura é romper os limites opressivos do quadro (formatos, bidimensionalidade, imobilidade, silêncio) e dos espaços artísticos convencionais (sala de exposição, galeria, museu), também no sentido que lhe dá Michael Jackson no seu tema de 1979 “Off the Wall”, (“Live life off the wall”, etc.), de rotura com os padrões e normas sociais, o que implicou um desenvolvimento do conceito de Arte e de museu. Nem por acaso, a exposição abre com uma obra de John Baldessari, de 1971, com uma só frase escrita centenas de vezes nas paredes da entrada: “I will not make any more boring art” (Nunca mais farei arte aborrecida).

Off the Wall / Fora da Parede, apresenta o desenvolvimento da Performance desde 1948, ano de realização da obra mais antiga da exposição (o filme de Maya Deren, “Meditation on Violence”) até aos anos 80 – um percurso resumido de modo simples e claro por Chrissie Iles (curadora do Whitney Museum of American Art) no texto de apresentação da exposição.

A partir de hoje, 23 de julho, pode também ser visitada em Serralves a exposição “Robert Morris: filmes, vídeos e “BodySpaceMotionThings”. Robert Morris (Kansas City, EUA, 1931), engenheiro de formação e um dos fundadores do Judson Dance Theater em Nova Iorque, desenvolveu uma obra centrada nos novos materiais e novas perspetivas artísticas, criando esculturas com materiais reciclados, intervenções artísticas de grandes dimensões na paisagem (“earthworks”), performances relacionando o corpo e o espaço e experiências inovadoras conjugando o cinema e as artes visuais. Representado na exposição “Off the Wall”, Morris foi o primeiro artista a conceber uma exposição cujas obras de arte são ativadas pela participação física do visitante – que deixa, assim, de ser um mero espectador passivo para se tornar parte integrante da obra.

Artistas representados na exposição Off the Wall (por ordem alfabética do apelido): Vito Acconci; Helena Almeida; Carl Andre; John Baldessari, Lynda Benglis, Dara Birnbaum; Jonathan Borofsky; James Lee Byars; Fernando Calhau; Alberto Carneiro; John Coplans, Maya Deren; Jimmy DeSana; Trisha Donnelly; Simone Forti; Dara Friedman; Jack Goldstein; Dan Graham, Scott Grieger; Walter Gutman; David Hammons; Lyle Ashton Harris; Jenny Holzer; Peter Hujar; Joan Jonas; Richard Kostelanetz; Elad Lassry; Roy Lichtenstein; Kalup Linzy, Robert Longo; Nate Lowman; Robert Mapplethorpe; Anthony McCall; Paul McCarthy; Ray K. Metzker; MICA-TV; Robert Norris; Bruce Nauman, Claes Oldenburg; Yoko Ono; Dennis Oppenheim, Tony Oursler & Sonic Youth; Frank Owen; Jack Pierson; Yvone Rainer; Charles Ray; Martha Rosler; David Salle; Lucas Samaras; Raymond Saroff; Carolee Schneemann; Richard Serra; Cindy Sherman; Laurie Simmons; Jack Smith; Keith Sonnier; Rudolf Stingel; Francesc Torres; Andu Warhol; Hannah Wilke; Jordan Wolfson; Francesca Woodman.

Para quando, já agora, uma exposição de John Baldessari em Serralves?


John Baldessari "I will not make any more boring art", 1971


John Baldessari, "6 Colorful Inside Jobs", 1977 - filme 16 mm, 30 m, cor, mudo.

Jack Goldstein, "A Suit of Nine 7'' inch Records with Sound Effects", 1976,



Alberto Carneiro, "A Floresta", 1978 - fotografia e desenho s/papel (24 elementos)

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