terça-feira, 26 de junho de 2012

A Máquina do Tempo em Cerveira



A Fundação Bienal de Cerveira vai apresentar na sua sala de exposições na Avenida das Comunidades Portuguesas, um conjunto de obras de artistas que marcaram as penúltimas décadas das Artes Plásticas nacionais e alguns estrangeiros (Jiri Kólar/Grupo 42, Mineo Aayamaguchi e Riuko Ishida) sob o tema “A Máquina do Tempo”.

Não se entende bem a oportunidade nem o contexto desta mostra e a citação de Augusto Canedo, comissário da exposição, não ajuda ao necessário esclarecimento: “…Perceber como o fator TEMPO pode esclarecer ou confirmar a relevância que é atribuída no contexto artístico, a obras e autores.”

Mesmo que engendrada para cumprir programa, a exposição reúne um largo número de artistas muito interessantes, idosos ou já falecidos, e a ideia do “fator TEMPO” pode remeter, afinal, para a velha questão da atualidade artística versus intemporalidade dos artistas e das suas obras. Uma questão aliás pertinente, dada a voracidade das modas e perenidade do sucesso num mundo (em geral) cada vez mais veloz, frenético, histérico, sobretudo por se encontrar refém das economias (pois há várias) e ser hoje moda reduzir o valor de tudo a cifrões.

Os artistas portugueses representados na exposição, ainda vivos e ativos, reconhecidos/premiados em Cerveira, são: Ana Vidigal (n. 1960, Lisboa), Clara Menéres (n. 1943, Braga), Costa Pinheiro (n. 1932, Moura), David de Almeida (n. 1945, São Pedro do Sul), Eduardo Nery (n. 1938, Figueira da Foz), Eurico Gonçalves (n. 1932, Abragão - Penafiel), Gracinda Candeias (n. 1947, Luanda - Angola), Helena Almeida (n. 1934, Lisboa), Henrique Silva (n. 1933, Castelões de Cepeda - Paredes), Jaime Azinheira (n. 1944, Peniche), José Rodrigues (n. 1936, Luanda – Angola), Júlia Ventura (n. 1952, Lisboa), Justino Alves (n. 1940, Porto), Manuel Batista (n. 1936, Faro), Maria José Aguiar (n. 1948, Barcelos), Pedro Manuel Casqueiro (n. 1959, Lisboa), Rocha Pinto (n. 1951, Lisboa), Romualdo (1948, Matosinhos), Rui Pimentel (n. 1949, Porto), Sebastião Resende (n. 1954, S. João da Madeira), Sobral Centeno (n. 1948, Porto), Zulmiro de Carvalho (n.1940, Valbom – Gondomar).

A exposição inaugura a 30 de junho e decorre até 22 de dezembro, nos horários habituais. 

domingo, 24 de junho de 2012

Exposição coletiva no Pátio Velho


A primeira exposição coletiva da Galeria Pátio Velho, inaugurada a 25 de maio 2012 com a presença de diversas entidades e grande número de convidados, abre ao público no próximo dia 1 de julho. A inauguração da exposição realiza-se no dia 30, pelas 18 horas.

domingo, 17 de junho de 2012

Como lidar com a crise: 3 fotógrafos na América da Grande Depressão

Com a crise instalada no vocabulário e no quotidiano de todos, nada melhor que evocar outras crises, para aliviar algumas queixas e compreender melhor o que se passa – porque, na verdade, “isto anda tudo ligado” (1). Nos EUA dos anos 30, fotografias “humanistas” encenadas serviram para passar a mensagem de que, apesar das dificuldades, do desemprego, da miséria e da fome, nenhum americano deveria desistir da esperança num futuro melhor. Era ainda a filosofia do “há sempre alguém em pior situação que tu, por isso deixa-te de queixas, levanta-te e vai à luta, por ti, pelos teus e pelo país”, reforçada em 1961 pela máxima de J. F. Kennedy, “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti mas sim o que tu podes fazer pelo teu país“ (2). Na banda desenhada, surgiram os super-heróis (3), cavaleiros andantes modernos com os atributos físicos necessários para espancar os vilões, frequentemente novos ricos gananciosos – uma figura com grandes responsabilidades no “Crash” de 1929 – e seus mandatários. No cinema, Chaplin adapta a personagem Charlot, o vagabundo cuja aparência e bons sentimentos passam a denunciar uma vítima do “crash” da Bolsa (4). Tal como o humor, extraordinariamente apurado em tempos de apertos económicos e/ou políticos, as artes são poderosos antidepressivos, as armas mais eficazes contra os malefícios psicológicos de qualquer crise. 

Entre 1929 e meados dos anos 40, os EUA passaram pela maior crise da sua história, a Grande Depressão, uma crise financeira criada pelos bancos americanos, com repercussões económicas e até políticas em grande parte dos países industrializados da época. Na Alemanha, por exemplo, ajudou o partido Nazi (“Nationalsozialistischen”) a conquistar o poder em 1933. Apanhado de surpresa com o “Crash” da Bolsa em 1929, o governo americano levou algum tempo a reagir à enormidade da desgraça e combateu a crise ao longo de uma década implementando um conjunto de medidas designado por “New Deal” (Novo Acordo). As principais medidas eram de natureza social, como a criação de empregos (aumento de obras públicas, diminuição do horário de trabalho) e de mecanismos assistenciais (seguro-desemprego e seguro-velhice para maiores de 65 anos), mas havia que tratar a parte psicológica e aumentar o ânimo de toda a nação. Foi então que a RA (Resettlement Administration), mais tarde designada por FSA (Farm Security Administration), um organismo federal criado pelo presidente Roosevelt no âmbito do “New Deal”, com o objetivo de promover o progresso rural) teve a ideia de contratar alguns escritores e fotógrafos para um programa fotográfico que decorreu entre 1935 e 1944. A fotografia de intenção social (concerned photography ou social documentary photography) teve origem no início do século XX mas só nos anos 30 se notabilizou como género, sobretudo graças à campanha da RA/FSA e às revistas de notícias do grupo da Time – que fundou em 1936 a Life Magazine, famosa pelas suas reportagens fotográficas de intenção social. Até aí, os grandes fotógrafos trabalhavam para os jornais, cujo negócio era vender notícias e por essa razão a imagem ficava quase sempre em segundo plano.Foram quinze os fotógrafos de primeira linha que trabalharam para a FSA: Walker Evans, Dorothea Lange, Gordon Parks, Theodor Jung, Edwin Rosskam, Louise Rosskam, Ben Shahn, John Collier, Sheldon Dick, Jack Delano, Russell Lee, Carl Mydans, Arthur Rothstein, John Vachon, Marion Post Wolcott. Tal como os escritores, seguiam as indicações criteriosas de Roy Stryker, diretor da divisão de informação da FSA, com o objetivo de mudar a imagem que a América tinha de si própria, “apresentar a América aos americanos”. O olhar triste e vazio de esperança de Allie Mae Burroughs (fotografada por Walker Evans em 1936) ou de Florence Owens Thompson (a “Mãe Migrante” fotografada por Dorothea Lange , 1936) mostraram a cada americano que não sofria sozinho as amarguras da crise, incentivando todos a ultrapassar as dificuldades, para o seu próprio bem e benefício do país.


"Dorothea Lange, "Mãe Migrante", 1936 

O que parece evidente nestas fotografias, é a intensidade dos conteúdos humanos, cruzando sentimentos e sensações em imagens de grande interesse social e complexo conteúdo político. Chamaram-lhes por isso fotografias “humanistas”, uma inspiração para o neorrealismo, também ele despoletado pela Grande Depressão. Com especial expressão no cinema e na literatura, o neorrealismo não prestou muita atenção à fotografia documental, que continuou a ser “humanista”, mas a fotografia documental americana deste período estabeleceu parâmetros formais e estéticos que marcaram a história da fotografia do século XX e permanecem hoje totalmente válidos, embora noutros contextos. Basta (re)ver algumas fotos premiadas nos diversos World Press Photo, por exemplo em 2011 e 2012.

Um das fotografias incontornáveis da época da Grande Depressão, exemplar em relação a tudo aquilo que fica dito, é uma foto magistral de Margaret Bourke-White, datada de 1937. Nessa foto, que pode ver AQUI, uma fila de negros para a sopa dos pobres em Louisville, corre junto a um cartaz onde se publicita o sonho americano “World highest standart of living” (O mais alto padrão de vida), podendo também ler-se “There’s no way like de American way” (Não há nada como o jeito americano). Comprometida com a LIFE Magazine, da qual foi a primeira repórter fotográfica feminina, Bourke-White não fez parte dos fotógrafos FSA mas também pretendia “apresentar a América aos americanos” através de imagens de grande oportunidade documental e conteúdo crítico, com inegável responsabilidade cívica. Anos depois, daria ao mundo um dos mais impressionantes testemunhos da barbárie nazi fotografando a libertação do campo de concentração de Buchenwald. Bourke-White foi a primeira mulher fotógrafa a trabalhar numa zona de guerra e a mais destacada fotógrafa americana da sua geração a correr mundo e a fotografar na intimidade grandes figuras mundiais desse tempo. São famosas, entre outras, as suas fotografias da mãe de Estaline (1931) e de Gandhi (1947), assim como impressionantes testemunhos fotográficos dos campos de concentração (libertação do campo de Buchenwald, 1945) e da guerra da Coreia (1950-1953).


Dorothea Lange nasceu em Hoboken, New Jersey, em 1895. Formada em fotografia pela Universidade de Columbia em Nova Iorque, trabalhou para diversos estúdios fotográficos nova-iorquinos até se mudar para San Francisco, onde abriu um bem-sucedido estúdio de retratos. Em 1920, casou com o pintor Maynard Dixon.Nos anos da Grande Depressão, foi contratada pela FSA e viajou pelos estados do sul e oeste dos EUA recolhendo imagens das condições de vida dos camponeses. Faleceu em 1965, vítima de cancro.


Margaret Bourke-White nasceu em Nova Iorque em 1904. Aventureira, percorreu o mundo como fotógrafa, tendo recolhido as primeiras imagens autorizadas em território soviético (1931), tendo fotografado a mãe de Estaline (1931) para fotografar Gandhi em 1947, testemunhar o extermínio de judeus nos campos nazis ou recolher. Foi a primeira repórter fotográfica das revistas Fortune e Life. As suas fotografias são conhecidas em todo o mundo e encontram-se expostas no Museu do Brooklin, no Museu de Arte de Cleveland e no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, entre muitos outros.Faleceu em 1971, com a doença de Parkinson.


Walker Evans nasceu em Saint Louis, EUA, em 1903.O seu trabalho ao serviço da F.S.A. foi determinante para a consagração como fotógrafo e a sua reportagem para a revista Fortune sobre os camponeses do Alabama na Grande Depressão foi considerada um dos expoentes máximos da fotografia documental e editada em livro (“Let us now praise famous men”). Em 1938, as suas fotografias integraram uma exposição do MoMA (Museum Of Modern Art de Nova York), a primeira dedicada por este museu a um fotógrafo. Faleceu em 1975.

Notas

(1) - “Isto Anda Tudo Ligado”, livro de poesia de Eduardo Guerra Carneiro (Chaves, 1942–Lisboa, 2004) publicado em 1970. A expressão, feliz, tem sido muito utilizada em diversos contextos, inclusivé por Sérgio Godinho, “Isto Anda Tudo Ligado” (letra e música) do álbum “Na Vida Real” (1986).

(2) - Discurso de tomada de posse como 35º Presidente dos EUA, 20 de janeiro de 1961. O discurso foi escrito por Ted (Theodore) Sorensen (1928-2010), que foi conselheiro de JFK entre 1953 e 1963.

(3) - No período da Grande Depressão nasceram os primeiros super-heróis da banda desenhada americana (Superman, Batman, Popeye) e outros heróis desenhados (Flash Gordan, Tarzan, Dick Tracy, Jim das Selvas, Mickey Mouse), primeiro nas tiras de jornais e como brindes, nas lojas, depois em forma de revista, dando início a uma das maiores indústrias da cultura do século XX.

(4) - O início da Grande Depressão coincidiu com a transição do cinema mudo para o sonoro e, nos anos 30, o cinema americano diversificou géneros e internacionalizou uma nova vaga de atores. Destacaram-se os filmes de Charles Chaplin, com destaque para “Tempos Modernos”(1936), as sonoras comédias anárquicas dos irmãos Marx ou as comédias românticas de Frank Kapra.Só em 1940 aparece um filme retratando os efeitos da Grande Depressão no oeste americano, “As Vinhas da Ira”, realizado por John Ford com base no romance escrito por John Steinbeck em 1939. Steinbeck receberia o Prémio Nobel da Literatura em 1962, em grande parte devido ao sucesso dessa obra literária popularizada pelo filme.

O primeiro museu da arte ao vivo, performance, instalação e filme


A 18 de julho de 2012 a Tate Modern abrirá oficialmente em Londres a primeira galeria-museu do mundo dedicado à arte ao vivo, performance, instalação e trabalhos em filme.

O novo espaço chama-se “The Tanks”, um conjunto de antigos tanques de óleo com 30 metros de comprimento e 7 de altura, acolhendo um conjunto de trabalhos cuja apresentação obriga a uma redefinição do conceito de museu. Juntamente com pioneiros da performance como Lis Rhodes (“Light Music”, 1976) e Suzanne Lacy (“The Crystal Quilt”, 1987), o tanque do lado este apresenta obras do jovem artista coreano Sung Hwan Kim (n. Seul, Coreia do Sul, 1975) representando a nova geração de artistas, e o tanque do lado sul mostra uma série de projetos de artistas que exploram a interseção de linguagens e meios artísticos, entre os quais Aldo Tambellini, Tania Bruguera, a bailarina e coreógrafa belga Anne Teresa de Keesmaeker e o bailarino Boris Charmatz.  

A abertura de “The Tanks” dará início a um festival internacional de performance e arte ao vivo  com a duração de 15 semanas (15 Weeks of Art in Action, Tate Modern, 18 de julho a 28 de outubro), e faz parte do Festival de Londres 2012 – o evento final das Olimpíadas Culturais, um programa de eventos culturais que acompanham os Jogos Olímpicos de Londres 2012.

MARIA KEIL (1914-2012)


Azulejos de Maria Keil no Metro de Lisboa

No passado domingo, dia 10 de junho, faleceu uma grande artista portuguesa do século XX, Maria Keil.

Artista multifacetada, com uma obra muito diversificada (pintura, ilustração, azulejaria, fotografia), trocou a pintura de cavalete pelo azulejo no início da década de 50, tornando-se uma artista de referência na azulejaria europeia do século XX. Após algumas exposições de pintura e de receber o Prémio de Revelação Souza-Cardoso em 1941 (1), decidiu acompanhar a obra do marido, o arquiteto Francisco Keil do Amaral (1910-1975) e “fazer coisas para a arquitetura” pois “não valia a pena continuar a pintar, o mundo está cheio de boa pintura” (2).

Fez parte do grupo de artistas que renovou o azulejo português (Jorge Barradas, Carlos Botelho, Bernardo Marques) seguindo a estética inspirada pelo artista suíço radicado em Portugal Fred Kradolfer (1903-1968), figura importante do grupo conhecido como “a equipa de António Ferro” (3), dominada pelo grafismo, sínteses figurativas geometrizadas e composições abstratas.

As suas primeiras obras de vulto datam de 1954 (painéis de azulejos para a delegação da TAP em Paris e no aeroporto de Luanda, atual Maputo) e ganharam grande visibilidade nacional com a encomenda do Metro de Lisboa em 1957. Até 1972, pesquisou e criou ritmos padronizados com vista a 19 estações do Metro, contribuindo com esse trabalho para o renascimento da fábrica Viúva Lamego, apesar dos problemas que foram adiando o pagamento à artista até que esta decidiu oferecer o seu trabalho à cidade de Lisboa.

O conhecimento da sua obra no estrangeiro intensifica-se nos anos 70, desde a exposição “Azulejos Portugueses” (Florença, 1970) e depois com a exposição itinerante “5 Séculos de Azulejo em Portugal” (Brasil e Venezuela, 1978). Em Portugal, destaca-se a exposição retrospetiva organizada em 1989 pelo Museu Nacional do Azulejo.

Datam dessa década os seus interessantes desenhos de gatos, ilustrando “O pau de fileira” (1977) e as colagens com imagens retiradas de revistas.

A idade avançada de Maria Keil (nasceu em 1914, em Silves) não limitou a curiosidade nem a criatividade da artista, que decidiu dedicar-se à fotografia aos 80 anos, realizando em 1997 a sua primeira exposição de fotografia: «Roupa a Secar no Bairro Alto» no Museu Nacional do Traje


As Artes nacionais são muito ricas e diversificadas, fazendo cada vez menos sentido distinguir as artes pela sua "nobreza" ou origens mais ou menos nobres, e a prova é que há lugar para a erudição em todas as áreas, do artesanato às artes digitais. Claro que estas distinções têm origem em interesses corporativos e comerciais, a maior parte dos critérios de "qualidade" artística são definidos de acordo com estes interesses, que são igualmente os mais "historiáveis", de mais fácil registo histórico. Mas à conta desses interesses nem sempre justificáveis, muitos artistas com obra interessante e de vulto vão ficando de parte, ignorados ou esquecidos. Espero que Maria Keil, que trocou a pintura de cavalete pela pintura de azulejo, não seja mais um deles, que a artista possa ser recordada e a sua obra revisitada - em Canas de Senhorim, por exemplo.
  
(1)– Promovido pelo SPN, com o óleo “Autorretrato”.
(2)-Entrevista ao Diário de Notícias em 2 de outubro de 1985.
(3)-Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmerico Nunes, José Rocha, Paulo Ferreira e Thomaz de Mello. Também conhecida por “Equipa do SPN” (Secretariado de Propaganda Nacional).

sábado, 16 de junho de 2012

A Arte inspira o Futuro

Alunos Finalistas do Curso de Artes Visuais expõem no foyer do cineteatro (1)

De 15 de junho a 15 de julho, os alunos finalistas do Curso de Artes Visuais da Escola Secundária de Seia mostram os seus trabalhos no Foyer do cineteatro da Casa Municipal da Cultura. Não se trata de mais uma exposição escolar, muito menos da reposição da XI Exposição de Arte que decorreu em abril, integrada na Semana das Artes do Agrupamento de Escolas de Seia. Trata-se, isso sim, da primeira exposição coletiva “a sério”, fora do âmbito escolar, num espaço de exposições credível, e por isso digna de registo no currículo destes futuros artistas, a primeira prova pública a que se submetem, o primeiro contacto com as exigências sociais da prática artística.
Antigamente, em dias nem por isso muito recuados, os aspirantes a artistas e os aprendizes em final de formação, submetiam uma obra ao julgamento superior dos mestres, na qual se esforçavam por condensar os conhecimentos iniciais ou já os frutos da aprendizagem em contexto oficinal: a “obra-prima”, termo atualmente com outro sentido. Hoje, valorizamos os exames de acesso e os exames finais em contexto escolar e universitário, faltando cada vez mais as provas afetivas e práticas de integração cultural eficaz, promovendo a responsabilidade social dos jovens na construção do futuro de todos. Neste caso, são jovens candidatos a artistas. Uma simples exposição pode inspirar e dar corpo a uma revolução maravilhosa, centrada nas capacidades criativas dos jovens e perspetivada para o futuro, que assenta pouco nas ideias falidas do presente.
A arte inspira o futuro. Basta ler as frases que este jovens “artistas” escreveram sobre si próprios e observar demoradamente as suas obras, para ficarmos com a certeza do novo rumo. Frases sem artimanhas adultas. Obras evidenciando já surpreendente domínio técnico, excelentes exercícios escolares. E quanto aos temas, aos conteúdos comunicativos enquadrados pelas suas preocupações juvenis, que podemos encontrar nas suas obras que nos marque para o resto das nossas vidas? Encontramos o olhar e a medida da juventude, a navegação novamente pelas estrelas, a gravitação em torno dos mais diversos mitos modernos, mas também a força centrífuga da criatividade que liberta o espírito lançando-o em novas direções, alargando os caminhos do conhecimento. Sublinhando o que fica dito no texto de apresentação da exposição, “Não temos dúvidas de que entre estes jovens autores se encontram os artistas de amanhã e este será mais um excelente motivo para uma visita atenta a esta exposição.”
Sérgio Reis
(1) - Texto publicado no jornal Porta da Estrela, 15/06/2012

Ana Rita Santos, “Elétrico”, 2011, pastel seco


Ana Rita Santos, “Jordan”, 2012, acrílico s/tela


Fernando André, “Tiki”, 2012, madeira e metal


Marco António Oliveira, “Leonardo Dali”, 2011/2012, Óleo s/tela


Marco António Oliveira, “O Livro”, 2011/2012, acrílico s/tela


Marco António Oliveira, “Gárgula”, 2011/2012, escultura em barro


 
Maria Isabel Mendonça, “Parque Terra Nostra”, 2011, acrílico s/tela


Maria Isabel Mendonça, “Cena Doméstica”, 2011, óleo s/tela


Nathalie João, “Paisagem nos Açores”, 2012, acrílico s/tela


Nuno Bastos, “Humanóide I”, 2012, acrílico s/tela

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ernesto de Sousa recordado em Guimarães e Serralves



Este sábado,16 de Junho, Ernesto de Sousa é recordado em Guimarães, com uma exposição documental no Centro de Assuntos de Arte e Arquitetura (CAAA), intitulada “Documentando Dom Roberto”, por ocasião do 50º aniversário do filme. A inauguração está marcada para as 14.30 horas, seguindo-se o lançamento do livro e de um DVD com o taking off. A esposa estará presente, assim como familiares e amigos.

"Dom Roberto", a única longa-metragem de Ernesto de Sousa (1921-1988), realizada em 1962 e contando com alguns dos atores portugueses mais afamados (Raul Solnado, Glicínia Quartin, Rui Mendes, Nicolau Breyner, …) foi premiado em Cannes ("Melhor Filme para a Juventude" e "Filme da Jovem Crítica") mas o realizador foi preso pela PIDE, polícia política portuguesa, quando saía do país para receber os prémios. Como não podia deixar de ser, a exposição recorda esta peripécia através das reações publicadas na imprensa estrangeira, o telegrama que realizadores de renome internacional (François Truffaut, Alain Resnais, Agnès Varda,…) subscreveram e foi enviado a Salazar, o diploma do Festival de Cannes, a censura, as polémicas e as críticas favoráveis nas melhores revistas estrangeiras sobre cinema, assim como diversos aspetos da vida e obra de Ernesto de Sousa.

A reposição do mixed-media “Almada, Um Nome de Guerra” está agendada para o dia 6 de julho, em Serralves. Almada Negreiros foi uma referência para Ernesto de Sousa, que divulgou incansavelmente a sua personalidade e obra. “Nome de Guerra” é o título de um romance de Almada Negreiros, escrito em 1925.

“Almada, Um Nome de Guerra” começou a ser produzido em 1969, com capital particular e contributos de artistas, críticos e cineastas amadores. Ficou terminado em 1973 e estreou em 1983, em Madrid. Trata-se de um filme-processo / filme-aberto, em 35 e 16 mm, projeções de slides e várias fontes sonoras, música de Jorge Peixinho interpretada pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.
A exposição gráfica e as projeções digitalizadas podem ser vistas em Serralves até 01 de setembro.

Ernesto de Sousa, artista pluridisciplinar que José Riço Direitinho apelidou de “Operador Estético” (Público, 28 de outubro 2011), destacou-se em vários domínios artísticos, com destaque para as artes visuais, cinema, teatro, sempre do lado das vanguardas, desenvolvendo igualmente importante atividade na área do jornalismo, rádio e crítica.

domingo, 10 de junho de 2012

NEVER SORRY



A realizadora e jornalista Alison Klayman realizou um documentário sobre o atista chinês Ai Wei Wei, Prémio especial do júri no Festival de Cinema de Sundance, 2012. Intitulado “Never Sorry”, o filme foi realizado quando Alison Klayman trabalhava na China e traça um retrato do conceituado e controverso artista.

EDVARD MUNCH: THE MODERN EYE

“Edvard Munch: The Modern Eye” – Tate Modern, Bankside – Londres, de 28 de junho a 14 de outubro 2012.


A partir de 28 de junho, a Tate Modern em Bankside, Londres, revela Edvard Munch (Noruega, 1863-1944) à luz do conhecimento atual do artista e da sua obra.

Intitulada “Edvard Munch: The Modern Eye”, a exposição inclui seis pinturas, algumas das quais cedidas pelo Museu Munch, em Oslo, assim como fotografias e filmes.

A obra do famoso pintor simbolista do século XIX foi marcada por tragédias pessoais e familiares, como é sabido, mas também por acontecimentos reais relatados nos jornais da época, como na pintura “A Casa está a Arder”, de 1925-27, e pelas inovações tecnológicas da sua época. Numa pintura de 1919-21, “O Artista e o seu Modelo”, representa os efeitos visuais criados pela iluminação elétrica e alguns dos seus quadros mais famosos revelam interesse pela linguagem cinematográfica (composições dominadas por linhas de força diagonais e figuras em primeiro plano para criar a ilusão do movimento) e pela fotografia. Tal como outros pintores do seu tempo (Bonnard e Vuillard, por exemplo), Munch dedicou-se à fotografia, tendo desenvolvido uma obsessão pelo autorretrato.  

A obsessão é uma das caraterísticas da obra de Munch, que pintou várias versões do mesmo tema e repetiu motivos de quadro para quadro, desde “A Menina Doente” (1885) ao seu quadro mais célebre, “O Grito” (inicialmente intitulado “Desespero”), do qual existem 4 versões e uma litografia. Foi a quarta versão de “O Grito”, a única na posse de um particular, que foi vendida em 2012 por 119,9 milhões de dólares (91,3 milhões de euros), estabelecendo um novo recorde nos leilões de arte.

Os estados depressivos repetiram-se pela vida adulta do artista, tendo sido tratado em França (Le Havre), Suíça e Alemanha (Bad Elgersburg). Nos anos 30, uma doença dos olhos afetou a sua pintura, tornando-a ainda mais melancólica e sombria. Faleceu na sua casa, perto de Oslo, aos 80 anos.

Duas versões do mesmo quadro: “Raparigas na Ponte”, c. 1899 (Nasjonalgalleriet, Oslo)  e 
“Quatro Raparigas na Ponte”, 1905 (Walraff-Richartz-Museum, Köln)

Trailer do filme “Edvard Munch”, realizado por Peter Watkins em 1976, com Geir Westby e Gro Fraas nos principais papéis.