domingo, 7 de abril de 2013

Atelier-Museu Júlio Pomar abriu em Lisboa



Foi inaugurado na passada sexta-feira, em Lisboa, o Atelier-Museu Júlio Pomar, com a presença do artista, do arquiteto Álvaro Siza Vieira e do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, entre diversas entidades e convidados. Após a cerimónia oficial, o novo espaço museológico lisboeta abriu ao público, que pode visitá-lo de terça a domingo, gratuitamente até outubro.

O Atelier-Museu Júlio Pomar (não confundir com a Fundação Júlio Pomar, com sede provisória na Travessa da Piedade, 36) trata-se de um sonho que começou a ganhar forma em 2000, quando a CML adquiriu um antigo armazém do século XVII, ao Largo de Jesus, próximo da residência de Júlio Pomar. O projeto de recuperação foi concebido por Siza Vieira e as obras decorrem desde 2006, a várias velocidades, tendo ficado concluídas este ano, pelo 87º aniversário do artista. Integra a estrutura museológica do Município de Lisboa e o seu acervo compreende cerca de 400 obras, 100 das quais integram a exposição de abertura, intitulada “Em torno do Acervo”, selecionadas pela diretora, Sara Antónia Matos. Representativas do percurso artístico de Júlio Pomar, oferecidas pelo artista à Fundação, cedidas por familiares e emprestadas por entidades, entre as quais a Fundação Calouste Gulbenkian e a Culturgest (Caixa Geral de Depósitos).

Júlio Pomar afirmou-se no panorama artístico nacional pela porta do neo-realismo, na década de 1940, inspirado pela pintura muralista mexicana (de Rivera, Siqueiros e Orozco), evoluindo depois para uma figuração cada vez menos narrativa, uma pintura abstratizante (anos 1960) e finalmente abstrata, dominada pelo controlo da forma e pela cor (anos 1970), recorrendo também à colagem e “assemblage” de materiais e objetos do quotidiano. Regressou depois ao expressionismo, mantendo a exuberância cromática mas libertando a forma com pinceladas abertas, privilegiando a expressão do sentimento através do gesto. A reciclagem e os objetos adicionados ao quadro caraterizam a sua pintura na primeira década do século XXI, jogando com as relações formais e sentidos dos materiais e técnicas.

Entre as suas obras mais representativas das diversas fases e momentos da sua carreira artística, que o artista divide em ciclos (a série Maio e o ciclo do Arroz, nos anos 1940/50, a série Metro, Tauromaquia e o ciclo das corridas, nos anos 60, a série erótica dos anos 70, o ciclo dos Tigres nos anos 80, por exemplo, ou a recente e sugestiva série “Burros de Portugal”), destacam-se “O Gadanheiro” (1945) e “O Almoço do Trolha” (1947), “Mogiganga” (1963), “Le Bain Turc” (1971), “A Mesa do Arquiteto” (1977) e o polémico retrato oficial de Mário Soares, exposto na Galeria de retratos oficiais dos Presidentes no Museu da Presidência da República, em Belém - ao lado do igualmente polémico retrato do seu sucessor, Jorge Sampaio, da autoria de Paula Rego. A década de 1980 é particularmente produtiva, pela diversidade de temas (para além dos retratos de Mário Soares, Fernando Pessoa e Camões, a série Mitologia e Corvos) e a intensa produção inspirada pelas viagens ao Brasil, sobretudo pela Amazónia, onde esteve a convite de de Ruy Guerra, por ocasião das filmagens de "Kuarup" (1989).

Desde a sua primeira exposição, em 1945 (Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa) mostrou o seu trabalho em diversas galerias e instituições nacionais e estrangeiras, com destaque para as Bienais de São Paulo (1953, 1975 e 1985), na Fundação Calouste Gulbenkian (1990), no Centro Cultural de Belém (2004), na Galeria Municipal de Matosinhos (2007), no Museu de Serralves (2008), no Museu do Neo-Realismo (2008) e uma exposição retrospetiva no Centro de Arte Contemporânea Manuel de Brito (2009). 

Em março 2013, foi inaugurado o seu painel “Contos Murais”, no Museu da cerveja, criado em Lisboa em junho de 2012 pela mesma equipa responsável pelo Museu do Pão, em Seia.

"Burro a tocar guitarra", 2013, da série "Burros de Portugal". Serigrafia editada pela Fundação J.P. para assinalar a abertura do Atelier-Museu Júlio Pomar


VER DOCUMENTÁRIO "Júlio Pomar - O Risco", de António José de Almeida (realização) e Anabela Almeida (guião) - Panavideo.

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