terça-feira, 30 de abril de 2013

ARTIS XI - Festival de Artes Plásticas de Seia

Imagens da abertura (atualização do post em 05/05/2013)



No dia 4 de maio, arranca em Seia o Festival de Artes Plásticas – ARTIS XI, promovido pela Associação de Arte e Imagem de Seia em parceria com a Câmara Municipal. O festival proporciona aos artistas locais a oportunidade de mostrarem o seu trabalho no contexto de um evento criado em 1999 como Exposição Coletiva dos Artistas Senenses e que abrange atualmente as áreas da pintura, escultura, fotografia, performance e música.

A exposição de Artes Plásticas será inaugurada pelas 21 horas nas Galerias da Casa Municipal da Cultura e Foyer do Cineteatro, com a presença de entidades oficiais e artistas. O espaço da mostra alarga-se à sala de exposições temporárias do Posto de Turismo de Seia.

Pelas 22 horas, terá lugar no Cineteatro da Casa Municipal da Cultura uma homenagem aos artistas Tozé Novais (música), Carlos Moura (fotografia) e Ana Carvalhal (pintura).

A cerimónia de abertura conta ainda com a participação da Orquestra do Conservatório de Música de Seia, o primeiro espetáculo de um festival com cerca de um mês de duração e cuja principal novidade é a Mostra de Música Moderna de Seia, com os objetivos de revelar e valorizar os talentos locais num concerto único, oferecido à comunidade.

Embora aberto aos mais diversos contributos artísticos, sem limitação de géneros ou técnicas, o ARTIS XI tem como tema aglutinador a "(DES) FORMATAÇÃO", assim mesmo em maiúsculas para injuriar a crise, apelando à autocrítica e renovação da atitude e produção artística.

Programa completo no site da Casa Municipal da Cultura.
Mais informação no blogue Artis de Seia.

domingo, 28 de abril de 2013

José Santos em Mangualde


José Santos vai mostrar os seus trabalhos em Mangualde, na Biblioteca Municipal, de 4 a 31 de maio 2013. Intitulada "Luzes", a exposição mostra novas fotografias da série "Luzes", que o autor vem acrescentando desde a sua primeira exposição individual, em 2009, no Museu Grão Vasco em Viseu.

A fotografia de José Santos enquadra-se na técnica "light painting" (mais propriamente, "camera painting", pois é a câmara que é usada como "pincel"), distinguindo-se pela qualidade da composição, dinamismo de formas e utilização efusiva da cor em fundos negros - o vazio onde tudo começa, o nada de onde tudo provém.

Inauguração a 4 de maio, pelas 16 horas.

"She Changes" Matosinhos


Janet Echelmann, "She Changes"

Quem chegar a Matosinhos pelo lado do Castelo de S. Francisco Xavier (Castelo do Queijo) e do Parque da Cidade do Porto (o maior parque urbano do país, da autoria do arquiteto paisagista Sidónio Pardal) ou descendo a Estrada de Circunvalação até ao mar, encontra uma gigantesca rede de pesca pairando sobre a Praça da Cidade de S. Salvador, a rotunda que separa o Porto de Matosinhos.

Trata-se de uma das principais obras da escultora norte-americana Janet Echelmann, cujas esculturas com redes podem ser encontradas em cidades como Madrid, Roterdão, Nova Iorque ou Nova Jérsia, mas a escultura de Matosinhos, pelo aparato da estrutura, qualidades dinâmicas e permanente interação com o meio, deverá ser considerada uma instalação.

Suportada por três enormes mastros estaiados, o mais alto com 57 metros de altura, a escultura-instalação tem a forma de uma gigantesca rede de pesca, com uma altura equivalente a um prédio de 7 andares. Na realidade são duas, uma exterior e outra interior, presas ao gigantesco anel de 42 metros de diâmetro, por sua vez  suspenso dos 3 mastros.

A aquisição e localização da obra são justificadas pela alusão à atividade piscatória no concelho de Matosinhos, responsável pela sua importância industrial no ramo das conservas de peixe, homenageando “os pescadores da terra que corajosamente se aventuram mar adentro”(1). Atendendo à sua forma, que à noite ganha cores para sugerir transparências, o povo chama-lhe “anémona gigante”. Na verdade, intitula-se “She Changes”, enfatizando a constante mudança de forma da estrutura por ação do vento e da iluminação noturna.

A obra custou cerca de 900 mil euros (2), incluindo a construção da rede e da estrutura de suspensão, pagos pelo Programa Polis, e foi inaugurada em dezembro de 2004, quando Narciso Miranda era presidente.

A rede resistiu cerca de 3 anos às nortadas e borrascas de inverno. Como as negociações com a escultora para a substituição da rede não avançavam, a CMM interpôs uma providência cautelar e, em fevereiro de 2008, retirou mesmo a rede invocando o “estado de necessidade”. Poucos meses depois, a rede foi substituída por uma réplica, construída  num material mais resistente, com garantia de cinco anos e um custo de 170 mil euros, segundo o JN.  Cerca de ano e meio depois, a rede apresentava já evidentes sinais de detioração.

2006. A primeira rede, vista da rampa de acesso ao areal da Praia de Matosinhos.

2010. A segunda rede, vista do passeio da marginal. Repare-se na amarração do mastro. Ao fundo, o Edifício Transparente.

She Changes” tem sido muito fotografada ao longo destes quase 9 anos. Algumas das melhores fotos devem-se a José Pestana (fevereiro 2008), Ricardo Vilela (2011) ou Pedro Sarmento (2013).

(1)-Site da CMM.
(2)-METRONEWS, 04 julho 2008

sábado, 27 de abril de 2013

Fernando de Azevedo - Ensaio e Crítica



Duas grandes personalidades da cena artística portuguesa do século XX, Fernando de Azevedo e José-Augusto França, (re)apresentam-se ao público a pretexto do lançamento de um livro de ensaio e crítica.

O artista surrealista Fernando de Azevedo (V. N. Gaia, 1923-Lisboa, 2002) estreou-se em exposições em 1943, na companhia de Vespeira e Júlio Pomar mas o seu nome ficou para sempre ligado ao movimento surrealista português, sendo cofundador do Grupo Surrealista de Lisboa (1947). O Grupo desfez-se em 1949 mas Azevedo continuou a expor as suas obras de inspiração surrealista e depois abstracionista, conciliando a atividade de artista com a de crítico, consultor artístico e gestor cultural – na direção do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, na presidência da Secção Portuguesa da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) e como presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes, de 1979 até à sua morte, em 2002.

É sobretudo esta faceta de crítico que se pretende destacar com este volume de “ensaio e crítica”, apresentado por um autor de referência no estudo das artes nacionais, José-Augusto França (n. Tomar, 1922), também ele ligado ao Grupo Surrealista de Lisboa, à Sociedade Nacional de Belas Artes e à FCG.

Em 2004, foi inaugurado em Tomar o Núcleo de Arte Contemporânea José-Augusto França, que inclui um importante conjunto de obras do surrealismo português.

sábado, 20 de abril de 2013

Sandomil

Entre ecos de antigos pergaminhos e a promessa do turismo que tarda em chegar

Campos de Sandomil, abril de 2013

Sandomil, 19 de abril 2013: os montes verdes do vale do Alva em manhã de sol, com a Serra da Estrela como fundo, as águas do irrequieto Alva murmurando aos nossos pés, os socalcos dos vinhedos em terras altas, ao abrigo das cheias de inverno, o solo recortado em panos terrosos e vegetais.

O rio Alva é o pequeno Nilo da região, o bem mais precioso desta gente teimosamente trabalhadora, agarrada à terra pelo suor e pelo pão. Pacato e quase omisso no verão, galga furiosamente as margens no inverno, ensopando a terra, despertando o húmus. A terra é tão fértil que até as estacas do plantio florescem, não é preciso lutar com a natureza para lhe extrair bons frutos – e por isso é famosa a vocação agrícola de Sandomil.

Em 2009, foi anunciada com pompa a criação do Museu da Agricultura e da Alimentação no arruinado Solar dos Condes de Sandomil. De acordo com notícias da época, publicadas em vários jornais regionais e até nacionais, o anunciado espaço museológico pretendia “recriar de forma interativa a história da alimentação, exercendo alguma pedagogia sobre os comportamentos alimentares”. Atualmente, apenas se conhece em Sandomil o “museu agrícola” do Sr. Rui Mendes, que guarda em sua casa uma vasta coleção particular de alfaias agrícolas e outras ferramentas do agro.

Também se falou em tempos do projeto de um museu da água para o Solar dos Condes de Sandomil, mas a jóia sandomilense no rio Alva é a ponte “romana” (um belo exemplo de engenharia medieval, cujo tabuleiro em cavalete é suportado por quatro arcos de volta perfeita com talha-mares) e a beleza da paisagem envolvente, onde existe uma boa praia fluvial. Recebeu, aliás, a Bandeira Verde do Instituto Nacional da Água em meados dos anos 90 e a Bandeira Azul em 2012, após importantes obras de requalificação.

De resto, não faltam nas margens frondosas e frescas do Alva, praias fluviais, parques de merendas, recantos bucólicos, convidando ao pacato usufruto da natureza, por S. Gião, Penalva do Alva, S. Sebastião da Feira, Caldas de S. Paulo, Ponte das Três Entradas, e por ali fora, passando Avô e Coja, até encontrar o Mondego em Porto da Raiva.

Sandomil também é terra de gente nobre. Os antigos senhores de Sandomil (e de Loriga) descendiam da nobreza nortenha de Ribadouro. Dada por D. Afonso Henriques a D. João Viegas Ranha de Baião (1), em 1131, pertenceu aos seus descendentes nos séculos seguintes, ajudando a estabelecer alianças entre famílias, como dote ou honraria, tendo sido elevada a vila no séc. XVI.

Os condes de Sandomil, título criado em 1720 por D. João V, eram parentes dos duques de Aveiro, do conde de Alva e dos marqueses de Fronteira, Gouveia e Alorna, com quem partilharam o sangue e o destino desde o primeiro conde de Sandomil, D. Pedro de Mascarenhas - descendente de uma família fidalga de Alcácer do Sal. O brasão da família exibia símbolos de poder e riqueza (2) e o conde chegou a Vice-Rei da Índia, embora por pouco tempo (1732-1740) - devido à idade avançada e dificuldades encontradas.

O palácio dos condes de Sandomil em Lisboa foi um dos poucos que resistiu ao terramoto de 1755 e o título também sobreviveu à cruel perseguição dos Távora por parte do futuro Marquês de Pombal. O primeiro conde havia casado com D. Margarida Juliana de Távora e morrera em 1745, sem descendência, deixando os bens e o título a um sobrinho, Fernando Xavier de Miranda Henriques.

O terceiro conde de Sandomil não deixou descendência. Foi seu herdeiro Gama Lobo Salema, um parente afastado, e o título perdeu-se. Como curiosidade, acrescente-se que a atriz Rita Salema (n. Lisboa, 1966) descende dos senhores de Sandomil pelo lado do bisavô.

Notas:

(1)-Senhor de Sandomil e Loriga por carta de 16 de maio de 1131, descendia de Ermigio Viegas, Senhor do Ribadouro, e era parente de Egas Moniz. O seu irmão, Pedro Viegas de Baião, foi o primeiro Alcaide-mor de Lisboa. João Ranha deixou Sandomil à filha, Maria Anes de Baião, cujos descendentes herdaram do marido, Pedro Nunes de Baião, a alcunha “Gato velho”. Afonso Peres “Gato velho” foi senhor de Sandomil 
e sua irmã, Teresa Pires “Gato velho” entrou por casamento na linhagem dos condes de Paris.

(2)-O  timbre do brasão do primeiro conde era um leão de púrpura, armado e lampassado de ouro, escudo púrpura atravessado por 3 faixas de ouro. O segundo brasão dos Condes de Sandomil apresenta o escudo partido em Miranda e Henriques e o timbre é uma coroa de conde. O solar em Sandomil exibe o primeiro brasão.

Cartaz da Artis XI


Ricardo Mota Veiga (F.O.R.M.A.T.O.S. Design) foi o vencedor do concurso de ideias para o cartaz da Artis - Festival de Artes Plásticas de Seia 2013.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Dora Tracana no Museu de Aveiro



A 25 de abril de 2013, a “Audácia da Contemporaneidade” invadirá o Museu de Aveiro, mostrando obras do projeto Avenida de Arte Contemporânea (1) e a exposição itinerante de escultura de Dora Tracana, “Figuras no Mosteiro”, com o apoio da Direção Regional de Cultura do Centro – Museus do Centro.

A exposição “Figuras no Mosteiro” teve lugar pela primeira vez no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra (4 de julho a outubro 2012), fruto de uma residência artística que a escultora aí iniciou em 2010, tendo depois passado pelo Museu da Guarda e pelo Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco (7 de dezembro a 31 de março). A exposição de Aveiro inclui a peça “O Marnoto”, inspirada na figura típica do trabalhador das salinas aveirenses.

A exposição itinerante de Dora Tracana inaugura a nova programação transregional anual de exposições nos museus sob alçada da Direção Regional de Cultura do Centro, que passam a funcionar em rede.

(1)-O projeto Avenida da Arte Contemporânea visa dinamizar a Avenida Lourenço Peixinho, em Aveiro, com acontecimentos artísticos (e outras atividades culturais) unindo a galeria do antigo edifício da Capitania e a antiga estação da CP.

sábado, 13 de abril de 2013

Pintura de Le Brun encontrada no Hotel Ritz em Paris



A Christie’s vai leiloar a 15 de abril, em Paris, a tela “O Sacrifício de Polixena” (óleo sobre tela, 179X131 cm), pintada em 1647 pelo mestre francês Charles Le Brun (1619-1690). Le Brun foi uma figura dominante da arte francesa do século XVII, considerado pelo rei Luís XIV “o maior artista francês de todos os tempos”.

Este quadro decorava a suite do Hotel Ritz, em Paris, onde Coco Chanel (1883-1971) viveu durante mais de 30 anos e cujo autor era desconhecido. No final do verão passado, o hotel fechou para obras de renovação e o quadro foi enviado para limpeza. Durante essa operação, surgiu o monograma "C.L.B.F" ("Charles Le Brun Fecit", Charles Le Brun a fez) e a data, 1647.

O quadro representa o assassinato de Polixena, a filha mais nova do rei Príamo de Tróia, às mãos de Neoptólemo, filho de Aquiles. De acordo com o mito, a jovem princesa revelou a fraqueza de Aquiles, imprudência que levou à morte do herói grego.


Atualização a 18 de abril 2013:

A pintura “O Sacrifício de Polixena” foi vendida na Christie’s por 1.44 milhões de euros (1.88 milhões de dólares) ao Metropolitan Museum de Nova Iorque. O produto da venda será aplicado na fundação criada pelo dono do Hotel Ritz, Mohamed Al Fayed, em memória do filho, Dodi Al Fayed, falecido no mesmo acidente de viação que vitimou a Princesa Diana de Gales em 1997.
A pintura de Charles Le Brun será exposta em Nova Iorque até ao final de maio.
A reabertura do Ritz Paris está prevista para 2014. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Casa das Obras em Seia é Monumento de Interesse Público

Faculdade de Belas Artes também foi classificada

Em março de 2013, o Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, despachou um vasto pacote de classificação de monumentos, cerca de trinta, entre os quais a classificação da Casa das Obras, em Seia. As respetivas portarias, publicadas em Diário da República a 5 e 9 de abril, classificam monumentos e sítios, sobretudo arquitetura religiosa, civil e militar, mas também a gruta de Avecasta, o complexo Megalítico do Olival da Pega e o famoso bloco habitacional da Rua de Costa Cabral, no Porto, do arquiteto Viana de Lima. Integra esta lista a Faculdade de Belas Artes do Porto, que ainda funciona no edifício original, um palacete concluído em 1873.


Conhecido por Casa das Obras, o atual edifício dos Paços do Concelho de Seia foi solar da Família Mendonça Arrais e Albuquerque e é monumento de interesse público desde o passado dia 5 de abril (Portaria nº 180/2013 – D.R. nº67, Série II).

Após a recente classificação da Igreja da Misericórdia e casa do Despacho e da Capela do Senhor do Calvário (ou Capela do Santo Cristo do Calvário), alarga-se agora a área de interesse histórico reconhecido e a zona total de proteção cobre a maior parte do centro histórico da cidade de Seia. Só a classificação da Casa das Obras impõe uma zona de proteção geral que abrange a área envolvente compreendida entre a Casa da Cultura e a Casa do Castelo.

O solar é grandioso, de planta retangular, fachada simétrica com vinte janelas, linhas harmónicas e sobriedade pombalina. Consta que foi o próprio Marquês de Pombal quem forneceu a planta a Francisco Pinto de Mendonça (desembargador e depois Intendente-geral dos Diamantes) e sua esposa, Teresa Bernarda de Figueiredo Abranches, que o mandaram construir em 1773. Após a morte deste, no Brasil, foi seu filho Luís Bernardo (Cavaleiro da Ordem de Cristo, desembargador da Relação do Porto) quem terminou as obras do solar.  É  Luís Bernardo quem solicita autorização à Rainha, em 1778, para "exploração de águas e construção de uma fonte" em frente do solar. Outro filho de Francisco Pinto de Mendonça, José António Pinto de Mendonça Arrais (Seia, 1746 – Melo, 1822), foi Bispo de Pinhel e mais tarde Bispo da Guarda – onde desenvolveu uma intensa campanha contra os ideais revolucionários franceses durante as invasões napoleónicas.

Sob o elmo de visconde e o timbre dos Pintos (leopardo), o escudo esquartelado: I - Pinto, II - Mendonça Arrais, III - Figueiredo, IV - Pinto [1]. Os quartos inferiores do escudo estão danificados.

A fachada ainda hoje ostenta o brasão dessa nobre família senense, que se envolveu honrada e destemidamente nas dinâmicas locais e nacionais do seu tempo, com destaque para Luís Pinto de Mendonça Arrais, filho de Luís Bernardo, feito 1º Barão e depois 1º Visconde de Valongo pelos seus atos heroicos durante as Lutas Liberais, e seu irmão, Francisco Pinto de Mendonça Arrais, comandante da fortaleza de Almeida ao tempo da terceira invasão francesa (1810-1811) e mais tarde comandante do Regimento de Milícias da Covilhã.

Em 1810, o solar serviu temporariamente de quartel-general a Arthur Wellesley (futuro duque de Wellington) pela acomodação que oferecia e localização, na colina onde existiu o castelo de Seia, mas foi incendiado pelas tropas de Massena na retirada rumo à fronteira – tal como a igreja matriz, que ficou em ruínas. José Maria Pinto de Mendonça Arrais, que era presidente da Câmara à data do falecimento, em 1859, foi o fundador [2] da nova igreja matriz, cuja construção teve início em 1843 no Terreiro do Castelo. A ele se deve ainda, como presidente da Câmara, a instituição em 1857 da feira semanal à 4ª feira, então realizada no Terreiro da Misericórdia.

O Arquivo Municipal de Seia dispõe de um importante acervo documental sobre a família da Casa das Obras, cobrindo o período compreendido entre 1703 e 1909, doado em 2002 por um descendente dessa família, Joaquim Albuquerque de Moura Relvas. A monografia de Seia, de J. Quelhas Bigotte, contém as biografias de algumas personalidades nascidas na casa das Obras e seus descendentes, que se notabilizaram nas mais diversas áreas, incluindo D. Ana Guadalupe de Mendonça Arrais (1807-1895) cuja bondade em vida e anormal preservação do corpo muitos anos após a sua morte [3] lhe granjeou fama de santa.

O artista senense Lucas Marrão (n. Seia, 1824 – m. Lisboa, 1894), filho do caseiro do visconde de Valongo, beneficiou da proteção da família da Casa das Obras, que lhe pagou os estudos artísticos em Lisboa. Lucas Marrão deixou obra de pintura, escultura e gravura, dedicando-se também à fotografia – então novidade em Portugal.

Em 1911, o Solar foi vendido [4] em hasta pública a Francisco Rodrigues Gomes, natural da freguesia de Tourais, que fizera fortuna no Congo Belga (hoje República Democrática do Congo). Sete anos depois, a 1 de setembro de 1918, foi adquirido [5] pela Câmara (então instalada na Praça da República e presidida pelo Dr. António Borges Pires, de Pinhanços) para acolher a Câmara Municipal e as repartições públicas até então dispersas pela cidade. Aí foi instalada temporariamente a Repartição de Finanças, quando era presidente da Câmara o Capitão Dr. António Dias, e funcionou também o tribunal até à construção de edifício próprio, inaugurado em 1998.

Solar e Terreiro das Obras no início do século XX – há quase 100 anos.


Solar e Largo Dr. Borges Pires em 2004. Repare-se no monte de pedras, no lado direito desta foto, e compare-se com o monte de pedras da foto anterior. Quase um século depois, as obras continuavam presentes - à sombra de árvores diferentes.

Devido às obras constantes de reconstrução, remodelação e conservação a que foi submetido desde a sua (demorada) construção, o solar ficou conhecido por Casa das Obras. Não se trata, porém, de uma designação original, já que existem outras “Casas das Obras” pelo país fora, a maioria do séc. XVIII e todas com historial de obras demoradas, constantes ou inacabadas. As obras mais recentes, de remodelação interior e restauro exterior, realizaram-se entre 2002 e o início de 2004, sob a presidência de Eduardo Mendes de Brito (1993-2009).

Vista posterior da Casa das obras. Na área hoje ocupada pelo parque de estacionamento da CMS e pela Casa da Cultura, existiu um jardim com um grande lago.

O arranjo do largo fronteiro à Câmara (antigo Terreiro das Obras, atual Largo Dr. António Borges Pires) e o parque de estacionamento nas traseiras do edifício, onde havia um jardim e o Dispensário da A.N.T. (atual edifício da Junta de Freguesia de Seia), datam do pós-25 de Abril, quando o presidente da Câmara era Jorge Alberto dos Santos Correia (1976-1993) [6]. Já neste século, o largo da Câmara recebeu diversas obras de beneficiação (arranjo geral do espaço, substituição do pavimento, colocação de mobiliário urbano) e acabou-se com o caótico estacionamento automóvel no local.

Notas:
(1)-Heráldica Portuguesa - Brasões: 
Pintos - Escudo de prata com cinco crescentes de vermelho postos em sautor (cruz diagonal).
Mendonças - Escudo franchado: o I e o IV de verde, com banda de vermelho perfilada de ouro; o II e o III de ouro, com um S de negro, o da direita volvido (no brasão existente na Casa das Obras, não está volvido).
Arrais - Escudo vermelho com nove folhas de golfão (planta aquática) de ouro postas 3, 3 e 3.
Figueiredos: Escudo escarlate com cinco folhas de figueira, nervadas e perfiladas de ouro, postas em sautor.

Brasões dos Pintos, Mendonças, Arrais, Figueiredos.

(2)-Foi um dos principais impulsionadores da nova igreja matriz, cujas obras cofinanciou e orientou. Em sinal de reconhecimento, foi sepultado no interior da igreja (J. Quelhas Bigotte, “Monografia de Seia”, pág. 280-281) apesar de vigorar desde 1844 a lei que proibia os enterros nas igrejas. O clero conservador considerava esta lei antirreligiosa e ela foi a fagulha que incendiou a revolta da Maria da Fonte no Minho, em 1846.
(3)-Em 1911, por motivo da venda do solar, os restos mortais de D. Ana Guadalupe foram trasladados da capela  da Casa das Obras para o cemitério da então vila de Seia. Porém, estranhando o peso do caixão, este foi aberto na presença do Reitor de Seia e verificou-se, com surpresa, que o corpo se apresentava intacto – 16 anos após o falecimento. J. Quelhas Bigotte refere este insólito acontecimento na sua “Monografia de Seia”, pág.s 283 e 284 (2ª edição, 1982 - com nova capa em 1986, assinalando a passagem da vila de Seia a cidade).
(4)-Por 11 contos (ob. cit. pág. 266).
(5)-Por 20 contos.
(6)-Presidente da Câmara eleito em 1976 pelo Partido Socialista, sucedendo ao Engº João de Frias Gouveia, que foi nomeado em assembleia popular após a Revolução de 25 de abril de 1974.


“Vista da Vila de Seia tirada do alto da Senhora do Rosário”, c. 1845, litografia de Lucas Marrão (n. Seia, 1924-1894) colorida por Júlio Vaz Saraiva (n. Seia, 1928), Edição CMS, 1997. À direita, vê-se a Casa das Obras e a Capela do Santo Cristo do Calvário, que pertence à Santa Casa de Misericórdia de Seia e também é monumento classificado. O pintor senense Tavares Correia (Seia, 1908-2005), desenhou e pintou por diversas vezes os Paços do Concelho, incluindo uma reconstituição imaginada do incêndio provocado pelas tropas francesas.

 “Casa das Obras – Câmara Municipal de Seia”, 1996, desenho à pena de Fernando Gonçalves (n. Chaves, 1935 - reside em Gouveia) 

“Casa das Obras”, desenho à pena de Jorge Braga da Cruz (n. Viseu, 1944 - reside em Viseu)

Fotografia digital de Renato Paz (n. Guarda, 1982 - reside em Seia)

domingo, 7 de abril de 2013

Atelier-Museu Júlio Pomar abriu em Lisboa



Foi inaugurado na passada sexta-feira, em Lisboa, o Atelier-Museu Júlio Pomar, com a presença do artista, do arquiteto Álvaro Siza Vieira e do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, entre diversas entidades e convidados. Após a cerimónia oficial, o novo espaço museológico lisboeta abriu ao público, que pode visitá-lo de terça a domingo, gratuitamente até outubro.

O Atelier-Museu Júlio Pomar (não confundir com a Fundação Júlio Pomar, com sede provisória na Travessa da Piedade, 36) trata-se de um sonho que começou a ganhar forma em 2000, quando a CML adquiriu um antigo armazém do século XVII, ao Largo de Jesus, próximo da residência de Júlio Pomar. O projeto de recuperação foi concebido por Siza Vieira e as obras decorrem desde 2006, a várias velocidades, tendo ficado concluídas este ano, pelo 87º aniversário do artista. Integra a estrutura museológica do Município de Lisboa e o seu acervo compreende cerca de 400 obras, 100 das quais integram a exposição de abertura, intitulada “Em torno do Acervo”, selecionadas pela diretora, Sara Antónia Matos. Representativas do percurso artístico de Júlio Pomar, oferecidas pelo artista à Fundação, cedidas por familiares e emprestadas por entidades, entre as quais a Fundação Calouste Gulbenkian e a Culturgest (Caixa Geral de Depósitos).

Júlio Pomar afirmou-se no panorama artístico nacional pela porta do neo-realismo, na década de 1940, inspirado pela pintura muralista mexicana (de Rivera, Siqueiros e Orozco), evoluindo depois para uma figuração cada vez menos narrativa, uma pintura abstratizante (anos 1960) e finalmente abstrata, dominada pelo controlo da forma e pela cor (anos 1970), recorrendo também à colagem e “assemblage” de materiais e objetos do quotidiano. Regressou depois ao expressionismo, mantendo a exuberância cromática mas libertando a forma com pinceladas abertas, privilegiando a expressão do sentimento através do gesto. A reciclagem e os objetos adicionados ao quadro caraterizam a sua pintura na primeira década do século XXI, jogando com as relações formais e sentidos dos materiais e técnicas.

Entre as suas obras mais representativas das diversas fases e momentos da sua carreira artística, que o artista divide em ciclos (a série Maio e o ciclo do Arroz, nos anos 1940/50, a série Metro, Tauromaquia e o ciclo das corridas, nos anos 60, a série erótica dos anos 70, o ciclo dos Tigres nos anos 80, por exemplo, ou a recente e sugestiva série “Burros de Portugal”), destacam-se “O Gadanheiro” (1945) e “O Almoço do Trolha” (1947), “Mogiganga” (1963), “Le Bain Turc” (1971), “A Mesa do Arquiteto” (1977) e o polémico retrato oficial de Mário Soares, exposto na Galeria de retratos oficiais dos Presidentes no Museu da Presidência da República, em Belém - ao lado do igualmente polémico retrato do seu sucessor, Jorge Sampaio, da autoria de Paula Rego. A década de 1980 é particularmente produtiva, pela diversidade de temas (para além dos retratos de Mário Soares, Fernando Pessoa e Camões, a série Mitologia e Corvos) e a intensa produção inspirada pelas viagens ao Brasil, sobretudo pela Amazónia, onde esteve a convite de de Ruy Guerra, por ocasião das filmagens de "Kuarup" (1989).

Desde a sua primeira exposição, em 1945 (Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa) mostrou o seu trabalho em diversas galerias e instituições nacionais e estrangeiras, com destaque para as Bienais de São Paulo (1953, 1975 e 1985), na Fundação Calouste Gulbenkian (1990), no Centro Cultural de Belém (2004), na Galeria Municipal de Matosinhos (2007), no Museu de Serralves (2008), no Museu do Neo-Realismo (2008) e uma exposição retrospetiva no Centro de Arte Contemporânea Manuel de Brito (2009). 

Em março 2013, foi inaugurado o seu painel “Contos Murais”, no Museu da cerveja, criado em Lisboa em junho de 2012 pela mesma equipa responsável pelo Museu do Pão, em Seia.

"Burro a tocar guitarra", 2013, da série "Burros de Portugal". Serigrafia editada pela Fundação J.P. para assinalar a abertura do Atelier-Museu Júlio Pomar


VER DOCUMENTÁRIO "Júlio Pomar - O Risco", de António José de Almeida (realização) e Anabela Almeida (guião) - Panavideo.

sábado, 6 de abril de 2013

“Flash Mob” em Amsterdão para divulgar a reabertura do Rijksmuseum


A "Mob" patrocinada pela banca holandesa, a multinacional ING

O Rijksmuseum, em Amsterdão, fechado em 2003 (1) para obras de remodelação, vai finalmente reabrir ao público a 13 de abril, com grande pompa. A reabertura do museu foi anunciada por uma “Flash Mob” num centro comercial em Breda.

As “Flash Mobs”, divulgadas por filmes como “Set Up Revolution” (Scott Speer, 2012), são ações rápidas e inesperadas previamente combinadas pelos seus intervenientes, que no final se dispersam rapidamente. A “Mob” "Onze helden zijn terug!" ("Os nossos heróis estão de volta!"), constou de uma encenação histórica inspirada na tela de Rembrandt van Rijn (1606-1669) conhecida por “A Ronda Noturna”, a principal obra do Rijksmuseum e uma das obras mais intrigantes da denominada “idade de ouro da pintura holandesa”. Diversos milicianos do séc. XVII, alguns deles chegando a cavalo, perseguem um larápio em pleno centro comercial, surpreendendo os funcionários e frequentadores com os seus trajes inusitados, armas da época, correrias e acrobacias. No final, não cai o pano mas sim a moldura da ING, a multinacional holandesa.

Rembrandt, “A Ronda Noturna” (A companhia militar do capitão Frans Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburg), 1462, pintura a óleo s/tela, 379.5X453.5 cm. Rijksmuseum, Amesterdão

O quadro representa a milícia do capitão Frans Banning Cocq e do alferes Willem von Ruytenburch, da companhia municipal de arcabuzeiros de Amesterdão – que encomendou a obra. Como era costume na época, as personagens que aparecem na tela pagaram para serem aí retratadas (2). A menina fortemente iluminada transporta um galo, o símbolo da corporação de arcabuzeiros. As crianças e o cão animam a cena dando-lhe vivacidade e realismo. A obra rompe com os convencionalismos estáticos da pintura de grupos, então na moda, e o jogo de sombras desenvolvido por Rembrandt (a partir de Caravaggio), agravado pela sujidade acumulada, induziu em erro os críticos franceses do século XIX, que lhe atribuíram o título de “A Ronda Noturna”. Foi depois provado que se trata de uma cena diurna mas o título ficou, assim como as dúvidas sobre a personagem iluminada e as suspeitas de que a obra teria um sentido oculto. Tal como outras grandes obras da Pintura Universal, inspirou várias conjeturas, uma das quais foi apresentada em filme por Peter Greenaway (“Rembrandt's J'Accuse”, 2008).

O novo Rijksmuseum foi arquitetado pelos espanhóis Cruz e Ortiz, incumbidos de recuperar o esplendor do edifício original de 1885, projetado pelo arquiteto holandês Pierre Cuypers (1827-1921). A remodelação foi de tal modo extensa que, dos cerca de 8.000 objetos expostos, apenas “A Ronda Noturna” não mudou de lugar.

Um dos destaques vai para a sala dedicada ao jovem Rembrandt, onde podem ser apreciadas algumas das suas primeiras obras (incluindo o célebre autorretrato de 1628-29), equipada com mobiliário da época e objetos de vidro e prata realizados por artífices conhecidos de Rembrant.

Para além de algumas obras de Jan Vermeer (entre as quais “A Leiteira”, de 1657-58, que serviu de base ao anúncio de uma conhecida marca de produtos láteos), encontram-se patentes no Rijksmuseum alguns tesouros da pintura europeia, como o retrato do arquiteto Giuliano da Sangallo e de seu pai Francesco (1482-85), do renascentista Piero di Cosimo (1462-1522), e o tríptico da "Adoração do Bezerro de Ouro" (1530), de Lucas van Leyden (1494-1533).

(1 - Reabriu temporariamente em 2006, para as comemorações dos 400 anos do nascimento de Rembrant.

(2) - A propósito deste costume, conta-se (Haskel) que o pintor barroco Il Guercino enviou a um cliente o seguinte recado: "Como o meu preço habitual por cada figura é de 124 ducados e como sua Excelência se limitou a pagar 80 ducados, terá apenas um pouco mais de meia figura”.