domingo, 20 de maio de 2012

O Pintor António Cruz, o Realizador Manoel de Oliveira e a Cidade do Porto


O pintor António Cruz, na cena inicial de "O Pintor e a Cidade"
(VER o FILME no YouTube)

“O Pintor e a Cidade” é um documentário sobre a cidade do Porto em 1956 através do olhar do Pintor, António Cruz (Porto, 1907-1983), e do Realizador, Manoel de Oliveira (Porto, 1908), que também assinou a fotografia. As aguarelas (com destaque para a animação com aguarelas, muito feliz, a fechar o filme) e as fotografias em movimento sobre o Porto procuram acompanhar-se mutuamente, com momentos de grande intimidade. Ficaram todos bem no filme: o mestre António Cruz, um grande nome das artes portuenses, exímio aguarelista (1); o realizador português Manoel de Oliveira, à data já com 48 anos, a realizar o seu primeiro filme a cores – um dos primeiros do cinema a cores em Portugal (2) - que haveria de lhe proporcionar o primeiro prémio internacional da sua longa carreira, a Harpa de Ouro do Festival de Cork, na Irlanda, para além do Prémio SNI para a Melhor Fotografia.

Em entrevista a João Bénard da Costa, em 1989, Manoel de Oliveira falou sobre a importância de “O Pintor e a Cidade”:

"Em 1955 fui à Alemanha. Havia já um curso sobre a cor, que me começou a interessar muitíssimo. Fiz um curso na Agfa, curso intensivo sobre a cor durante um mês. Depois fui a Munique ver as máquinas, e embrenhei-me outra vez. Arranjei uma máquina e comecei pelo Pintor e a Cidade que foi o meu primeiro filme a côr e um dos primeiros filmes portugueses a cor.
Fiz O Pintor contra O Douro. Enquanto O Douro é um filme de montagem, O Pintor é um filme de êxtases. Eu descobri no Pintor e a Cidade que o tempo é um elemento muito importante. A imagem rápida tem um efeito, mas a imagem quando persiste ganha outra forma. O Pintor e a Cidade é uma obra fundamental na minha carreira, na mudança da minha reflexão sobre o cinema. É a primeira vez que eu volto as costas a um cinema de montagem".


Em entrevista ao crítico de cinema arménio naturalizado brasileiro, Leon Cakoff, Manoel de Oliveira disse sobre “O Pintor e a Cidade”:


 “O Pintor e a Cidade é o meu primeiro filme em cores e também o primeiro filme português em cores, revelado nos laboratórios da Tobis Portuguesa. É, ainda, o primeiro filme onde faço tudo: produção, direção, fotografia. Mais tarde arranjei um auxiliar para fazer um som póstumo. E esse filme hoje caracteriza-se pela banda sonora, que não tem uma qualidade de som extraordinária, mas é muito apreciada. (…) Como se tratava de um filme a cores, levei comigo o pintor António Cruz, um aquarelista muito particular, que tinha muitas aquarelas sobre a cidade, e que eu admirava. E assim se deu ao filme o nome O Pintor e a Cidade, como se dera o nome a Portugal, que deriva de Porto-Cal. É um documentário onde eu me ensaio como operador (camera men). Quanto ao mais, já tinha praticado tal coisa em filmes anteriores.”

E por falar de documentários a cores, refiram-se os breves filmes que o filho de António Silva Tavares tem colocado no YouTube, realizados nos anos 50 em Kodachrome 16mm, com imagens verdadeiramente históricas:


Imagens raras da demolição do Palácio de Cristal do Porto no fantástico filme de A. Silva Tavares.
(VER O FILME no YouYube)

(1) - "O Pintor e a Cidade - Cinquenta aguarelas sobre o Porto de António Cruz", Edições ASA, 2003.
(2) - O primeiro documentário português a cores terá sido realizado em 1952 na Ilha da Madeira por Abel Caetano Escoto (n. Águeda, 1919-Lisboa, 1991), que foi diretor de fotografia de grandes filmes portugueses das décadas de 50, 60 e 70, tendo trabalhado com os principais realizadores nacionais – mas nunca com Manoel de Oliveira. A primeira longa-metragem portuguesa a cores foi “A Raça”, filme realizado em 1961 por Augusto Fraga – com Caetano Escoto na direção fotográfica.

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