domingo, 20 de maio de 2012

Artistas chineses contemporâneos e a responsabilidade social do artista - II


Zeng Fanzhi – Série Máscaras, Nº6, 1996, oleo s/tela. A pintura mostra um grupo de jovens usando máscaras risonhas e lenços do Exército Vermelho.

Tentando desvalorizar a posição de Ai Weiwei, o governo chinês argumenta, justamente, que a China tem muitos artistas merecedores da atenção internacional. Uns, mais acertados ou concertados com o regime, e outros à margem do mesmo ou vivendo e trabalhando longe do seu país natal, especialmente nos EUA.

A China é uma grande potência mundial, a todos os níveis. Apesar das influências ocidentais, a arte chinesa contemporânea possui características próprias que emergem da sua história imponente e das elaboradas artes tradicionais. Xu Beihong (1895-1953) foi o pioneiro da arte moderna chinesa, beneficiando de uma perspetiva alargada da arte internacional graças aos estudos artísticos em Tóquio e Paris. Wu Guanzhong (1919-2010), que renovou o tradicional tema da paisagem, é outro nome de referência da arte chinesa do século XX. Curiosamente, Beihong e Guanzhong nasceram na mesma localidade, Yixing, na província de Jiangsu, famosa pela olaria tradicional.

Os artistas chineses contemporâneos com mais projeção internacional abordam temas sociais e políticos, sobretudo aqueles que viveram a infância durante a Revolução Cultural (1966-1969) e os protestos estudantis de 1989, reprimidos pelos militares em Pequim, com grande violência, mas sobretudo o encerramento forçado da primeira exposição coletiva de arte chinesa de vanguarda, “China / Avant Garde”, também em 1989. Esta exposição na Galeria Nacional da China, em Pequim, é um marco na história da arte chinesa contemporânea, pelo arrojo da ideia (exibir obras vanguardistas na Galeria Nacional da China, incluindo performances e instalações) e do resultado provocatório (uma exposição que mais parecia, segundo o artista Zhang Peili, “um mercado agrícola”), mas sobretudo pela reação imediata dos artistas, nomeadamente através da criação do movimento artístico “Realismo Cínico”(1), que direcionou a arte chinesa contemporânea desde 1989 para a crítica social e política.

Entre os artistas chineses contemporâneos mais conhecidos internacionalmente, para além do já referido Ai Weiwei, contam-se Cai Guo-Qiang, Fang Lijun, Gu Wenda, Yue Minjun, Wang Guangyi, Zeng Fanzhi, Zhang Dali, Zhang Huan, Zhang Xiaogang. São artistas inconformados, cujo traço comum é a responsabilidade social do artista, determinada pela sua consciência política. Uma linha seguida pelos artistas mais jovens, como Sun Yuan (n. Beijing, 1972) e Peng Yu (n. Heilongjiang, 1974), conhecidos por obras como “Old Persons Home” (2007) e pela manipulação de materiais extremos.

(1) - O “Realismo Cínico” carateriza-se pelo humor, cinismo, preferência pelas cores vivas e destaque das personagens individuais, tendo marcado a arte chinesa sobretudo nos anos 90 do século XX.

ALGUNS ARTISTAS REFERENCIADOS NO TEXTO

Cai Guo-Qiang (n. Quanzhou, Fujian, 1957, vive e trabalha em Nova Iorque) é conhecido pela sua arte pirotécnica (em especial, o fogo de artifício das Olimpíadas de Pequim, 2008) mas desenvolve uma obra plástica que mobiliza conceitos e mitos tradicionais chineses. As suas posições políticas, ampliadas pela reputação mundial da sua obra, tornaram-no um artista incómodo para o governo chinês.

Ding Fang (n. Nanjing, 1956) esteve ligado ao movimento de vanguarda que originou a primeira exposição vanguardista chinesa, em 1989. Expôs em várias galerias na Europa, EUA e Austrália. O Museu Nacional de Arte da China dedicou-lhe uma exposição retrospetiva em 2002. Ensina arte na Universidade de Nanjing.

Fang Lijun (n. Handan, Hebei, 1963, reside e trabalha em Beijing) liderou o movimento cultural chinês “Realismo Cínico” nos anos 90. Começou por estudar cerâmica e gravura mas a sua pintura, inicialmente mal recebida nos meios académicos, tornou-o conhecido internacionalmente.

Gu Wenda (n. Xangai, 1955, vive e trabalha em Nova Iorque) iniciou a sua carreira artística ainda na Guarda Vermelha e deixou a China em 1987. O seu trabalho ecoa a cultura chinesa, sobretudo as obras inspiradas na caligrafia chinesa. É também conhecido por usar cabelo humano nas suas obras.

Yue Minjun (n. em Daqing, Heilongjiang, 1962, reside e trabalha em Beijing) é um artista conhecido pelos seus retratos resplandecentes de ironia e cinismo, que o aproximam do movimento “Realismo Cínico” – uma ligação que o artista rejeita. A revista Time referenciou-o em 2007, originando a sobrevalorização das suas obras. Uma delas, “Execução” (1995), foi vendida por 5,9 milhões de dólares americanos. Nem por acaso, as figuras de Minjun exprimem o vazio do mundo atual e as personagens risonhas são a sua marca distintiva.


Yue Minjun, “Execução”, 1995

Zeng Fanzhi (n. Wuhan, 1964, vive e trabalha em Beijing, China) pratica uma pintura introspetiva, com base nas memórias e experiências quotidianas, procurando reinventar regularmente a sua expressão artística. Na série “Máscara” explorou o sentimento de solidão e isolamento e uma dessas obras (Nº6, 1996) tornou-se mesmo a mais cara obra de arte chinesa contemporânea, vendida por 9,7 milhões de dólares americanos. A pintura mostra um grupo de jovens usando máscaras risonhas e lenços do Exército Vermelho.

Zhang Dali (n. Harbin, 1963, vive e trabalha em Beijing, China) exprime-se sobretudo no graffiti mas são famosas as suas instalações com figuras de resina em tamanho natural, penduradas de cabeça para baixo, simbolizando a incerteza da condição dos trabalhadores migrantes na China.


Chinese Offspring”, figuras em resina e fibra de vidro, 2003 

Zhang Peili (n. Hangzhou, 1957) esteve ligado ao movimento de vanguarda que originou a primeira exposição vanguardista chinesa, em 1989, e foi o primeiro artista chinês a dedicar-se ao vídeo de arte. As suas obras de pintura, instalação e video, abordam questões sociais e incluem comentários políticos. Peili ensina na Academia de Belas Artes de Zhejiang.

Zhang Peili, “Last Words”, 2003, vídeo

Wang Guangyi (n. Harbin, 1957, reside e trabalha em Beijing, China) é o mais conhecido artista “pop” chinês, reinventando cartazes de propaganda da Revolução Cultural . Na série “Grande Crítica”, junta símbolos do consumismo com imagens de soldados e camponeses chineses.

Wang Guangui, Série “Grande Crítica”, “Coca-Cola”, 2005, óleo s/tela.


Zhang Huan (n. Anyang, Henan, 1965, vive e trabalha em Nova Iorque e Xangai) começou a sua carreira como fotógrafo e performer vanguardista em Pequim mas, com o tempo, apurou uma linguagem artística combinando o desenho, pintura, escultura e instalação. O seu interesse pelo Budismo tornou-se um tema recorrente na sua obra.

Zhang Huan, “q confucius nº2”, silicone, aço, fibra de carbono e acrílico

Zhang Xiaogang (n. Kunming, Yunnan, 1958) é um pintor simbolista e surrealista que se inspira na estética da era de Mao, nos surrealistas europeus e nas fotos de estúdio dos anos 50 para criar os seus impressionantes retratos imaginários de famílias e indivíduos. A série “Bloodline” (Linhagem) aborda as interações entre a vida privada e pública.

Zhang Xiaogang, Série “Bloodline”, “A Grande Familia nº3”, 1995

LINKs e FONTES:
VER: "Ai Weiwei e a responsabilidade social do artista".

Artistas chineses de VANGUARDA (1985-….)
GALERIA DO MUNDO (Arte chinesa contemporânea)
ARTISTAS CHINESES contemporâneos

Principais fontes:
Wikipedia; Saatchi Gallery; sites dos artistas; sites indicados.


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