quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Deixem-me sair...

Para variar do "tirem-me deste filme" ou do "tirem-me desta cena", eis a versão "quero sair deste quadro". É um facto que nunca se sai... mas "o sonho comanda a vida" (António Gedeão).
Feliz Natal 2014 e Bom Ano Novo 2015.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Chão de Brinco - nova revista de poesia

Revista de poesia Chão de Brinco N.º 1 - Novembro de 2014 (foto: Facedesign)

Poemas e desenhos de Fernando de Castro Branco, Francisco Nóbrega Gonçalves, Helga Moreira, Joaquim Castro Caldas, José Valle Figueiredo, Moncef Louhaibi, Nuno Júdice, Pires Laranjeira, Rosa Alice Branco, Sérgio Reis, Veiga Luís, Vergílio Alberto Vieira. Desenhos de José Mário e fotografia de Egídio Santos e Leszek Szurkowsky.

Evocação do poeta Luís Veiga Leitão (1912-1987) e do grupo Poetas do Café (Diplomata) através de uma foto de grupo: Aureliano Lima, Egito Gonçalves, Luis Veiga Leitão, Mário Cláudio, Helga Moreira, Isabel de Sá, Álvaro Magalhães, António Campos, Arnaldo Saraiva, José Emílio-Nelson, Jorge Velhote, Laureano Silveira, Amadeu Baptista, Manuel Alberto Valente e Glória Padrão.


Edições Cardo. 72 páginas. Coordenação de Antonino Jorge e Alfredo de Resende Figueiredo. 
Encomendas pelo e-mail: cardoedicoes@gmail.com

domingo, 2 de novembro de 2014

Henrique Pousão

Autorretrato, 1878, Museu Soares dos Reis

Excelente evocação de Henrique Pousão no programa Visita Guiada (RTP2) de Paula Moura Pinheiro - com Elisa Soares, curadora do Museu N. de Soares dos Reis. Pousão (1859-1884) faleceu aos 25 anos, tuberculoso, mas deixou um conjunto de obras impressionante. A obra abordada no programa é uma pintura irreverente apresentada pelo pintor à Academia, "Esperando o Sucesso" (1882). No Museu Soares dos Reis encontram-se expostas algumas obras de Pousão, inclusive os quadros inacabados "Rapariga deitada no tronco de uma árvore" (1883) e "Mulher da Água - Capri" (1883) - referidos em alguns livros como "Um pequeno prazer" e "De volta", respetivamente. Esses quadros (ver fotos) integravam a remessa anual de artista pensionado - 3 telas no 3º ano) No final do verão de 1883, o pintor solicitou autorização e um subsídio ao Governo para regressar a Portugal, onde faleceu a 25 de março de 1884.

Visita Guiada (link)

"Rapariga deitada no tronco de uma árvore", 1883, óleo s/tela

"Mulher da Água - Capri", 1883, óleo s/tela

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Artistas senenses pintam mural alusivo ao 20º Cine’Eco e expõem fotografia de Natureza


Uma das atividades paralelas do 20º Cine’Eco, pensada para marcar esta edição histórica, foi a pintura de um mural com cerca de 30 metros, na Avenida D. Ester Barata, junto à Central de Camionagem de Seia. Outra, não menos relevante devido ao interesse das obras, é a exposição de fotografia de Natureza de Pedro Ribeiro, intitulada “Natureza Mágica”, que decorre até final de outubro no foyer do cineteatro. A Associação de Arte e Imagem é uma das principais parceiras do Cine’Eco.

Uma equipa de 5 artistas plásticos, dois de Seia e três convidados, trabalharam intensamente durante todo o dia da abertura do Cine’Eco, mas a chegada da chuva, pelo final da tarde, obrigou ao adiamento dos últimos retoques para o sábado seguinte. Luiz Morgadinho e Tania Antimonova (pelos artistas de Seia), Alexandre Magno (Mangualde), Manuel Machado (Oliveira do Hospital) e Vitor Zapa (Braga), partiram de um esboço inicial organizado a partir de um elemento central, uma película cinematográfica, rodeada por vários elementos naturais e humanos representativos da Serra da Estrela: um rebanho e o respetivo pastor, um burro pastando, um muro antigo de granito, o recorte da montanha, a cidade e a flor que é o símbolo do concelho de Seia, a campanula herminii, típica dos prados e urzais da Estrela. Evoca-se ainda o sistema de projeção antigo, com a tradicional máquina de bobines, uma vez que o cineteatro já dispõe de equipamento digital, tendo os artistas aproveitado a oportunidade para uma singela homenagem ao projecionista Zeca, funcionário da Casa da Cultura.

A pintura mural encontra-se no acesso pedonal ao centro da cidade e é visível de vários ângulos, inclusive das varandas do Hotel Camelo. Espera-se agora que esta iniciativa tenha continuidade e que a própria Câmara promova a pintura artística dos restantes muros.

No Foyer do Cineteatro, Pedro Ribeiro mostra um bom conjunto de fotografias de Natureza, paisagem e vida selvagem, com grande realismo, riqueza de pormenor, sentido estético - na composição e na hábil utilização da cor. Tudo servido por uma qualidade técnica que reforça o poder de sedução das imagens. Quase sentimos o fervilhar da vida em ambientes naturais que os visitantes da Estrela vão encontrando nas suas caminhadas pelo interior da montanha mas raramente com a beleza e intensidade mágica que podemos admirar nestas fotografias.


Pedro Ribeiro é licenciado em Educação Visual e Tecnológica e Mestre em Design Gráfico, incluindo-se a Fotografia e a Pintura na sua formação pluridisciplinar. Na área da fotografia, é fotógrafo freelancer, colaborador de revistas especializadas, com diversos primeiros prémios em concursos organizados por revistas de fotografia e pelo C.I.S.E. – Centro de Interpretação da Serra da Estrela.

 Manuel Machado, Luiz Morgadinho, Alexandre Magno, Vitor Zapa, Tania Antimonova

Sérgio Reis, Manuel Machado, Alexandre Magno e Tania Antimonova

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Já andamos à procura da Liberdade? Será desorientação ou (mais) um sinal dos tempos?

Aeroporto Sá Carneiro, Porto, 2014. Foto: Sérgio Reis

Decorreu este fim-de-semana em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, o 3º Encontro Presente e Futuro, organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e intitulado “A Procura da Liberdade”. A ideia central da promoção do Encontro sublinhava o facto de só em liberdade podermos debater o tema da liberdade, mas a mim parece-me, com todo o respeito, que a necessidade de debatermos um determinado tema só se coloca quando pressentimos ou percebemos algum problema relativamente a isso. Atualmente é fácil de explicar e de entender até que ponto as nossas decisões e comportamentos individuais e coletivos são condicionados, inclusive a capacidade de cada um se revoltar contra imposições, restrições, proibições. Noutro sentido, a perda de autonomia política e económica de Portugal suscitou fundamentadas preocupações. Como podemos sentir-nos livres se o peso da dívida pública compromete cada português com 20 mil euros, uma quantia gasta em nome de cada um de nós por aqueles que elegemos para gerir os bens comuns. Ainda noutro sentido, pese-se os riscos que a globalização traz à liberdade, a possibilidade de vigilância mútua e controlo permanente através da Internet e satélite, emissão obrigatória de faturas, o cada vez mais inevitável dinheiro de plástico,… 
Por tudo isto, não me parece estranho que tanta gente tenha sentido a necessidade de pensar e debater a Liberdade nos nossos dias, o estado da liberdade em Portugal e o seu futuro nas diversas áreas da vida contemporânea. Parece-me, isso sim, muito preocupante. Um sinal dos tempos que vivemos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Primeiras obras de Marwan em Serralves


Exposição das primeiras obras do artista sírio Marwan, nome artístico de Mohamed Marouan Kassab-Bachi  (n. Damasco, 1934) no Museu de Serralves -  desenhos com variados meios e técnicas, aguarelas e pintura a óleo realizadas entre 1962 e 1972. A diretora do Museu, Suzanne Cotter, continua apostada em divulgar artistas do médio oriente, seguindo-se a primeira exposição antológica da artista iraniana Monir Shahroudy Farmanfarmaian (n. Qazvin, 1924), em fase de montagem e com inauguração marcada para 5ª feira, dia 9.

Em 1957, Marwan fixou-se em Berlim, desenvolvendo a partir daí uma carreira internacional. Contemporâneo de Georg Baselitz, a sua obra enquadra-se na chamada Nova Figuração. Frequentou durante seis anos o atelier de Hann Trier (1915-1999), período que deu lugar a uma significativa produção de desenhos, abundantemente representada na exposição.


A oferta de arte contemporânea em Serralves completa-se com algumas obras da coleção do museu, destacando-se as obras com movimento e som de Liam Gillick e as formas geométricas em quadros improvisados de Amalia Pica. 

 Autorretrato, 1964

 A Cruz, 1966

 Cara Paisagem, 1972

 Homem com boneca, 1971

 Vista parcial



Obra da artista argentina Amália Pica (Coleção de Serralves)

Desenhos de Siza Vieira no Porto


Exposição de desenhos de Álvaro Siza Vieira num espaço projetado pelo próprio, a Ginkgo Gallery, no Centro Comercial Miguel Bombarda, Porto. 

Fotos: Glória Reis.


O tema dos centauros

"Judith e Holoferne"


domingo, 28 de setembro de 2014

Sérgio Reis, deputado federal


Oi, caras.
Tem por aí gente que não cansa de me perguntar se estou correndo p´ra eleições, enchem meu mail com Parabéns, Que beleza de cartaz, Que cara mais jovem meu deus, a idade passou ao lado, nem vai ter jeito de ser velho antes de morrer, Vai em frente Sérgio Reis, isto para não falar no facebook, uma correnteza de likes que até entope o servidor, sorte a minha não ter celular, quebrou logo no arranque da crise, mas não, pode comer e dormir em sossego, minha gente, o cara aí é o tal Sérgio Reis do Brasil, que nem é nome dele mesmo, é pseudônimo, na realidade o tal de cantor sertanejo, ator de novela e outro tanto lá, mudou o apelido que era Bavini para Reis, deu folga na família, mas Bereraca insistiu, que eu era sim senhor esse tal, nem havia diferença a não ser a barba e o chapéu e os óculos, tirando tanta diferença eu passava por ser o mesmo cara, Bereraca é de Casa Mole, nasceu teimosa e não adianta esclarecer os nordestinos teimosos de Casa Mole, mas ainda assim eu respondi, Pôxa, você gostava mesmo de me atirar às feras, lá no Brasil nem podia me candidatar e cá também não tem jeito, tenho mais onde me esfarrapar, Sérgio Reis Bavini para mim é assunto arrumado, é certo que vai ganhar e o mesmo desejo a Tiririca, que faz piada com tudo e a gente já não ri desde a Copa do Mundo, agora acho que vou parar de escrever à José Saramago e mandar daqui para vocês, amigos brasileiros, um abraço do tamanho do mundo, não vale a pena exagerar.
Sérgio Reis*


*De Portugal, escrevendo em português do Brasil ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.


El Greco: Arte e Ofício

As comemorações do IV Centenário da morte de El Greco, que reuniram em Toledo a maior parte das suas obras ao longo de 2014, entrou na reta final com a exposição “El Greco: Arte e Ofício”, no Museu de Santa Cruz de Toledo, Sacristia da Catedral e Museu de El Greco. Através de mais de 90 obras oriundas de todo o mundo e até 9 de dezembro, o visitante pode perceber como o pintor de Toledo transformava as ideias em obras de arte. Entre as preciosidades expostas contam-se “São Francisco e o Irmão Leão” (proveniente de Cádiz) ou a recém restaurada “Madalena Penitente” (Worcester Art Museum – Texas, EUA), assim como 4 desenhos e 4 estampas realizadas sob orientação de El Greco no final da sua vida. 

O Museu do Exército, em Toledo, mostra ao vivo as armas pintadas por El Greco nas suas telas.


Madrid acolhe atualmente duas importantes exposições, “El Griego e a Pintura Moderna” (Museu do Prado, até 5 de outubro) e a exposição que esteve patente até agosto em Valladolid, 'Entre o céu e a Terra” (Academia de Belas Artes de São Fernando, até 8 de novembro).

Página oficial El Greco 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Pintura Surrealista de Luiz Morgadinho no Museu Abel Manta - Gouveia

Luiz Morgadinho

Foi hoje inaugurada a exposição de Pintura de Luiz Morgadinho, no espaço que o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta reserva às exposições temporárias. Sem maiores formalidades, a ocasião reuniu um vasto grupo de amigos do artista, muitos deles também artistas, algum público local e contou com a presença do Presidente da Câmara, Luís Tadeu Marques, e esposa, do Presidente da Junta de Freguesia de Gouveia, João Amaro, e da Diretora do Museu Abel Manta.

A exposição reúne obras de pintura a acrílico sobre tela e técnica mista (pintura e colagem) produzidas desde 2011. As obras mais recentes, de 2014, demonstram o elevado grau de exigência técnica do artista, como na tela “Núpcias” (um forte comentário visual aos costumes populares), com a novidade das colagens – recortes de fotos combinadas com a pintura, uma ligação que resulta em formas bem trabalhadas, sendo necessária uma observação atenta para perceber onde acaba a fotografia e começa a pintura, e vice-versa. Destaca-se ainda a série “Tudo vê”, um conjunto de acrílicos s/tela de pequeno formato explorando o conceito de “big brother” (difundido por George Orwell no último romance que escreveu, “1984”, em 1949) com amplas conotações, sociais, políticas e religiosas que remetem para este nosso tempo de liberdades aparentes, irreverências controladas, felicidade pré-fabricada.

Como se sabe, não existe apenas um surrealismo, cada artista propõe e explora a sua ideia de surrealismo. A ideia surrealista, mais que um conceito, é um sinónimo de liberdade. O surrealismo moderno de Luiz Morgadinho combina o realismo (e mesmo o hiper-realismo) com grafismos populares e caricaturas, muitas vezes em ambientes oníricos ou exóticos, combinando a pintura clássica com o cartoon para elaborar mensagens de caráter social e político, inspiradas e inspiradoras.

De resto, mantenho o que escrevi em 2009 sobre a pintura de Morgadinho, um texto reproduzido parcialmente na promoção que a Câmara Municipal de Gouveia faz à exposição na sua página oficial:

Luiz Morgadinho, na sua obra criativa, utiliza técnicas de pintura convencionais para nos mostrar mais caminhos de comunicação, alargar as janelas e corredores do gosto artístico tradicional, ao mesmo tempo que desafia o acomodado entendimento da realidade. Servindo-se de um dos métodos preferidos dos surrealistas, o ilusionismo fotográfico, e guiado pelo princípio da imaginação como motor da criação, constrói malabarismos filosóficos para desmascarar as incongruências do nosso tempo.” 

A exposição decorre até 26 de outubro 2014.


Vista parcial da exposição.

Vista parcial da esxposição.


sábado, 20 de setembro de 2014

Rute Gonzalez na Casa da Cultura – uma lição de desenho

"Avós", Rute Gonzalez. Vista parcial da exposição.

Em exposição na Casa Municipal da Cultura de Seia até final de setembro, as obras de Rute Gonzalez demonstram as possibilidades do desenho e permitem entender como essa forma universal de conhecer e comunicar através do “risco” (como era antigamente referido o desenho) reforça os seus poderes expressivos ao confluir com a pintura. Para além do interesse técnico e artístico específico de cada obra, a exposição oferece uma visão muito completa do projeto desenvolvido pela artista desde 2013, que tem por base o retrato da pessoa idosa.

O desenho e a pintura são áreas artísticas com a mesma origem e limites comuns, em constante diálogo histórico e grande protagonismo nos atuais meios e processos de difusão da informação e conhecimento. Mesmo nas obras mais clássicas de pura pintura, realista ou abstrata, é evidente a presença de um desenho que organiza cada obra desde a sua origem, o processo de criação, à interpretação pelo público. Esse desenho pode estar claramente definido e integrado na pintura ou existir mesmo num domínio virtual – no caso dos pintores que trabalhavam as cores diretamente na tela (como Columbano, por exemplo) e que reconheciam a preexistência de um desenho trabalhado no plano da imaginação, uma imagem mental, uma construção intelectual.

Na conceção das suas obras, Rute Gonzalez opta claramente pelo gestualismo, criando traços que se desenvolvem criteriosamente no espaço do suporte de papel kraft colorido, limitado em altura (2,3 metros) pelo alcance da mão da artista. À expressividade do traço, a artista junta a mancha colorida e a subtil mistura de cores, utilizando um material vocacionado para fundir desenho e pintura, o pastel de óleo. A construção dos seus retratos imaginados de “Idosos” ou de “Avós” compreende assim um mapa de gestos centralizados na máscara facial, que secundariza o retrato puro e simples, os sinais distintivos da identidade, para destacar as marcas da idade, o envelhecimento traduzido em linhas, texturas, cor.

O amplo espaço do salão das magnólias e as galerias da Casa da Cultura de Seia permitiram a exposição de 30 desenhos de Rute Gonzalez - a maior parte das obras produzidas no âmbito deste projeto específico, visando a exploração simultaneamente gráfica e plástica de retratos de idosos. Desde 2013, a artista mostrou algumas das peças deste seu projeto em espaços mais contidos: Montebelo Aguieira Resort (agosto de 2013); Cineteatro de Mortágua (setembro de 2013); TR Bar (Lisboa, outubro 2013); Biblioteca Municipal de Condeixa (fevereiro 2013), Biblioteca Municipal João Brandão (Tábua, maio de 2013).


Natural de Mortágua, Rute Gonzalez licenciou-se em Pintura na ARCA de Coimbra, tendo já exposto individual ou coletivamente nas principais cidades portuguesas e em diversas localidades do centro do país.





Segunda série de “Visita Guiada”

O programa de rádio (Antena 1) e televisão (RTP2) sobre o Património cultural português, “Visita Guiada”, regressou a 15 de setembro com nova série de 13 programas.

No primeiro episódio, Paula Moura Pinheiro e Ana Alcoforado (diretora do Museu Nacional Machado de Castro) guiam-nos na descoberta da “Última Ceia” que o escultor francês Hodart realizou entre 1530 e 1534 para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Composta pelas figuras de Cristo e dos apóstolos moldadas em barro à escala natural, a obra é tão avançada para a época que, em tempos, chegou a ser considerada barroca. Considerando a semelhança das figuras de Hodart com os esboços de Leonardo da Vinci para a pintura da sua famosa “Última Ceia” é provável que o escultor francês tenha sido influenciado pelo génio do Renascimento, produzindo a obra escultórica mais importante do Renascimento português que é considerada pioneira do Maneirismo.

Nos episódios seguintes, “Visita Guiada” passará pelo Palácio Fronteira a caminho do Museu Soares dos Reis, no Porto, onde será lembrado o eternamente jovem pintor Henrique Pousão (1859-1884).

Antena 1 - sábado, 13:10
RTP 2 - segunda, 22:45


Os 13 programas da primeira série podem ser revistos AQUI.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Aqueles que não podem morrer sem dizer tudo

Lançado em Itália no final de Agosto, “Alabardas, alabardas”, o livro que Saramago deixou apenas esboçado, chegará às livrarias portuguesas a 23 de setembro (Porto Editora), podendo ser já reservado via Internet. Até final de setembro o livro será também publicado no Brasil, Espanha (em espanhol e catalão) e América Latina.

Falecido em 2010, José Saramago deixou trinta páginas com elementos para a sua nova obra, abordando a problemática do belicismo e do pacifismo, através da história de um empregado numa fábrica de armamento que subitamente descobre que o seu trabalho alimenta uma complexa máquina de interesses secretos (1).

O livro é ilustrado por Günther Grass, escritor alemão que sucedeu a Saramago nos prémios Nobel da Literartura em 1999 e também conhecido pela sua obra gráfica. Em 2000, Grass expôs em Almancil, no Centro Cultural de São Lourenço, as aguarelas que ilustravam o seu livro mais recente, “O Meu Século”. Em 2006, o Instituto Goethe mostrou em Lisboa uma retrospetiva da obra de Grass, intitulada “Imagens do seu escrever”, composta por desenhos, trabalhos gráficos, aguarelas e esculturas.

Quando Günter Grass revelou ter pertencido às Waffen-SS, a força de elite da Alemanha nazi, na sua juventude, Saramago foi uma das personalidades com prestígio internacional que saiu em defesa do escritor alemão, elogiando o seu sentido de responsabilidade e coragem. E tal como Grass, Saramago não queria morrer sem dizer tudo e assim o exprimiu: “Que quem se cala quanto me calei, não poderá morrer sem dizer tudo.”

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Banco antigo, novo banco...

 

Banco antigo, novo banco, banco mau, banco bom. No fundo, uma questão de design... Aos poucos, as antiguidades vão dando lugar às novidades, numa dinâmica de renovação nunca vista nem sequer imaginada há poucos anos atrás. O momento é propício, falta dinheiro para tudo menos para bancos. Há quem garanta que se trata de um problema de cadeiras mas tanta renovação junta requer o usufruto de fundos coletivos que, como se percebe, estão mais relacionados com os bancos.
Qual será o próximo banco a quebrar renovar-se?

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ainda o (des)acordo ortográfico


Antes do acordo ortográfico de 1911, escrevia-se assim. Grandes figuras da cultura portuguesa da época, entre as quais Fernando Pessoa, opuseram-se a este acordo ortográfico. Defendiam, em suma, que os portugueses deveriam escrever assim para todo o sempre... tal como os defensores do acordo ortográfico de 1945 pensam em relação às mais recentes alterações ortográficas. De notar que nenhum acordo ortográfico foi consensual e aplicado simultaneamente por todos os subscritores e o último (1990) está mesmo nos antípodas disso. As diversas polémicas e desentendimentos tiveram o mérito de levar as questões da língua para a discussão pública, com particular importância no presente, quando a globalização ameaça as especificidades linguísticas, bombardeando-as com termos anglófonos e fomentando o recurso a estrangeirismos. 

domingo, 3 de agosto de 2014

"Biba Portogal!"

Rua D. Manuel II, Porto


Numa rua portuense cujo nome evoca o último monarca a reinar em Portugal, uma enorme bandeira republicana tapa pudicamente "as vergonhas" de um velho edifício que se renova, apesar do crédito parado e mal parado. Uma nota alegre - de esperança? - na paisagem de fachadas sombrias.

sábado, 12 de julho de 2014

A Liberdade da Imagem

Até 26 de setembro, a exposição “A Liberdade da Imagem – Design e Comunicação Visual em Portugal: 1974-1986” atravessa e une o Porto, manifestando-se em sete dos seus melhores espaços destinados à arte e à cultura, prometendo ficar como referência de divulgação do design português, no ano em que o Governo pretende promovê-lo dentro e fora do espaço físico e mental nacional.

Comissariada por Guta Moura Guedes e com curadoria de José Bártolo, a exposição abriu em 29 de Maio em sete locais da cidade: Casa do Infante; Casa-Museu Guerra Junqueiro; Museu Romântico da Quinta da Macieirinha; Palacete dos Viscondes de Balsemão; Galeria Municipal Almeida Garrett; Casa da Música (Sala dos Azulejos) e Museu de Serralves.

A exposição foi produzida pela Escola Superior de Arte e Design de Matosinhos em co-produção com a Câmara Municipal do Porto e em parceria com a Fundação Casa da Música, Fundação de Serralves e o Centro Documental 25 de Abril da Universidade de Coimbra, entre outros, integrando-se nas Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e nos eventos do ano dedicado ao Design Português, a decorrer entre Junho de 2014 e Maio de 2015.

Através de uma seleção de  500 obras produzidas entre 1974 e 1986, um período de profunda transformação política, cultural e social em Portugal, a exposição mostra como a liberdade da imagem foi construída e utilizada no diálogo entre a revolução política e a revolução cultural que marcou o pós-25 de abril, com reflexos evidentes nos dias que vivemos, 40 anos após a Revolução de 25 de Abril de 1974 e 28 anos depois da entrada de Portugal na União Europeia (então CEE) a 1 de janeiro de 1986.

As obras distribuem-se por cinco módulos, tratando a produção visual de conteúdo político (“Utopia e Ideologia” e “Cartazes de Abril”), produção de vanguarda estética e projetos coletivos (“Situações, Performances, Intervenções”), produção visual em suporte de filme ou vídeo (“Imagens em Movimento”) e desenvolvimento do design português (“Design & Circunstância”.

“A Liberdade da Imagem” no site da ESAD (Matosinhos)

“A Liberdade da Imagem”, site oficial

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Retrato de Rapaz, por Mário Cláudio

No quadro “São João Batista” (1513), Leonardo da Vinci retrata o jovem Salai. 

O mais recente romance de Mário Cláudio é uma séria viagem à oficina de Leonardo da Vinci (1452-1519), com uma base histórica credível, focada na relação do mestre com os seus dois discípulos, Gian Giacomo Caprotti e Francesco Melzi, muito em particular o primeiro, a que Leonardo chamava Salai ou Il Salaino, “pequeno diabo”, "diabrete".

A vida de Leonardo regista diversos factos que alguns biógrafos entendem ser a prova da sua homossexualidade, hipótese que continua a gerar polémica nos meios eruditos. Quando ainda trabalhava com Verrocchio, Leonardo foi ilibado por falta de provas de uma acusação anónima, mas manteve depois uma relação muito próxima com os seus discípulos. Era comum os mestres da época, e não só nas oficinas de artistas, contratarem jovens para o serviço das suas casas, onde cresciam como se fossem da família e aprendiam o seu ofício. Salai chegou ao estúdio de Leonardo em 1490, com apenas 10 anos de idade. Melzi, filho de um aristocrata milanês, tornou-se seu aprendiz em 1506.

Apesar dos defeitos de Salai, que Leonardo classificou nos seus escritos como "ladrão, mentiroso, teimoso e glutão", o rapaz de Oreno era o favorito do mestre, que o utilizou como modelo. O quadro mais conhecido, retratando Salai, é o São João Batista (1513), existindo um desenho erótico realizado sobre um retrato de Salai - ou sobre um esboço do quadro - intitulado "O Anjo Incarnado" (c. 1515), descoberto na Alemanha em 1991. Após a morte do aprendiz, provavelmente num duelo, Leonardo manteve o seu retrato (como São João Batista) junto à cabeceira até ao último suspiro, em França. Francesco Melzi acompanhou o mestre até à morte e assegurou depois a publicação póstuma dos seus escritos, imortalizando o génio de Leonardo da Vinci. 

“Retrato de Rapaz” (D. Quixote, 139 páginas, 12,90€) evoca o pintor, o escultor, o inventor, o anatomista, a pretexto de um mergulho nas relações humanas e sociais de uma época que viu nascer o Humanismo. Pelo arrojo do tema e pela coragem de abordar um aspeto controverso da vida de Leonardo da Vinci, este romance adquire particular relevância na obra de Mário Cláudio, 30 anos depois de “Amadeo” (1984), sobre o pintor Amadeo de Souza-Cardoso.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

2014, o ano d’O Grego

Doménikos Theotokópoulos “El Greco”, Autoretrato, 1604

O grande acontecimento artístico ibérico de 2014 são as comemorações do 4º centenário da morte de Doménikos Theotokópoulos, ou El Greco, pintor nascido na Grécia (Creta) em 1541. Conhecido principalmente pela obra que produziu em Toledo desde 1577, exibida com merecido orgulho nos maiores museus espanhóis e uma referência artística na arte universal, El Greco só adquiriu fama intemporal no final do século XIX, quando foi redescoberto por pintores impressionistas e expressionistas que estudavam as obras de pintura clássica no Museu do Prado.

Apesar de ter pintado para as elites do seu tempo, o facto de ser conhecido por “o grego” e de ter ficado praticamente esquecido durante quase três séculos deve-se sobretudo a uma secundarização do artista em favor da figura maior da pintura espanhola, Diego Velázquez (1599-1660), embora também seja evidente que o pintor emigrante teimava em sublinhar a sua origem assinando as obras com o nome original, difícil de pronunciar e de memorizar. Era então habitual os artistas que se fixavam em países estranhos adotarem nomes locais, como aconteceu em Portugal com os pintores flamengos Francisco Henriques e Frei Carlos, que ficaram na história do Renascimento português.

A originalidade de El Grego reside no modo como combinou aspetos da arte bizantina, do renascimento e do maneirismo, uma sensibilidade estética muito própria (que alguns estudiosos atribuem a doenças oftalmológicas) e a exploração criativa dos limites dos cânones artísticos dominantes nessa época. Viveu alguns anos em Veneza, onde trabalhou com Ticiano (c.1485-1576) e também em Roma, pintando na capital do catolicismo várias obras que lhe deram fama internacional entre os principais encomendadores de arte, os ricos decisores católicos. O Espólio ou O Desnudamento de Cristo,  iniciada no verão de 1577 e concluída em 1579 para o altar da Catedral de Toledo, foi uma encomenda do reitor da Catedral de Toledo, Diego de Castilha, por influência do filho, Luis de Castilha, que estava em Roma e era amigo de El Grego.

Em 1577 foi para Madrid com o objetivo de se tornar pintor da corte do poderoso Filipe II, o único monarca que foi rei de Espanha, da Inglaterra e de Portugal (Filipe I), senhor de territórios que se estendiam até às Filipinas. Após desentendimentos com a corte, El Greco foi chamado a Toledo (capital de Espanha até Filipe II ter mudado a corte para Madrid em 1561) onde pintou obras-primas como “A Ascensão da Virgem” (1579) ou “A Santíssima Trindade” (1579) e acabou por se fixar nesta cidade montando aí uma oficina de pintura em 1585.

As obras-primas emblemáticas de El Grego foram pintadas em Toledo, entre as quais “O Espólio” (1579), o impressionante quadro “O Enterro do Conde de Orgaz” (1587/88) e “Vista de Toledo” (1612), ficando o artista para sempre ligado a esta belíssima cidade, recortada pelo rio Tejo, que partilha com Lisboa. A maior exposição de obras de El Greco jamais realizada foi a principal atração de Toledo entre março e junho de 2014, reunindo dezenas de pinturas oriundas de coleções dos maiores museus do mundo e de colecionadores privados a pinturas que nunca chegaram a sair de Toledo. Nos Espaços Grego, abertos todo o ano, as pinturas encontram-se expostas nos seus lugares originais, para onde foram concebidas pelo artista, regressando algumas delas a esses locais após décadas de ausência.

A evocação de El Grego conta também com a participação de artistas contemporâneos, chamados a criar peças artísticas para a exposição “Toledo Contemporánea”, no Centro Cultural San Marcos, destacando a belíssima cidade histórica – e a Arte Ibérica – nos roteiros turísticos internacionais.

Doménikos Theotokópoulos, “El Grego”, El entierro del Conde de Orgaz, 1587/88, óleo s/tela, 480X360 cm, Igreja de São Tomé, Toledo. Encomendado em 1586 pelo pároco da igreja de Santo Tomé, Andrés Núñez de Madrid, o grandioso quadro era um tributo ao benemérito Senhor da vila de Orgaz, falecido no início do século XIV, evocando o acontecimento prodigioso que, segundo a tradição, terá ocorrido durante a transladação dos seus restos mortais em 1327: durante o enterro, Santo Agostinho e Santo Estêvão desceram do céu para sepultarem com as próprias mãos o Senhor de Orgaz. As exigências da encomenda, muito pormenorizada, limitaram a criatividade do artista na metade inferior do quadro, representando a terra, tendo maior liberdade na parte superior, pintando “um céu aberto de glória”. À procissão de personalidades da época, de Santo Agostinho e Santo Estêvão sepultando o Senhor de Orgaz, e até do próprio filho, retratado no canto inferior esquerdo, El Greco contrapôs um céu de surpreendente irrealidade, desajustado da realidade visível, com cores estranhas à própria natureza, transformando uma mera composição imaginada por um pároco numa obra-prima da arte universal.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Inimigos duplicados


Estreia hoje em Portugal o thriller "Enemy" (2014), cujo argumento, do espanhol Javier Guillón, é baseado no romance “O Homem Duplicado”, do Nobel português José Saramago, publicado em 2002. Realizado por Denis Villeneuve, o filme chega já premiado (Prémio Méliès d'Argent no Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, em Sitges) ao nosso país, contando com a participação dos atores Jake Gyllenhaal (“Brokeback Mountain”, “Prince of Persia”, “Prisioners”), Mélanie Laurent, Sarah Gadon e Isabella Rossellini.

O "Homem Duplicado" é uma história de suspense sobre o conceito de identidade, saber quem somos enquanto indivíduos, únicos, numa época dominada pela imagem e por relações humanas e profissionais baseadas na aparência. Segundo Saramago (1), a pergunta central do livro é "quem sou eu?" e não quem é o outro. A semelhança física extrema entre duas personagens, os sósias Tertuliano Máximo Afonso, professor de História, e Daniel Santa-Clara, ator, aproxima-os e lança-os no desafio de testarem a sua semelhança trocando de identidade. Uma situação que se verifica também com alguns gémeos, tentados a trocar de papéis usando as semelhanças físicas. A ameaça identitária criada pela descoberta da duplicação só desaparece quando é eliminada. O sobrevivente pode assim escolher uma das identidades disponíveis mas o efeito perverso da duplicação é que, num mundo tão diverso, a duplicação possa ser mais generalizada e o homem duplicado descobre que tem afinal não um mas vários rivais. O fio da narrativa é tão forte em "O Homem Duplicado" que chega a secundarizar o prazer do texto nessa obra de Saramago, apresentada pelo próprio sob o lema “"O caos é uma ordem por decifrar" (Livro dos contrários) e uma citação de Laurence Sterne, “Acredito sinceramente ter intercetado muitos pensamentos que os céus destinavam a outro homem”.

VER o trailer oficial.

(1)-Entrevista no programa brasileiro Roda Viva, Canal Cultura, 13/10/2003

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Curta Artes

Os programas “Curta Artes”, "Museu Vivo", "Arte Documenta" e “Visita Guiada”, produzidos pelo canal cultural de televisão SescTV, de São Paulo, Brasil, apresentam artistas e obras de arte contemporâneas, com depoimentos dos artistas e visitas guiadas às suas exposições.
São Paulo acolhe uma das três mais importantes bienais internacionais de arte contemporânea e oferece museus de referência internacional, com destaque para o MASP, assim como 32 centros culturais e desportivos.

30ª Bienal Internacional de São Paulo (2012). Juntamente com a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel, que se realiza de 5 em 5 anos, a Bienal de São Paulo domina o circuito internacional de arte contemporânea.

A programação de 24 horas da SescTV contempla a música, dança, teatro e cinema, para além das artes plásticas e da arquitetura.

O Sesc (Serviço Social do Comércio) é uma impressionante instituição nacional brasileira sem fins lucrativos que visa proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, familiares e sociedade.

Mira Schendel em Serralves


No Museu de Serralves decorre até 24 de junho uma interessante exposição retrospetiva de Mira Schendel (1919-1988), artista nascida na Suíça e radicada no Brasil. Com uma impressionante história de vida, Myrrha Dagmar Dub, filha de um emigrante checo e afilhada de um conde italiano, tornou-se refugiada devido às suas raízes judaicas e ativismo social em Itália, viajando pela europa até emigrar para o Brasil, em 1949. Aí começou a pintar, no meio de grandes dificuldades económicas e tendo apenas como referência os mestres da pintura moderna europeia. Em São Paulo, passou a assinar os seus trabalhos simplesmente com o primeiro nome, Mira, e adquiriu, por casamento, o apelido Schendel. Com formação em Filosofia, amiga de Max Bense (autor de uma curiosa teoria estética) e integrada num círculo cultural paulista de raízes germânicas, produziu uma vasta obra pictórica explorando os limites da abstração. No início da década de 1960, trabalha o conceito de “transparência” na perspetiva filosófica (a perceção humana do tempo e do espiritual) e desenhando sobre papel de arroz, delicado e semitransparente, passando depois aos “objetos gráficos” integrando letras e outros elementos gráficos assim como o contributo literário de poetas brasileiros.

Na década de 1970, Mira Schendel integrou na sua obra aspetos tecnológicos inovadores, ao nível da conceção e produção, afirmando-se como uma das mais importantes artistas brasileiras contemporâneas. Na década de 1980 regressou à pintura, trabalhando com têmpera e integrando nas suas telas a folha de ouro e pó de tijolo.

Na sala central de Serralves podem ser apreciadas obras da última série de Schendel, os “Sarrafos” (1987), formas geométricas negras que escapam do seu suporte de modo diferente dependendo do ponto de vista do observador, questionando os limites da forma, a bidimensionalidade da pintura e do seu suporte tradicional, assim como o espaço do observador e a sua participação na obra.

A exposição patente em Serralves foi organizada em associação com a Tate Modern e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, na sequência da exposição realizada em Londres no final de 2013. Com curadoria de Tanya Barson e Taisa Palhares, essa exposição reuniu cerca de 250 obras provenientes de coleções públicas e privadas – a maior retrospetiva da obra de Mira Schendel até à data, após a grande homenagem prestada na 22ª Bienal Internacional de São Paulo (1994) e a exposição no MoMA em 2009.

“Natureza morta”, 1953, óleo s/tela. As referências europeias marcaram as primeiras obras da artista, que se mudou para São Paulo em 1953…

... mas também as explorações abstratas com materiais pouco apreciados nos círculos artísticos na época: tintas baratas, gesso, areia, madeira. S/título, 1954, têmpera e gesso s/madeira.

“Ondas Paradas de Probabilidade”, instalação, 1969. Obra criada para a 10ª Bienal de São Paulo, composta por um gigantesco cubo formado por fios de nylon e uma citação bíblica (Livro dos Reis, I, 19) sobre a relação entre conhecimento e fé, “a visibilidade do invisível, daquilo que age sem eu o vejamos – como, por exemplo, processos físicos ou espirituais” (Mira Schendel).

“Variantes”, 1977, óleo s/papel de arroz e acrílico. O conceito de transparência é fundamental na obra de M.S. e as curadoras destacaram a importância de outro aspeto fundamental, a consciência / conhecimento do espaço.

“Sarrafo” (1987), tinta acrílica, têmpera e gesso s/madeira. Nas últimas obras, M. S. explorava os limites da forma, dos suportes e o espaço do observador.

sábado, 31 de maio de 2014

50 anos da Árvore – evocação dos fundadores

 
Armando Alves, s/título, 2012, acrílico s/tela

Comemorando meio século de existência, a Cooperativa Árvore prossegue a evocação dos artistas fundadores da importante cooperativa portuense de atividades artísticas. Após homenagear o sócio nº 1, Ângelo de Sousa, apresenta obras de Armando Alves até 17 de junho 2014. Estes dois artistas integraram o grupo “Os Quatro Vintes”, com outro artista fundador da Árvore, José Rodrigues (Luanda, 1936) e Jorge Pinheiro (Coimbra, 1931). Os quatro vintes terminaram o curso da Escola de Belas Artes do Porto com a classificação de 20 valores no início da década de 1960.

O ano começou com a exposição de homenagem a Ângelo de Sousa (Lourenço Marques, atual Maputo, 1938-Porto, 2011) na Cooperativa Árvore, comissariada por Miguel Sousa, filho do artista, e Laura Soutinho. Intitulada “64-FE-66”, a mostra reuniu 36 obras que o artista expôs na Cooperativa nos anos de 1964, 1965 e 1966. A EDP associou-se a esta homenagem, apoiando a exposição na Árvore e promovendo na sua galeria na sede portuense (ao lado da Casa da Música) uma mostra de obras experimentais de fotografia e vídeo de Ângelo de Sousa, com curadoria de Sérgio Mah e que decorre até 6 de julho.

Armando Alves reinterpretou o tema da paisagem na pintura, com base no seu experimentado trabalho gráfico, de inovadora referência. A árvore como tema principal aparece na obra de Armando Alves desde a conceção da escultura “Árvore Tecnológica” (2008, CETSJ – São João da Madeira). Um conjunto importante de obras foi exposto na Galeria São Mamede no Porto (novembro 2012) e em Lisboa (janeiro 2013), servindo agora de base à exposição na Cooperativa Árvore. A edição comemorativa de uma serigrafia de Armando Alves completa a exposição, que termina a 17 de junho.


O Grupo "Os Quatro Vintes" formou-se em 1968, realizando exposições coletivas até 1972. Em 2011, o falecimento de Ângelo de Sousa justificou a merecida evocação desse coletivo através da exposição “Depois dos Quatro Vintes: Percursos Individuais”, no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, no Porto. A curadoria da exposição, que reuniu obras inéditas da coleção Millennium BCP e outras coleções particulares foi entregue a Lúcia Almeida Matos e Rui Paiva.