sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Corpo - Exposição coletiva de artes plásticas

De 10 de Novembro a 31 de Dezembro, decorrerá na Casa Municipal da Cultura de Seia uma exposição coletiva de artes plásticas sobre o tema “O Corpo”. Integrada na programação das Jornadas Históricas de Seia, este ano dedicadas ao tema "A História e o Corpo", a exposição reúne um conjunto diversificado de obras de três dezenas de artistas.

A representação do corpo humano é indissociável da expressão artística ao longo dos tempos, desde a arte rupestre ao intenso diálogo entre Arte e Tecnologia que marca a contemporaneidade artística. Ao longo da História da Arte, o modo com os artistas representaram o corpo refletiu as crenças, valores, ideias e aspirações do seu tempo. E se o Desenho de modelo vivo ou a Pintura perderam algum entusiasmo representativo perante as competências realistas da fotografia e do cinema, a escultura continua a privilegiar a representação do corpo, com múltiplas abordagens ao sabor das estéticas e das linguagens plásticas.

Hoje representado sem impedimentos científicos e técnicos ou limitação moral, o corpo é a mesma máquina biológica complexa que os artistas da antiguidade representavam esquematicamente e que Leonardo da Vinci estudou e representou em segredo, desafiando todas as incompreensões da sua época. É o sistema complexo de órgãos e fluídos cujo equilíbrio e acerto funcional ainda hoje surpreende os cientistas, o produto de um código genético que desdobra a matéria imitada, o corpo como produto de uma evolução mas também habitáculo da “alma” e finalmente defunto (“o que perdeu a função”), condenado a perder-se na matéria informe.

Entre os artistas presentes, contam-se Adriana Matos, Alberto D'Assumpção, Alexandre Magno, Ana Carvalhal, Ana Maria, Belarmino Morgadinho, Carlos Godinho, Celeste Alves, Claudine Rodrigues, Dora Tracana, Eduardo Lóio, Fernando Saraiva, Francisco Nolasco, Henrique do Vale, Iliana Menaia, Irene Gomes, José Carlos Marques, José Gomez, Luiz Morgadinho, Miguel Carvalho, Pedro Prata, Raquel Rocha, Ricardo Cardoso, Rik Lina, Rui Gouveia, Seixas Peixoto, Sílvia Marieta, Sérgio Reis e Virgínia Pinto. Há ainda a destacar uma presença significativa de artistas da Secção do Cabo Mondego do Grupo Português Surrealista, que prometem alguma animação artística no dia da abertura.

Organizada em colaboração com a Associação de Arte e Imagem de Seia, a exposição encontra-se patente das 10 às 18 horas (segunda a sexta-feira) e das 15 às 17:30 horas (domingos e feriados).

Pintura de Irene Gomes

Obras de Henrique do Vale

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Natureza-morta na Europa, Parte II

Nos primeiros 16 dias, a aguardada segunda parte da exposição sobre o tema da "Natureza-morta" recebeu 25 mil visitantes, o que constitui um novo recorde do Museu Gulbenkian.

Inaugurada a 20 de outubro, a exposição abriu ao público no dia seguinte (Entrada: 5€ - Entrada + Audioguia: 6€), na Galeria de Exposições da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. A primeira parte foi apresentada neste mesmo espaço em 2010.

Intitulada “A Perspetiva das Coisas – A Natureza-morta na Europa, 1840-1955”, a mostra comissariada por Neil Cox apresenta as diversas abordagens do tema no contexto da modernidade novecentista e das vanguardas da primeira metade do século XX. O marco de 1955 não foi estabelecido ao acaso, trata-se do ano do falecimento da Calouste Gulbenkian.

Entre as obras apresentadas, destacam-se pinturas de Cézanne, Monet, Picasso, Braque, Matisse, Odilon Redon, Emil Nolde, Filippo de Pisis, James Ensor, Max Beckmann, André Derain,Magritte, Eduardo Paolozzi, Salvador Dali, entre outros nomes de referência da Pintura, cedidas por importantes museus europeus e americanos,

A exposição decorre até 08 de janeiro de 2012.

Odilon Redon (1840-1916) - Natureza-morta de 1901

Prémio Amadeo de Souza-Cardoso


terça-feira, 11 de outubro de 2011

JOSÉ RODRIGUES

"TRAVESSIAS DO DESENHO E DA ESCULTURA"

“José Rodrigues é autor de uma extensa obra, desenvolvida entre os anos 60 e a atualidade, nos domínios da escultura, da cerâmica, do desenho, da ilustração, da medalhística e da cenografia, que acompanha as alterações do campo artístico e estético, verificadas a partir da década assinalada, em que termina e sua formação académica e inicia uma longa carreira. Provavelmente mais conhecido pelas esculturas da sua autoria que se encontram no espaço público, nos planos nacional e internacional, há outras dimensões do seu trabalho que merecem ser mostradas, estudadas e debatidas. Se a escultura atingiu uma visibilidade que a dimensão de arte pública lhe garantiu, o desenho pode ter sido condenado ao intimismo e ao isolamento do atelier em função dos aspetos intrínsecos à sua criação.
Ao apresentar uma travessia do desenho produzido ao longo de décadas e ao pontuar, por esculturas, esse percurso, esta exposição define um diálogo entre dois meios e dois modos de expressão que mutuamente se desafiam, interpelam e confirmam.”

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais - Bragança, 15 de outubro de 2011 a 8 de janeiro 2012

Comissariado: Laura Castro / Organização: Árvore - Cooperativa de Atividades Artísticas, CRL; Câmara Municipal de Bragança/CACGM

"FOGO E FERRO FORJADO"

Arte fotográfica e fotojornalismo na primeira exposição individual de fotografia de Mário Jorge Branquinho

Até final de outubro, decorre no foyer do cineteatro da Casa Municipal da Cultura de Seia uma exposição de fotografia de Mário Jorge Branquinho.

Fotógrafo amador desde há muitos anos, participou em várias exposições coletivas de fotografia, tendo obtido alguns prémios. Esta é a sua primeira exposição individual.

Intitulada “Fogo e Ferro Forjado”, o interessante conjunto de imagens expostas reúne dois conceitos próprios da fotografia: a fotografia como arte e a fotografia como documento. Enquanto expressão artística de uma experiência sensorial que procura a cumplicidade estética do espectador, permite-nos o acesso a um ambiente ancestral, onde as matérias se transmutam em clarões de luz e forjas incandescentes, o postigo através do qual se vislumbram as poderosas energias contidas nas profundezas da Terra, uma pálida ideia do Inferno imaginado já pelos gregos (1). Algumas imagens são autênticas preciosidades, mostrando o homem no centro de um cenário apocalíptico que ele próprio desencadeia, rodeado de fogo e de calor, que despertam e animam as sombras. No fundo, uma estética clássica, despertando as formas nas sombras vazias do fundo, explorada na pintura por Rembrandt ou Caravaggio e que continua a resultar muito bem na fotografia, para acentuar o dramatismo das cenas ou destacar a intensidade emotiva das personagens. Enquanto testemunho e denúncia de uma realidade vivenciada, a exposição de Mário Jorge Branquinho apresenta-nos belíssimos exemplos de fotojornalismo, revelando as difíceis condições em que o homem é obrigado a ganhar a vida e o sustento da família no início da segunda década do século XXI, e enquadra-se perfeitamente no Cine’Eco – XVII Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela. Apesar da “nova fórmula”, o Cine'Eco continua, e bem, construído em torno de uma ideia abrangente de “Ambiente”, extensível aos meios urbanos e ao denominador comum da presença transformadora do Homem.

As fotos referem-se ao trabalho de reciclagem de ferro-velho na Metalúrgica Vaz Leal, em Loriga, “faina frenética na cor do fogo de artifício estrelado e saltitante, (…) ancestral, a ferro e fogo forjado, com as portas abertas ao mundo”, segundo o autor.

Ao longo dos seus 17 anos de vida, o Cine’Eco já ofereceu ao seu público variadas exposições, sempre ligadas ao Cinema ou ao Ambiente, com muitas surpresas agradáveis. Esta é, a meu ver, uma delas, servindo também para destacar a presença continuada de Mário Jorge Branquinho na direção executiva do Festival, desde a primeira edição, e o seu papel como agente organizador e dinamizador da Cultura em Seia.

Mário Jorge Branquinho nasceu no Sabugueiro (Seia) em junho de 1966.
Licenciado em Ciências Sociais, é responsável e programador da Casa Municipal da Cultura de Seia, no âmbito da qual tem impulsionado inúmeras iniciativas, entre elas a ARTIS - Festival das Artes em Seia. É Autor dos livros “Sentido Figurado” e “O Mundo dos Apartes” e tem sido, ao longo dos anos, colaborador de vários órgãos de imprensa local e regional.No domínio da fotografia tem participado em vários concursos, tendo alguns Primeiros Prémios.
Está ligado ao movimento associativo do concelho e é autor do blogue Seia Portugal.

(1)- Quando a ideia de “lugar para onde os mortos vão”, o Hades, se fundiu com Geena, “lago de fogo”, e o pior lugar do mundo passou a ser imaginado - e representado - como um lago de fogo.

“Fogo e Ferro Forjado” – exposição de fotografia de Mário Jorge Branquinho, foyer do cineteatro da Casa Municipal da Cultura. Até final de outubro. 2ª a 6ª: 10-18.00 horas. Até ao fim do Cine’Eco, 15 de outubro: 2ª a domingo, 10-23.00 horas.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Censura na arte - mera estratégia de marketing?

Mideo Cruz, "Politeísmo" (vista parcial)

A provocação artística, desafiando os valores instituídos, sempre foi apanágio de uma vanguarda mais interventiva, muitas vezes precipitada a denunciar o que lhe parece mal e atrapalhada na ânsia de corrigir ou salvar o mundo. A mudança não só é desejável como inevitável, pois “o mundo pula e avança” pelos caminhos que ele próprio reinventa, mas nunca é pacífica quando alguém a exige ou impõe unilateralmente.

Muitas das obras de arte atualmente consideradas obras-primas da Arte Universal, admiradas, estudadas, interpretadas, exibidas como exemplos, provocaram a indignação da sociedade do seu tempo, foram censuradas e alteradas ao sabor de ideais moralistas, serviram amiúde de pretexto para exaltar indivíduos e grupos, nem sempre justamente, ou para os perseguir e condenar sem piedade. Foi esse o preço do arrojo criativo dos artistas dessas épocas, que gerou mitos, lendas, santos, fantasmas e alguns mártires .

Hoje, a provocação pode servir uma ideia estética, visando, entre muitos outros objetivos, desgostar o espectador (Mark Rothko, por exemplo), confundir o público (Julian Schnabel, idem), horrorizar (Rudolf Schwarzkogler, ibidem) ou “irritar os estúpidos” (Eduardo Batarda), validando estéticas de certo modo marginais - como as estéticas do feio e do horrível, que não enjeitam as ferramentas da publicidade negativa. Outros artistas preferem, ou assumem por acréscimo, a provocação como estratégia de comunicação, para chegarem às massas pelo megafone do escândalo, e as suas obras chegam mesmo a ser aproveitadas para promover eventos, direcionando polémicas ou servindo de arma de arremesso em guerrilhas nem sempre do âmbito artístico.

Entre os casos mais recentes, lembremos o brasileiro Gil Vicente (n. Recife, 1958), cujas obras controversas ajudaram a promover a Bienal de São Paulo 2010. Vicente apresentou na bienal uma série de desenhos intitulada “Inimigos”, nos quais se autorretrata assassinando políticos brasileiros como Lula da Silva ou Fernando Henrique Cardoso e ameaçando com uma pistola o Papa Bento XVI, o presidente do Irão, a rainha da Inglaterra e o ex-primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon. A Ordem dos Advogados do Brasil considerou o conteúdo dos desenhos como uma "apologia ao crime" e exigiu a retirada das obras, argumentando: “Ainda que uma obra de arte expresse a criatividade de seu autor livremente e sem limites, deve haver determinados limites para a sua exposição pública”. As obras não foram retiradas e a bienal recebeu um acréscimo inesperado de visitantes.

Outro caso recente, aconteceu nas Filipinas em junho de 2011 e teve como centro uma instalação de Mideo M. Cruz (n. Manila, 1974) intitulada “Politeísmo”, considerada ofensiva. Integrada numa exposição coletiva no Centro Cultural das Filipinas, a obra de grande dimensão (ocupava três paredes) misturava as imagens de Cristo, Maria e José, com símbolos kitsch da cultura pop, entre os quais imagens do rato Mickey, da Estátua da Liberdade e de Barack Obama, e um crucifixo com um pênis móvel. A exposição foi encerrada após a inauguração e o artista recebeu ameaças de morte, apesar de ter declarado que não pretendera ofender mas sim “provocar debates e o pensamento crítico” sobre os mitos contemporâneos. A obra internacional de Mideo Cruz é dominada pela provocação, visando chocar o público com as evidências do realismo social defendido pelo movimento “Kulô”, no qual se integra. Tal como Chris Milado, um dos responsáveis pela polémica exposição, podemos defender que Cruz procura “refletir algo que existe na sociedade”, embora o resultado da ousadia fosse previsível. Que reação esperava o artista do público, colando símbolos do consumismo a representações de Jesus Cristo e da Virgem Maria e expondo o resultado em Manila, a capital do terceiro maior país católico do mundo? O país que, pela Páscoa, envia para o mundo imagens de extrema religiosidade, como autoflagelações sangrentas e crucificações ao vivo. E parece-me legítimo perguntar: teria Mideo Cruz a mesma projeção mediática se realizasse esta exposição em Paris, Londres ou Nova Iorque – cidades onde já expôs o seu trabalho?

Em Portugal, temos também casos recentes e bem distintos, pela sua escala trágica e magnitude bem mais modestas. Eles são já, na verdade, fruto dos tempos, e vão provocando alguma discussão em torno da função social da arte, dos mecanismos de difusão da arte contemporânea e dos critérios de promoção ou de controlo das obras e objetos artísticos. Falou-se mesmo de censura, mas casos como estes permitem segundas leituras e muito espaço para evasivas e planos B.

Em maio de 2010, a exposição de um jovem pintor de Vila do Conde na capela laicizada do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, foi encerrada após a inauguração pelo diretor desse espaço museológico, alegando que “as pessoas não aceitaram muito bem a ligação entre o tema e o espaço” (jornal Público). A instalação “Requiem by a young painter”, de Filipe Marques, realizada em 2000 na sequência de uma visita do artista a Auschwitz-Birkenau, tratava as ligações entre o regime nazi e a Igreja Católica e mostrava uma série de retratos de oficiais nazis colocados em volta do retrato do papa Pio XII. Naturalmente, foi arrojado da parte do artista encaixar num espaço religioso, mesmo que encerrado ao culto, a materialização de uma culpa de que o vaticano ainda não se redimiu e que magoa todos os católicos, tal como os judeus sentem algum desconforto quando os associam à morte de Jesus, ou os muçulmanos evitam falar dos atentados de 11 de setembro. Felizmente, a Associação Artística Vimaranense não concordou com a censura imposta a Filipe Marques pelo diretor do museu/monumento nacional, que preferiu encerrar a exposição a colecionar reclamações dos visitantes pagantes, e ofereceu de imediato a sua sede para mostrar sem reparos a instalação condenatória do jovem pintor vila-condense.

Outro caso, muito recente, foi o cancelamento da exposição de João Pedro Vale (n. Lisboa, 1976) e Nuno Alexandre Ferreira, ainda antes da inauguração, marcada para 2 de setembro de 2011 no Espaço Arte, em Lisboa. Quando a Companhia de Seguros Tranquilidade teve conhecimento da temática homossexual da exposição, foi pedido aos artistas que mudassem de tema de modo a não ferir a sensibilidade dos acionistas da companhia. Ora a exposição era o resultado de um projeto desenvolvido pelos artistas nos EUA. Não se muda assim, do pé para a mão, o tema a uma exposição, fosse por um imprevisto sinistro ou para agradar aos acionistas. Os artistas consideraram o caso uma “questão de homofobia” e acusaram a Tranquilidade de censura, com o apoio do Bloco de Esquerda. Intitulada “P-Town”, a exposição vai abrir finalmente a 8 de novembro 2011 na Galeria Boavista, Câmara Municipal de Lisboa.

Há poucos dias, as peixeiras de Aveiro exigiram a retirada de uma escultura em grés de Umbelina Barros (n. Caldas da Rainha, 1974) da entrada do mercado do peixe José Estevão. Intitulada “Garrafa”, a obra representa um falo das Caldas com 2,47 metros e foi ali colocada para promover a 10ª Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro (1 de outubro a 13 de novembro). A artista argumentou que “não era intenção ofender”, “é uma obra escultórica e não um insulto”, mas colocar um pénis gigante à porta das peixeiras aveirenses deu no mesmo que expor “Politeísmo” de Mideo Cruz em Manila. A vereadora do pelouro da cultura, Maria da Luz Nolasco, aceitou retirar a obra, que foi desmontada e levada de volta para as Caldas, mas Umbelina Barros colocara “a bienal de cerâmica de Aveiro no mapa” (TVI24). Resta acrescentar que a ceramista caldense participava na bienal com essa obra por convite da Câmara Municipal, como foi aliás noticiado.

No entanto, a polémica em torno da X Bienal de Cerâmica de Aveiro não se reduz à curiosa “garrafa” caldense, alargou-se à própria organização da mostra, com Maria da Luz Nolasco novamente no epicentro. A vereadora da cultura (que foi conservadora do Museu de Aveiro/Santa Joana até 2009 e diretora geral do Teatro Aveirense desde 2005), resolveu aproveitar os seus dotes criativos e utilizar como suporte das obras expostas, velhos eletrodomésticos recuperados e pintados com cores vivas. No seu blogue, no texto “Monstros em vez da bienal de cerâmica”, a ceramista Sofia Beça critica a opção e explica como os artistas participantes foram prejudicados com a “instalação” de Maria da Luz Nolasco na bienal.

Serão estes artistas controversos, de facto irreverentes, provocatórios, inspiradores? Ou inteligentes e arrojados estrategas de marketing? Ou serão ambas as coisas, uns melhor que outros – ou, pelo menos, com diferente atrevimento?

Quando são apanhados no rebentamento da onda que eles próprios criaram, ou ajudaram a criar, nem todos assumem imediatamente a irreverência artística, o arrojo criativo, o gosto de “chocar”, como seria de esperar e eticamente desejável – até para ocuparem com dignidade o devido lugar na história. Antes disso, mostram-se surpreendidos com as repercussões do caso. Que não queriam ofender. Que não aceitam ser censurados. Poucos podem refugiar-se no silêncio e no anonimato – como os 12 autores das caricaturas de Maomé em 2005, por exemplo, ou o fugidio autor do báculo fálico da estátua de D.João Peculiar em Braga (2003). O caso das caricaturas de Maomé, é um dossier condenado a ficar para sempre incompleto. Quanto à estátua do arcebispo de Braga que coroou D. Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal, vinha gente de toda a Península Ibérica em busca da galhofa e da fotografia comprometedora. “Todos entendemos a questão da estátua e do báculo”, disse D. António Dias, bispo auxiliar da diocese, antes da retirada da estátua do local, em 2007. E rematou: “É uma escultura infeliz”.