terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Modernismo Feliz



Decorre até 28 de outubro no Museu do Chiado, em Lisboa, a exposição "O Modernismo Feliz - Art Déco em Portugal", que proporciona uma visão abrangente do modernismo português entre 1912 e 1960, recorrendo a obras de desenho, pintura e escultura, pertencentes na sua maioria à coleção do Museu (1).
O estilo Art Déco, termo criado apenas nos anos 60, combinava a arte das vanguardas artísticas do início do século XX com as artes decorativas de então, manifestando-se em todas as áreas artísticas – do desenho à arquitetura (2), sem esquecer as “artes industriais”, o design. Foi um movimento cosmopolita de síntese, com objetivos consensuais bem demarcados do modernismo contestatário, e disso resulta em grande parte a sua universalidade e sucesso internacional.
O primeiro grande momento histórico da Art Déco foi a Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas (Paris, 1925), internacionalizando-se ao longo dos anos 30. Uma expansão sem precedentes, a ponto de ser considerado o primeiro estilo artístico com dimensão mundial. Terminou com a II Guerra Mundial, numa Europa devastada e recetiva às influências americanas.
Em Portugal, que viu a guerra à distância mas sentiu os seus efeitos, o estilo Art Déco foi pré-anunciado pela I Exposição dos Humoristas Portugueses em 1912 e perdurou até 1960, “feliz e apaziguado” (3), em parte por agradar ao Estado Novo, mas sobretudo por ser consensual entre o pequeno grupo de artistas nacionais que ilustrava livros e revistas, realizava exposições, disputava os cobiçados prémios do SNI – Secretariado Nacional de Informação (4). Sem esquecer a importante ação pedagógica e promotora das artes desempenhada pela Sociedade Nacional de Belas Artes (5). E nesse sentido um certo modernismo português foi verdadeiramente feliz, acarinhado e protegido por António Ferro, antes da Fundação Calouste Gulbenkian assumir nos anos 60 relevante papel de apoio ao desenvolvimento das artes nacionais. Mas também pelo reduzido acolhimento nacional das propostas surrealistas e abstracionistas, assim como o reduzido espaço de respiração do neorrealismo, controlado e perseguido pelo Estado Novo, que teve pouca expressão nas artes plásticas portuguesas.

Comissariada por Rui Afonso Santos, a mostra reúne 112 obras de 34 artistas (pintores, escultores, desenhadores/ilustradores, caricaturistas, cenógrafos): Abel Manta (1888-1982), Adriano Sousa Lopes (1879 – 1944),  Amadeo Souza-Cardoso (1887-1918), António Soares (1894–1976), Armando de Basto (1884–1923), Bernardo Marques (1898-1962), Carlos Botelho (1899-1982), Cottinelli Telmo (1897-1948), Cristiano Cruz (1892-1951), Diogo de Macedo (1889–1959), Dordio Gomes (1890–1976), Eduardo Viana (1881–1967), Emile-Antoine Bourdelle (1861–1930), Ernesto Canto da Maya (1890–1981), Francisco Franco (1885-1955), Joaquim Martins Correia (1910-1999), Jorge Barradas (1894–1971), José de Almada Negreiros (1893–1970), José Tagarro (1902-1931), Joseph Bernard (1866-1931), Leopoldo de Almeida (1898–1975), Lino António (1914–1974), Maria Adelaide de Lima Cruz (1908–1985), Maria Barreira Gonçalves (1914–2010), Mário Eloy (1900–1951), Milly Possoz (1888–1967), Raul Xavier (1864–1964), Pinto de Campos (1908-1975), Roberto Araújo (1908-1969), Roberto Nobre (1903–1969), Ruy Roque Gameiro (1906–1935), Sarah  Afonso (1899–1983), Stuart Carvalhais (1887–1961), Vasco Pereira da Conceição (1914-1992).

Notas:
(1) - Algumas obras foram cedidas pelo Centro de Arte Moderna da Fundação  Calouste Gulbenkian, Museu do Teatro e Museu do Azulejo, para além de colecionadores  particulares.
(2) - Em Portugal, a magnífica Casa de Serralves, exemplar único da arquitetura Arte Déco. Construída entre 1925 e 1944 para o 2º Conde de Vizela, a Casa foi classificada em 1996 como “imóvel de Interesse Público”.
(3) - Texto do catálogo da exposição.
(4) - Dirigido por António Ferro desde a sua fundação, ainda como Secretariado de Propaganda Nacional, até 1950. A SPN/SNI promoveu exposições anuais de Arte Moderna, atribuindo os prémios de pintura “Columbano” e “Souza Cardoso”, o prémio de escultura “Manuel Pereira”, para além dos concursos de desenho, aguarela, ilustração, artes decorativas, cerâmica, cenografia e figurinos.
(5) - História da SNBA de 1901 a 2005, no site oficial da SNBA.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Ecce Mono" - Evoluções



No próximo ano, não vão faltar trabalhos de pesquisa nem teses de mestrado ou porventura de doutoramento sobre o fantástico tema do “Ecce Mono”. Como era de esperar, o caso é um sucesso mundial, beneficiando das potencialidades da Internet, a aldeia global em que vivemos, e permite estudar a construção de um fenómeno digno deste nosso tempo controverso e de controvérsias. A “feira” está a ser montada, como se pode ver aqui ou aqui.

No que respeita à obra perdida, os especialistas concluíram ser “muito difícil” recuperar a pintura original, fazendo algum sentido elaborar uma cópia da obra. De resto, corre já na Internet uma petição para que a nova versão do “Ecce Homo” de Elías García Martínez, da autoria de Cecília Jiménez, seja mantida como está.

Ou seja, tal como na comédia de Mr. Bean, a obra original entretando perdida pode ser substituída por uma cópia, um poster, mas seria igualmente criminoso destruir a obra intervencionada, afinal o mais célebre “restauro” conhecido.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Ecce Mono" ou "easy money"

A obra antes e depois do "restauro".

Tenho recebido vários mails e até vídeos sobre o caso do “Ecce Mono”. Todos de gente revoltada. Que não há direito. Que brada aos céus. Um atentado. Na província espanhola de Saragoça, uma idosa senhora dada às artes da pintura resolveu "reparar" um fresco do pintor Elías Garcia Martinez (1858-1934) existente na Igreja do Santuário da Misericórdia de Borja, “com boa intenção” mas “sem pedir permissão a ninguém”. O caso lembra a mutilação ficcionada da obra a “A mãe do Artista”, de James McNeill Whistler (1871), no filme “Bean: The Ultimate Disaster Movie” (Mel Smith, 1997).

Para além de um merecido lugar cimeiro no anedotário do restauro de obras artísticas (como diz o ditado, “Não vá o sapateiro além da sandália”), a inabilidade bem intencionada da senhora Cecília Jiménez deu projeção mundial ao até agora pouco conhecido Elías Garcia Martinez, autor da obra original, e criou uma situação comprometedora: a obra restaurada já é mais famosa que o original e vai tornar-se um objeto artístico procurado e cobiçado. A autora do "restauro" será certamente responsabilizada pela destruição de uma obra do século XIX e muita gente ganhará rios de dinheiro  a vender a história, as mais diversas reproduções do “mono” e eventualmente a própria obra, agora com a vantagem de ser "dois em um". A própria Cecília Jiménez arrisca-se a ser mais conhecida que  Elías Garcia Martinez.

A mãe de Whistler, no filme protagonizado por Rowan Atkinson, "Bean: The Ultimate Disaster Movie"

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Surrealismo internacional em Conímbriga


Durante o mês de setembro, o surrealismo vai conviver com a arqueologia no Museu Monográfico de Conímbriga, o que não deixa de ser uma situação… surrealista. Claro que muito boa gente, entre os quais um punhado de “entendidos”, remete frequentemente o surrealismo para a arqueologia do modernismo e faz tudo para o manter por lá. No entanto, o surrealismo mantém-se vivo e atuante um pouco por todo o mundo, a partir de grupos de artistas que seguem os ideais estabelecidos e difundidos por André Breton nos anos 20 e 30 do século XX (1). Esses grupos promovem com regularidade grandes exposições internacionais (2), sublinhando a universalidade e atualidade do movimento, inclusive em Portugal (3). Nos últimos anos, Coimbra tem sido palco de importantes exposições surrealistas internacionais, promovidas e organizadas por Miguel de Carvalho/Secção do Cabo Mondego do Grupo Surrealista Português e pelo pintor surrealista Santiago Ribeiro, promotor e comissário desta exposição – no seguimento da primeira “Surrealism Now”, que organizou em 2010 (maio/junho) na Casa Museu Bissaya Barreto e Convento de Santa Ana. Em 2011, Santiago Ribeiro organizou em Coimbra a exposição "Surrealismo Português e Argentino" no Recordatório da Rainha Santa Isabel (Coimbra, setembro/outubro) e, em 2012, participou na organização de importantes mostras europeias de surrealismo, como as "Surrealism Russian-Iberico in Madrid" (2012) e “Héritages Surréalistes” (Paris, 2012).

São 25 (apenas 24 referidos no cartaz) os artistas representados, com uma ou duas obras, oriundos de 15 países: Azerbeijão (Mehriban Efendi); Canadá (Daniel Hanequand); EUA (Magi Calhoun, Keith Wigdor, Shahla Rosa e Steve Smith); Espanha (Naiker Roman); Filipinas (Gromyko Semper);  França (Hugues Gillet e Liba WS); Holanda (Majisme Majo e Ton Haring); Indonésia (Sio Shisio), México (Hector Pineda); Polónia (Maciej Hoffman); Portugal (Francisco Urbano, Paula Rosa, Rui Silvares, Santiago Ribeiro e Victor Lages), Reino Unido (Brigid Marlin), Roménia (Dan Neamu); Rússia (Yuri Tsetaev e Maria Aristova); Vietname (Vu Huyen Thuong).

Integrada nas comemorações dos 50 anos do segundo museu mais visitado de Portugal, a mostra estará patente de 01 a 30 de setembro.

Notas:
(1)- Já agora, aproveito para destacar um interessante site sobre os anos 20, “Anos Loucos”, da autoria de “Cris Valmont”, onde não poderia faltar o Surrealismo. 
(2)- As primeiras grandes exposições internacionais realizaram-se nos anos 30: “International Surrealist Exhibition” (New Burlington Galleries, Londres, junho/julho 1936);  “Fantastic Art, Dada and Surrealism” (Museum of Modern Art, Nova Iorque, 1936); Exposition Internationale du Surréalism” (Galérie Beaux-Arts, Paris, janeiro e fevereiro de 1938).
(3)- Entre as mais recentes: Ciclo de exposições Phases em Portugal, em Castelo Branco (1977), Coimbra (Museu Machado de Castro, 1978), Estoril e Lisboa (1979), coorganizado por Cruzeiro Seixas e Edouard Jaguer, do movimento internacional Phases; Surrealismo e Pintura Fantástica  (Teatro Ibérico, Lisboa, 1984) com organização de Mário Cesariny e Carlos Martins; “Reverso do Olhar - exposição internacional de surrealismo atual” (Edifício do Chiado e Casa da Cultura de Coimbra, maio e junho 2008), organizadas por Miguel de Carvalho. “International Exhibition Surrealism Now” (Casa Museu Bissaya Barreto e Convento de Santa Ana, 2010), idealizada e coordenada por Santiago Ribeiro.

sábado, 11 de agosto de 2012

Desvios colossais



Há anos que se critica o elevado número de fundações que dependem da contribuição financeira do Estado para sobreviverem ou para desenvolverem a um nível mais ambicioso as suas atividades sem fins lucrativos. António Guterres criou em 2001 uma comissão destinada a “moralizar a criação e o acompanhamento das fundações”. Em 2011, não se sabia exatamente quantas fundações existiam em Portugal, foi essa a conclusão de um relatório do Tribunal de Contas após uma investigação do Diário de Notícias avançar um total de 640 em janeiro desse ano. Sabia-se apenas que eram um sorvedouro de dinheiro, um mata-borrão de isenções fiscais, o emprego de fregueses políticos. Comprometido com a troika e para mostrar serviço, o conselho de ministros aprovou em setembro a realização de um censo às fundações portuguesas “com o objetivo de reduzir o Estado paralelo”. Regulamentado pela primeira lei de 2012, a 3 de janeiro, o censo registou 578 fundações privadas e 135 públicas, dados avançados em março (1), estimando-se assim em cerca de 800 as fundações existentes em Portugal, “muitas porém sem qualquer atividade, situação que justificará a não participação de cerca de 200 fundações ao censo” (2). Das 558 fundações que responderam ao censo, foram avaliadas 190 (3), 106 das quais são privadas, 11 público-privadas e 73 públicas de direito privado. Algumas dessas fundações foram criadas a um ritmo frenético desde 2001 (4) e por vezes com pressa, como aconteceu na ponta final dos governos de Cavaco Silva em 1991 e de José Sócrates em 2009 (5).

Para além do reduzido número de fundações efetivamente avaliadas (190 num universo de 800), surpreende o insignificante número de extinções indicadas, sobretudo atendendo aos critérios referidos, tendo em vista a “avaliação do custo/benefício e viabilidade das fundações destinatárias do censo”: 11 fundações ligadas a autarquias (e redução dos apoios a outras duas) num universo de 130 fundações claramente tuteladas por organismos públicos, 50 das quais tuteladas pelas autarquias, 3 pelas freguesias e 4 pelas regiões autónomas. São elas a Fundação Santo Thyrso (Santo Tirso), a Fundação António Aleixo (Loulé), as fundações ligadas ao ensino profissional em Leiria, Setúbal, Vila da Praia da Vitória (Terceira, Açores) e Vila Franca do Campo (S. Miguel, Açores), a Fundação do Carnaval de Ovar, a Fundação para a Proteção e Gestão Ambiental das Salinas do Samouco (Alcochete), a Fundação Paula Rego e a Fundação D. Luís I (Cascais).

A tabela apresentada pelo jornal Público (6) é muito explícita e permite curiosas leituras, mesmo considerando que o critério da sustentabilidade (viabilidade económica e nível de dependência dos apoios financeiros públicos) pesa 50% na avaliação. As decisões prometidas em setembro de 2011 (7) e legisladas em janeiro de 2012 ficam reduzidas a uma dúzia de (in)decisões, prontamente contestadas pelas autarquias – e muito justamente, pois foram atropeladas por interesses mais “altos” e poderosos.  Nem por acaso, as fundações com melhor pontuação global são exclusivamente privadas. E entre as 60 primeiras só aparecem quatro fundações cujos organismos públicos que as criaram detêm o poder dominante.

Tal como aconteceu em 2001, embora noutro contexto e apesar do pânico orçamental de 2002 (8), a uma década do “desvio colossal”, temo que se tenha perdido mais uma oportunidade de disciplinar as fundações e não só, de as mobilizar totalmente para os fins (não lucrativos, na aceção exata do termo) que as tornaram necessárias, não substituindo o Estado no cumprimento dos seus deveres nem, muito menos, impondo ao Estado obrigações fictícias ou secundárias – essas sim, penalizadoras dos encargos públicos.

Notas:
(1) - Página do Ministério das Finanças, 02 de março 2012. Inquérito às fundações.

(2) - Segundo o relatório oficial da avaliação, datado de abril de 2012.

(3) - De acordo com o relatório, “responderam ao censo 558 fundações”, tendo sido avaliadas 401 (foram “excluídas 56 Cooperativas, Associações, Centros Sociais e/ou Paroquiais; 100 fundações constituídas ao abrigo do Direito Canónico; e 1 fundação entretanto extinta”). Dessas 401, 174 são fundações de solidariedade social (IPSS), cuja avaliação deverá ser concluída posteriormente pelas respetivas tutelas setoriais (Ministérios da Solidariedade e Segurança Social e da Educação e Ciência). Das 227 fundações restantes, 37 não foram avaliadas por “insuficiência de informação, tendo sido efetivamente avaliadas 190 fundações” (pág. 6).

(4) - 75 novas fundações aprovadas entre 2001 e 2009, com variados regimes jurídicos (públicas, privadas, privadas de direito público), 50 das quais entre 2005 e 2009, quando José Sócrates era primeiro ministro. Em janeiro de 2011, o Diário de Notícias noticiou que haviam sido criadas 88 novas fundações desde 2008, a um ritmo de uma a cada doze dias.
Recorde-se que 2001 é o ano da comissão criada por António Guterres para moralizar a aprovação de novas fundações. Segundo o jornal Público de 28/12/2009, os orçamentos do Estado de 2001 e 2002 registam 68,8 milhões de euros de subsídios a fundações, uma despesa pública que rondava já os 167 milhões entre 2007 e 2008, de acordo com um relatório da Inspeção Geral de Finanças de 2009.

(5) - 15 fundações foram reconhecidas pelos executivos em funções nos três meses que antecederam eleições legislativas, segundo o jornal Público.


(7) - A " extinção de todas as fundações públicas de direito público, bem como de todas as fundações públicas de direito privado (...) a redução ou a cessação de qualquer apoio financeiro a fundações públicas de direito privado e a fundações privadas (...) e o cancelamento do estatuto de utilidade pública".

(8) - Protagonizado por Durão Barroso no Parlamento: “Os senhores (o anterior governo, socialista) deixaram Portugal de tanga!”
Conhecer algumas fundações portuguesas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ALEX KATZ


Pintura de Alex Katz 

A pintura de Alex Katz carateriza-se pelas formas e cores planas, a simplicidade do desenho, construindo ao longo de décadas uma linguagem inconfundível. Trabalhando os temas clássicos, retrato, paisagem, estudo de figuras, marinhas e flores, quase sempre em grandes formatos, continua a tradição clássica de artistas eurpeus e americanos, como Manet, Matisse ou Hopper.

Katz começou a expor nos anos 50, quando o expressionismo abstrato era a força dominante na arte americana, primeiro na East Tenth Street, mudando-se depois para a 57th Street para trabalhar com Marlborough, e depois para Chelsea, onde trabalhou com a Pace/Wildenstein durante uma década.

Inicialmente encorajado e apoiado por De Kooning e Guston, Katz viria a desenvolver o seu trabalho em reação ao destes artistas e tornou-se conhecido como um dos percursores da Pop Art, movimento a que se juntaria nos anos 60.

Nasceu em 1927, em Brooklyn, Nova Iorque. Influenciou gerações de artistas, como David Salle, Peter Halley e Richard Prince, ou jovens pintores como Brian Calvin, Peter Doig, Elizabeth Peyton.

- Conhecer Alex Katz no seu estúdio de Nova Iorque.
- Entrevista para a Tate.

Verão no Algarve



Desde janeiro que eram esperados os efeitos da falta de financiamento no programa cultural de verão no Algarve mas não se esperava que fossem tão desanimadores. Criado pelo inesquecível ministro Manuel Pinho em 2007, o programa “Allgarve” foi condenado à extinção pela atual secretária de Estado do Turismo, Cecília Meireles, após a demissão do coordenador do programa, Augusto de Miranda, a 31 de dezembro de 2011. Segundo a governante, que fazia eco das críticas oriundas de diversos setores culturais, o programa Allgarve "Não foi a forma mais correta de promover a região".
A alternativa chama-se “Algarve com Eventos” e, de acordo com o presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve (ERTA), António Pina, seria "um programa que pretende valorizar as nossas coisas". Ou seja, em 2011 gastaram-se 4,6 milhões de euros com o programa Allgarve e, em 2012, serão principalmente os municípios a arcar com as despesas, assegurando as atividades que já organizavam ou apoiavam.
É certo que não falta animação, distribuída por “Emoção”, “Diversão”, “Sabores”, “Tradição” e “Sons”, mas não se esperava tanta ausência das artes plásticas na agenda. Sobretudo quando os municípios e particulares movimentaram “a prata da casa” e mobilizaram alguns recursos para garantir eventos artísticos dignos de nota, como por exemplo a exposição “Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom” (Palácio da Galeria, Tavira), “80 obras 40 artistas – Grandes Mestres da Pintura Portuguesa Contemporânea” (Praia de Santa Eulália, Albufeira, até 27 de agosto) ou a exposição de Graça Morais (Convento de Santo António, Loulé, até 15 de setembro).



No Palácio da Galeria, em Tavira, decorre até 01 de setembro a exposição “Coleção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom”, apresentando “uma visão abrangente e continuada da contemporaneidade plástica portuguesa” desde os anos 60. Podem ser apreciadas obras de Joaquim Rodrigo, Lourdes Castro, Paula Rego, Alberto Carneiro, Eduardo Batarda, João Vieira, Jorge Molder, Júlia Ventura, Helena Almeida, Fernando Brito, Manuel João Vieira, Marta Wengorovius, Rita Barros, Eva Mota, Álvaro Lapa, Sara Anahory,Miguel Soares, Joana Rosa, António Palolo, Gerardo Burmester, Joaquim Bravo, Maria José Oliveira e João Vilhena.

No Hotel Grande Real Santa Eulália, na Praia de Santa Eulália, Albufeira, encontra-se patente até 26 de agosto a exposição “80 obras 40 artistas – Grandes Mestres da Pintura Portuguesa Contemporânea”. As oitenta obras são assinadas por Alfredo Coelho, Augusto Patrão, Branislav Mihajlovic, Carlos Ramos, Celeste Maia, Cohen Fusé, Cruzeiro Seixas, Cutileiro, Damião Porto, Duma, Edna de Araraquara, Fernando Gerardo, Francisco Geraldo, Graça Morais, Guilherme Parente, Gustavo Fernandes, Jacinto Luís, João Quintella, José de Guimarães, José Grazina, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Maria Goretti, Marius Moraru, Molina, Noronha da Costa, Paulo Falcão, Paulo Ossião, Pedro Proença, Ricardo Paula, Rico Sequeira, Rogério Timóteo, Sobral Centeno, Teresa Gonçalves Lobo, Vasco Torres, Vieira-Baptista e Zé Cordeiro.

No Convento de Santo António, em Loulé, decorre até 15 de setembro a exposição “O sagrado e o profano: Graça Morais no Convento de Santo António”, pinturas e desenhos de Graça Morais que fazem parte da coleção da Fundação Paço d'Arcos.

De acordo com o Turismo do Algarve, esta região é conhecida “pelas suas praias, paisagens naturais, pelos seus bares e campos de golfe" (…), "pelos seus restaurantes, hotéis, monumentos e, claro, pela sua animação". Mas, já agora, aproveito para listar alguns eventos artísticos que marcam o verão algarvio “à revelia” da agenda do Turismo do Algarve:

Pintura "mole" de José Subtil

Albufeira: exposição de pintura de José Subtil “Rústicos em Arte Mole”, na Galeria de Arte Pintor Samora Barros até 27 de agosto; “Fantasia Tinta e Pincel” pintura de Carla Neto, na Galeria Municipal de Albufeira até 08 de setembro.

Aljezur: exposição do Grupo Artefacto (Zoran, Tereza Trigalhos, Elsa Oliveira e Carlos Gargaté), no Edifício dos Paços do Concelho, até 31 de agosto.

Alte: exposição de fotografia de Luís da Cruz.


Faro: 1ª Manga & Comic Event, a 18 e 19 de agosto.

Lagoa: decorre até 25 de agosto a Arte Algarve Open V, na Galeria Arte Algarve, antiga adega adaptada a salão de exposições pelo escritor Rolf Osang; exposição “Diversidades”, pintura de Alda Viola, no Convento de S. José, até 04 de setembro.



Lagos: exposição “Planta”, coletiva de artistas residentes do LAC (A. Pedro Correia, Alexandre Oliveira, Bruno Guerreiro, Cruzes, Eduarda Coutinho, Henrique Pereira, Jorge Pereira, Jorge Rocha e Raymond Dumas), até 13 de outubro.

Loulé: para além da exposição de Graça Morais, pode ver-se a pintura de Sofia Aguiar e Tomás Colaço (Galeria de Arte do Convemto Espírito Santo, até 18 de agosto), assim como exposições de fotografia de Marco António Cruz, Pedro Barros, Álvaro Figueiredo.

Quarteira: exposição de fotografia de Aleksandre Rafvaslovic.

Portimão: a ArteJovem @ Portimão abrirá a 11 de agosto (19 horas) na Casa Manuel Teixeira Gomes. O concurso/exposição visa incentivar e promover jovens artistas naturais, residentes ou estudantes na região do Algarve, atribuindo prémios nas áreas da pintura/ desenho, escultura/instalação; fotografia (digital ou analógica); ilustração digital; instalação multimédia; vídeo/realização. A mostra encerrará a 31 de agosto.

S. Bartolomeu de Messines: exposição do Grupo “Nove”, na Casa Museu João de Deus até 31 de agosto.

Tavira: exposição de obras de fotógrafos da United Press, “Mundo 2012”, no Quartel da Atalaia até 25 de agosto.
  
Vila Real de Santo António: exposição retrospetiva de escultura de Arlindo Arez, reunindo “dois materiais distintos, madeira e pedra, unidos por um tema comum: a Mulher”. Até 24 de agosto no Arquivo Histórico Municipal.

Fontes:
Algarve Eventos
Fontes municipais e associativas

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Arquitetos portugueses na Bienal de Arquitetura de Veneza

Siza Vieira receberá mais um prémio, o Leão de Ouro da Bienal

O incêndio no Chiado (25 de agosto de 1988) é a referência temporal da participação portuguesa na Bienal

No dia 29 de agosto, abrirá ao público a 13ª Bienal de Arquitetura de Veneza, na qual irá participar um conjunto diversificado de arquitetos portugueses. Este ano, o tema da Bienal é “Common Ground” (Terreno Comum) e, sob o título “Lisbon Ground”, serão mostrados no pavilhão português (Fondaco Marcello) grandes projetos de arquitetura realizados em Lisboa nos últimos 24 anos, desde o incêndio no Chiado (agosto de 1988). No final de junho, a organização da Bienal anunciou a atribuição (1) de um Leão de Ouro a Siza Vieira, em cerimónia a decorrer no dia 29 de agosto, às 11 horas.

A seleção do tema e dos participantes voltou a ser polémica, tendo a comissária Inês Lobo explicado essa escolha na apresentação da representação oficial (2), e comissariar é de facto fazer (e assumir) escolhas com base em critérios compreensíveis, embora tenha merecido críticas o elevado número de arquitetos e a sua possível identificação com António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. A verdade é que são nomes de referência da arquitetura portuguesa da atualidade e que os seus projetos mudaram o terreno/território comum da capital, para lá de qualquer discussão sobre a pertinência da localização geográfica das obras: a recuperação da zona do Chiado (Siza Vieira), o MUDE-Museu do Design (Ricardo Carvalho e Joana Vilhena), o Museu dos Coches (do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha – Bak Gordon Arquitetos), o terminal de cruzeiros de Lisboa (Carrilho da Graça), o estudo urbano para o Parque Mayer e Jardim Botânico (Manuel e Francisco Aires Mateus) a requalificação da Ribeira das Naus (dos arquitetos paisagistas João Nunes e João Gomes da Silva).
  

Maqueta (Norigem) do novo Museu dos Coches (projeto de Paulo Mendes da Rocha)


(1)-com uma citação de Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego: “Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não, do tamanho da minha altura”. No texto que justifica a atribuição do Leão de Ouro, pode ler-se: “Supostamente correndo na direção oposta à do resto da profissão, ele parece estar sempre à frente, aparentemente imaculado, e não se intimida com os desafios práticos e intelectuais que define para si mesmo.”
(2)-A 20 de junho, no auditório do novo Museu dos Coches, ainda em construção.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"Feira das Atrocidades" no Pátio-Velho


Dois momentos da performance de Ricardo Cardoso na Galeria Pátio-Velho.




"Arte", de Yasmina Reza, com encenação de António Feio


Nova atualização em 26 de fevereiro 2016:

Gravado em 1998, no Teatro de Nacional de S. João, “Arte” é um exercício crítico sobre a arte atual, construído em torno de um quadro branco, com riscas brancas transversais. A versão portuguesa teve encenação de António Feio, que também interpretou o papel de Sérgio.  José Pedro Gomes e Miguel Guilherme assumiram com brilhantismo os restantes papéis (Mário e Ivo, respetivamente).

Yasmina Reza nasceu em Paris em 1960 e escreveu “Arte” em 1994. O trabalho dos portugueses (destacando-se o de interpretação e encenação do saudoso António Feio, falecido em 2010) nada fica a dever a representações da mesma peça em França, logo em 1994 (com Fabrice Luchini, Pierre Vaneck et Pierre Arditi nos principais papéis) e noutros países, como a Grã-Bretanha, Rússia e Espanha (ver site da peça).

As preocupações artísticas eram uma faceta incontornável de António Feio. Em 1990,  encenou a peça “Vincent”, do ator e escritor americano Leonard Nimoy (mundialmente conhecido pela sua participação em "Star Trek", como Spock) , que foi reposta em 2005 (Teatro Villaret), sempre com Virgílio Castelo no principal papel. Estreada por ocasião do primeiro centenário da morte de Van Gogh, esta peça mostra “ a forma como as sociedades maltratam os artistas em vida".

Outro trabalho fantástico de dupla António Feio e José Pedro Gomes foi a peça “O que diz Molero”, de Dinis Machado, levado à cena no Teatro D. Maria II, em 1994.



António Feio em "O que diz Molero"


Ver a peça “Arte” no YouTube:

Parte 8/8: http://youtu.be/Qfg-njVyiEQ

"Arte" em 2016 (Teatro Tivoli e Teatro Sá da Bandeira)