terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Modernismo Feliz



Decorre até 28 de outubro no Museu do Chiado, em Lisboa, a exposição "O Modernismo Feliz - Art Déco em Portugal", que proporciona uma visão abrangente do modernismo português entre 1912 e 1960, recorrendo a obras de desenho, pintura e escultura, pertencentes na sua maioria à coleção do Museu (1).
O estilo Art Déco, termo criado apenas nos anos 60, combinava a arte das vanguardas artísticas do início do século XX com as artes decorativas de então, manifestando-se em todas as áreas artísticas – do desenho à arquitetura (2), sem esquecer as “artes industriais”, o design. Foi um movimento cosmopolita de síntese, com objetivos consensuais bem demarcados do modernismo contestatário, e disso resulta em grande parte a sua universalidade e sucesso internacional.
O primeiro grande momento histórico da Art Déco foi a Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas (Paris, 1925), internacionalizando-se ao longo dos anos 30. Uma expansão sem precedentes, a ponto de ser considerado o primeiro estilo artístico com dimensão mundial. Terminou com a II Guerra Mundial, numa Europa devastada e recetiva às influências americanas.
Em Portugal, que viu a guerra à distância mas sentiu os seus efeitos, o estilo Art Déco foi pré-anunciado pela I Exposição dos Humoristas Portugueses em 1912 e perdurou até 1960, “feliz e apaziguado” (3), em parte por agradar ao Estado Novo, mas sobretudo por ser consensual entre o pequeno grupo de artistas nacionais que ilustrava livros e revistas, realizava exposições, disputava os cobiçados prémios do SNI – Secretariado Nacional de Informação (4). Sem esquecer a importante ação pedagógica e promotora das artes desempenhada pela Sociedade Nacional de Belas Artes (5). E nesse sentido um certo modernismo português foi verdadeiramente feliz, acarinhado e protegido por António Ferro, antes da Fundação Calouste Gulbenkian assumir nos anos 60 relevante papel de apoio ao desenvolvimento das artes nacionais. Mas também pelo reduzido acolhimento nacional das propostas surrealistas e abstracionistas, assim como o reduzido espaço de respiração do neorrealismo, controlado e perseguido pelo Estado Novo, que teve pouca expressão nas artes plásticas portuguesas.

Comissariada por Rui Afonso Santos, a mostra reúne 112 obras de 34 artistas (pintores, escultores, desenhadores/ilustradores, caricaturistas, cenógrafos): Abel Manta (1888-1982), Adriano Sousa Lopes (1879 – 1944),  Amadeo Souza-Cardoso (1887-1918), António Soares (1894–1976), Armando de Basto (1884–1923), Bernardo Marques (1898-1962), Carlos Botelho (1899-1982), Cottinelli Telmo (1897-1948), Cristiano Cruz (1892-1951), Diogo de Macedo (1889–1959), Dordio Gomes (1890–1976), Eduardo Viana (1881–1967), Emile-Antoine Bourdelle (1861–1930), Ernesto Canto da Maya (1890–1981), Francisco Franco (1885-1955), Joaquim Martins Correia (1910-1999), Jorge Barradas (1894–1971), José de Almada Negreiros (1893–1970), José Tagarro (1902-1931), Joseph Bernard (1866-1931), Leopoldo de Almeida (1898–1975), Lino António (1914–1974), Maria Adelaide de Lima Cruz (1908–1985), Maria Barreira Gonçalves (1914–2010), Mário Eloy (1900–1951), Milly Possoz (1888–1967), Raul Xavier (1864–1964), Pinto de Campos (1908-1975), Roberto Araújo (1908-1969), Roberto Nobre (1903–1969), Ruy Roque Gameiro (1906–1935), Sarah  Afonso (1899–1983), Stuart Carvalhais (1887–1961), Vasco Pereira da Conceição (1914-1992).

Notas:
(1) - Algumas obras foram cedidas pelo Centro de Arte Moderna da Fundação  Calouste Gulbenkian, Museu do Teatro e Museu do Azulejo, para além de colecionadores  particulares.
(2) - Em Portugal, a magnífica Casa de Serralves, exemplar único da arquitetura Arte Déco. Construída entre 1925 e 1944 para o 2º Conde de Vizela, a Casa foi classificada em 1996 como “imóvel de Interesse Público”.
(3) - Texto do catálogo da exposição.
(4) - Dirigido por António Ferro desde a sua fundação, ainda como Secretariado de Propaganda Nacional, até 1950. A SPN/SNI promoveu exposições anuais de Arte Moderna, atribuindo os prémios de pintura “Columbano” e “Souza Cardoso”, o prémio de escultura “Manuel Pereira”, para além dos concursos de desenho, aguarela, ilustração, artes decorativas, cerâmica, cenografia e figurinos.
(5) - História da SNBA de 1901 a 2005, no site oficial da SNBA.

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