sábado, 19 de maio de 2012

Ai Weiwei e a responsabilidade social do artista

O artista e ativista chinês Ai Weiwei

Apesar da crescente abertura ao mundo, após reaver Hong Kong e Macau e no seguimento dos convites a Taiwan para integrar a República Popular da China, o governo chinês mantém sob fortes restrições os direitos e liberdades dos cidadãos e reprime com vigor a dissidência política. Esta inflexibilidade do governo chinês, pouco condizente com os pacíficos ensinamentos da filosofia tradicional chinesa e prioridades humanistas do socialismo internacional, tem sido desastrosa para a imagem e ambições internacionais do gigante asiático, sobretudo quando suscita o envolvimento de organizações internacionais não-governamentais (ONGs) credíveis, como a Human Rights Watch ou a Amnesty International, e a mobilização da opinião pública através das atuais tecnologias de informação e comunicação.

A repressão exercida sobre ativistas como Liu Xiaobo (Prémio Nobel da Paz de 2010), ou Ai Weiwei (arquiteto e artista chinês), conhecida e condenada em todo o mundo, vai reavivando a memória dos lamentáveis incidentes ocorridos em 1989 na Praça Tiananmen, de onde saíram muitos destes ativistas, e não favorece a imagem internacional da República Popular da China.

O artista chinês Ai Weiwei (n. Pequim, 1957) é conhecido sobretudo pelas suas obras de escultura, arquitetura e instalação, cuja originalidade não dispensa um contínuo desejo e busca de rutura. Logo em 1978, foi um dos fundadores do grupo vanguardista de arte “Estrelas”, que se desfez quando Weiwei foi estudar para os EUA, na Parsons School of Design e na Art Students League, em Nova Iorque. Regressou à China em 1993, por doença do pai (o poeta chinês Ai Qing), onde deu início a alguns projetos que o tornaram conhecido nos meios artísticos internacionais, especialmente o arquivo de arte contemporânea China Art Archives & Warehouse, uma galeria para divulgar a arte experimental chinesa, em Pequim, e o estúdio de arquitetura e design FAKE.

O seu primeiro projeto arquitetónico foi a sua casa-estúdio em Caochangdi, em 1998, mas a sua obra mais grandiosa, mundialmente aplaudida, é o Estádio Nacional de Pequim, “Ninho de Pássaro”, construído para os Jogos Olímpicos de 2008. Até esse ano, a carreira artística internacional de Wewei era relativamente conhecida e apreciada pelo público em geral, apesar das suas participações nos principais certames e mostras coletivas internacionais, para além das várias exposições individuais em galerias e museus de referência, na Ásia, Austrália, América do Norte, América do Sul e Europa.

Apesar de sempre ter criticado as orientações políticas da República (os seus pais estiveram detidos em Xinjiang por delito político), foi na sequência das suas investigações sobre a dimensão humana do terramoto de Sichuan que caiu em desgraça junto do poder político. A sua insistência em contabilizar e divulgar a lista completa de jovens estudantes que perderam a vida na catástrofe devido à má qualidade da construção das escolas públicas irritou o governo, que fechou o seu blogue. Weiwei foi também agredido pela polícia quando se manifestava contra a prisão de um colega da investigação, tendo publicitado a cirurgia a que foi submetido em Munique para conter uma hemorragia cerebral, alegadamente em consequência da agressão policial. Desde então, agudizou-se o controlo e repressão do artista e ativista chinês, que foi impedido de sair da China por motivos de segurança nacional, e posteriormente detido sob a acusação de evasão fiscal. Libertado em junho de 2011, após prometer parar com as críticas e pagar uma multa milionária pela alegada fuga aos impostos (que foi paga com a ajuda de uma campanha internacional), Weiwei continua a ser uma referência incómoda na diplomacia interna e externa da China, no dia (19 de maio 2012) em que o ativista cego Chen Guangcheng deixou o país rumo aos EUA, após ter fugido da prisão domiciliária – onde se encontrava por exigir direitos para os deficientes chineses e condenar o aborto forçado nas comunidades rurais.

(Continua em: "Artistas chineses contemporâneos e a responsabilidade social do artista")

Ai Weiwei, "Ninho de Pássaro", Pequim, 2008

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