domingo, 31 de março de 2013

Saloua Raouda Choucair - a primeira artista abstrata do mundo árabe



Os artistas libaneses são pouco conhecidos fora do seu país, especialmente as mulheres artistas – um fenómeno comum à maioria dos países árabes, com honrosas exceções. Se as sociedades ocidentais só há poucas décadas concederam às mulheres algum protagonismo nas artes, tradicionalmente restringidas a atividades ocupacionais no seio do lar (pintura e  piano nas classes sociais mais favorecidas, para além dos inevitáveis “lavores”), nas sociedades mais conservadoras, orientadas por tradições arreigadas a preconceitos étnicos, sociais e religiosos, as aspirações artísticas femininas são de tal modo restringidas que é muito difícil alguma mulher desenvolver uma carreira artística e alcançar reconhecimento público nessa área. Embora enquadrado na cultura árabe e regido pelas leis islâmicas, o Líbano é um dos poucos países do mundo árabe que concede liberdades às mulheres: desde logo, o direito de voto (obrigatório para os homens) e a possibilidade de optarem por um modo de vida mais liberal. O filme “Caramel” (2007) da realizadora e atriz libanesa Nadine Labaki retrata a situação atual nos meios citadinos libaneses, muito diferente da que se vivia em Beirute em 1947, ano em que Saloua Raouda Choucair (n. Beirute, 1916) realizou na Galeria Cultural Árabe a sua primeira exposição individual. Na realidade, tratou-se de uma exposição histórica: a primeira exposição abstrata no Líbano e a primeira em todo o mundo árabe. Mas Saloua era mulher. As suas primeiras exposições foram boicotadas (não vendeu nenhuma obra até 1962) apesar de ter estudado pintura em 1935 com o mais proeminente pintor líbio do século XX, Moustafa Farroukh  (1901-1957), mas foi recolhendo apoios fora do Líbano, tendo vivido cerca de três anos em Paris (1948 a 1951) para estudar na École Supérieure des Beaux-Arts e mais um (1969) a convite do governo francês. Tornou-se assim uma das primeiras mulheres árabes a expor num salão de arte em Paris (Salon des Réalités Nouvelles, 1951, dedicado à arte abstrata).

Em 1959, a artista passou a dedicar-se também à escultura e a crescente aceitação do seu trabalho fora do Líbano foi mudando a pouco e pouco a atitude dos seus compatriotas: em 1974, a Associação de Artistas Libaneses patrocinou uma exposição retrospetiva da artista em Beirute; em 1985, recebeu o prémio da União Geral dos Artistas Árabes; em 1988, foi distinguida pelo governo líbio; em 2002, foi lançado em Beirute o livro "Saloua Raouda Choucair, Her Life & Art"; em 2011, realizou-se em Beirute uma grande retrospetiva da sua obra, com curadoria de Saleh Barakat – responsável (com Sandra Dagher) pela primeira participação do Líbano na Bienal de Veneza, em 2007.

A 17 de abril de 2013, a Tate Modern acolhe em Londres a primeira exposição de Saloua Raouda Choucair na Grã-Bretanha. Serão expostas algumas pinturas abstratas dos anos 1940, como a célebre “Composição do Módulo Azul” (1947-51), o “Autorretrato” de 1943 e diversas esculturas em madeira, metal, pedra e fibra de vidro, realizadas nos anos 1950-80. A exposição decorre até 20 de outubro 2013.

sábado, 30 de março de 2013

Retrospetiva de Claes Oldenburg no MoMA em abril

Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen mostraram as suas obras em Serralves em 2001. A colher de jardineiro ficou desde então na coleção do museu.

Entre 14 de abril e 5 de agosto 2013, a obra de Claes Oldenburg vai concentrar atenções no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

O artista norte-americano Claes Oldenburg (nascido na Suécia em 1929) é um dos mais populares representantes da Pop Art, conhecido pelas suas esculturas agigantando a forma de objetos comuns e esculturas moles.

Pela informação disponível no site do MoMA, ficamos a saber que a exposição retrospetiva foi organizada em conjunto com o mumok - Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig Wien  (Museu de Arte Moderna da Fundação Ludwig Vienna, em Viena), e recorda o início da carreira de Claes Oldenburg através de dois grandes conjuntos de obras,  “The Street” (1960) e “The Store” (1961-64) - uma fase muito produtiva, durante a qual Oldenburg explora as relações entre pintura e escultura, desde os objetos em papel de jornal, cartão, serapilheira (“The Street”) e esculturas pintadas representando produtos comerciais e alimentares (“The Store”). Esta exposição estará patente no 6º andar do museu.

A retrospetiva evoca ainda a obra de Claes Oldenburg nos anos 1970 através de duas estruturas arquitetónicas colocadas no átrio do 2º andar do museu. Construídas com objetos de uso quotidiano e formas criadas pelo artista, essas obras (intituladas “Mouse Museum” e “Ray Gun Wing”) propõem correspondências entre objetos artísticos e objetos de uso corrente tornando-os equivalentes na mesma obra ou, no mínimo, partes integrantes da mesma estrutura.

Muitas das suas obras realizadas desde 1977 tiveram a colaboração da sua mulher, a holandesa Coosje van Bruggen, falecida em 2009. Em 2001, Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen mostraram as suas obras em Serralves: seis esculturas nos jardins e uma retrospetiva de desenhos e maquetas. Dessa exposição, ficou a colher de jardineiro, na entrada do parque. Afinal, uma das várias edições da obra intitulada “Plantoir” (escultura em aço, alumínio, fibra de vidro). Algumas das esculturas de Oldenburg possuem várias edições, expostas e comercializadas separadamente. A obra “Typewriter Eraser” (alumínio pintado, aço, betão e bronze, 1976) teve três edições, a terceira das quais foi vendida em 2009 por 2.210.500 dólares (novo recorde mundial) e encontra-se novamente à venda na Christie’s de Nova Iorque.

"Floor Cake" (1962), escultura mole.

“Typewriter Eraser” (1976) encontra-se novamente à venda na Christie’s de Nova Iorque.

sexta-feira, 29 de março de 2013

"Obras incorporadas" em Tibães, Bragança e Lamego


O crucifixo de Fernando Reis e as “obras incorporadas” de Ana Maria, Evelina Oliveira, Henrique do Vale

A exposição “Obra Incorporada”, que esteve em fevereiro no Mosteiro de São Martinho de Tibães, encontra-se agora patente ao público no Museu do Abade de Baçal, em Bragança, até ao dia 4 de abril. Seguirá depois para o Museu de Lamego, onde ficará de 7 de abril a 2 de maio 2013.

A exposição é apenas a parte final de um projeto do arquiteto Fernando Reis, iniciado em 2012. Inspirada nos projetos de interpretação criativa de uma forma comum, igual para todos (como a “cow parade”, de dimensão internacional, o “Homem T” ou “A Dança dos Ursos”), Fernando Reis convidou artistas nortenhos (naturais ou ativos no norte do país) para criarem uma obra a partir de uma base comum – um crucifixo de madeira por ele desenhado.

Catroze artistas responderam ao desafio: Agostinho Santos, Ana Maria, António Cunha, Damião Matos, Emerenciano, Evelina Oliveira, Henrique do Vale, Humberto Nelson, Jean Pierre Porcher, José Emídio, Manuela Bacelar, Paulo Hernâni,  Paulo Neves e Rui Vitorino Santos. Cada qual exprimiu livremente a sua sensibilidade relativamente ao tema, explorando as possibilidades do conceito de crucifixo, o mais forte símbolo da cristandade, utilizando-o como suporte de representação e trabalho plástico, algumas vezes com incorporação de outros materiais.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Desenhos a esferográfica desde 1950



Abriu ao público a 24 de março, no Aldrich Contemporary Art Museum (Ridgefield, EUA), uma curiosa exposição sobre a utilização da esferográfica no desenho desde 1950. A mostra decorre até 25 de agosto e reúne obras de Alberto Giacometti (Suíça, 1901-1966), Alighiero Boetti (Itália, 1940-1994), Bill Adams (EUA, 1957), Dawn Clements (EUA, 1958), Jan Fabre (Bélgica, 1958), Joanne Greenbaum (EUA, 1953), Martin Kippenberger (Alemanha, 1953-1997), Il Lee (seul, Coreia do Sul, 1952), Rita Ackermann (Hungria, 1968), Russell Crotty (EUA, 1956), Toyin Odutola (Nigéria, 1985).

A ideia do funcionamento da caneta de ponta esférica surgiu no final do século XIX e foi desenvolvida nos anos 30 do séc. XX, mas o objeto que conhecemos como esferográfica deve-se a Laszlo Biro (1899-1985), um inventor húngaro que emigrou para a Argentina em 1940, fugindo do conflito que ensombrava a Europa.

Durante mais de 60 anos, após a sua popularização nos anos 1950, a caneta esferográfica foi o principal utensílio de escrita em todo o mundo e, apesar do uso do computador ter revolucionado a escrita, nunca se produziram e venderam tantas esferográficas como hoje.

Como é reconhecido, trata-se de um objeto fiável, durável, seguro contra derrames de tinta, fácil de utilizar e acessível – à venda em toda a parte e de baixo custo. O que nem toda a gente sabe é que a esferográfica foi e continua a ser utilizada por artistas na criação de imagens impressionantes. Sendo um objeto vulgar, produzido em quantidades astronómicas e ao alcance de todos, não encaixa nos parâmetros que o senso comum convencionou para o utensílio artístico, cuja origem mítica evoca instrumentos capazes de grandes prodígios, assombrosas “magias”. Basta lembrar a varinha mágica da mitologia europeia, a caduceus de Hermes ou a vara de Moisés. Mas como vai provando a arte contemporânea, que privilegia a experimentação de novos materiais e utensílios, o artista pode criar com qualquer coisa, desde o material mais nobre e raro a materiais vulgares e desprezados, do fino pincel de marta ao graveto mais tosco e ao próprio dedo. O próprio objeto permite diversas abordagens ao nível do design.

Ainda nos anos 1940, o argentino Lucio Fontana (Rosário, 1899-1968) foi um dos primeiros artistas a explorar as possibilidades do desenho com esferográfica. Alberto Giacometti e Andy Warhol também realizariam desenhos com esferográfica nos anos 1950 e 60,  após a difusão da Bic Cristal na Europa e na América do Norte (1951). Nos anos 70, o norte-americano Cy Twombly (EUA, 1928-2011) expôs desenhos a esferográfica, no seguimento das suas experiências com materiais vulgares.

O conceito de esferográfica depende não só da ponta esférica mas também do tipo de tinta (ISO 12757-2) e as possibilidades expressivas ampliaram-se com as esferográficas de tinta colorida. A preto ou a cores, a esferográfica foi utilizada por artistas das mais diversas tendências artísticas em todo o mundo, por vezes combinada com outros meios e técnicas – com destaque para as obras do alemão Martin Kippenberger, sobretudo da série iniciada em 1987, “Desenhos de hotel”. Kippenberger combinou a esferográfica com a caneta de feltro e aguarelas nos seus desenhos, recorrendo ainda à colagem e a materiais decalcáveis.

Artistas abstratos e figurativos continuam a utilizar fluentemente a esferográfica,  embora os desenhos hiper-realistas sejam mais populares, com destaque para as obras de Juan Francisco Casas (Jaén, Espanha, 1976) e James Mylne  (Londres, GB, 1981). Um alegado artista português autodidata, Samuel Silva, tem difundido na internet alguns trabalhos que apresenta como desenhos, havendo suspeitas sobre a sua autenticidade e até da sua identidade. Existe um artista português chamado Samuel Silva (Samuel Joaquim Moreira da Silva), nascido no Vale do Ave em 1983, que se dedica sobretudo à escultura e à instalação.

quarta-feira, 27 de março de 2013

"A Pablo", tela monumental de Wei Wei no Chile



O artista chinês Ai Wei Wei é o autor da gigantesca tela (900 metros quadrados) que cobre a fachada do Centro Cultural de Valparaíso, Chile, desde 23 de março, inaugurando o projeto “Of Bridges & Borders”.

As notícias sobre Wei Wei atraem sempre a minha atenção, acrescendo aqui o facto de Pablo Neruda ser um dos meus poetas preferidos desde a juventude. Valparaíso foi um dos três lugares chilenos onde Neruda escolheu viver e repetidamente evocou na sua poesia. Os outros dois lugares foram Santiago e a Ilha Negra. Do Chile, Neruda enviou para o mundo os seus poemas de amor e canções desesperadas, cheias de atitude social, sentido ético e militância política. Visitou algumas vezes a China nos anos 50, onde privou com o poeta Ai Qing, pai de Ai Wei Wei. Este, lembrando-se dessa amizade que atravessou o mundo, cravou na imensa tela agora exposta em Valparaíso alguns versos de um poema intitulado “Cabo de Chile”, que Ai Qing dedicou a Pablo Neruda: “Un hombre se levanta. / Con una lupa / Busca en el mapa / Un lugar en el que nunca ha estado”. O título da tela monumental é simultaneamente uma dedicatória e um agradecimento: “A Pablo”.

E por aqui percebemos como a obra de Wei Wei se desdobra em sentidos poéticos e políticos. A pintura representa as Ilhas Senkaku, que a China e Taiwan conhecem como Diaoyu e cuja posse reclamam desde 1969. A gigantesca tela cobre a fachada de uma antiga prisão transformada em centro cultural e parque das artes. A inauguração ocorre a poucos dias (8 de abril) da exumação dos restos mortais de Pablo Neruda para se investigar as suspeitas de assassinato do Nobel da Literatura de 1971 e apoiante de Salvador Allende. Oficialmente, Neruda morreu de cancro da próstata em 1973 mas a própria justiça chilena suspeita que foi assassinado, por ordem de Pinochet, 12 dias após o golpe de estado que derrubou e matou Allende. Nem por acaso, também os restos mortais de Allende, um filho de Valparaíso, foram exumados em 2011 para confirmar o suicídio, afastando a hipótese de assassinato. O presidente chileno encontrava-se no Palácio de La Moneda, cercado por tropas revoltosas, quando desferiu o tiro fatal.

O projeto “Of Bridges & Borders” leva à famosa cidade portuária chilena, até 26 de maio, obras de 20 artistas internacionais, promovendo a reflexão sobre o que une e separa as diversas culturas mundiais.

Poemas de Ai Qing
Poemas de Pablo Neruda

segunda-feira, 25 de março de 2013

Coleção Bayer mostrada pela primeira vez, em Berlim



Parte da coleção de arte da Bayer está ser mostrada em público pela primeira vez, em Berlim, comemorando o 150º aniversário da companhia farmacêutica alemã. Intitulada "De Beckmann a Warhol – Arte dos Séculos XX e XXI – A Coleção Bayer”, a exposição abriu recentemente no Museu Martin-Gropius-Bau, em Berlim, decorrendo até 9 de junho de 2013.

A Coleção Bayer é uma das mais antigas coleções de arte privadas existentes na Alemanha, juntando atualmente cerca de 5.500 obras de desenho, pintura, gravura, escultura e fotografia. Na impossibilidade de expor toda a coleção, foram selecionadas 240 obras de 89 artistas do século XX, com natural destaque para os artistas alemães, desde os expressionistas Max Beckmann e Ernst Ludwig Kirchner a Gerhard Richter e Jan Voss, passando pelo mais representativo artista alemão do pós-guerra, Ernst Wilhelm Nay. A exposição apresenta ainda obras de artistas fundamentais da Escola da Paris (George Braque, Joan Miró, Marc Chagall, Pablo Picasso) e da arte norte-americana (entre os quais, David Hockney, Sam Francis, Andy Warhol), não esquecendo a fotografia, representada por Candida Höfer e Marina Abramović, entre outros.

"De Beckmann a Warhol – Arte dos Séculos XX e XXI – A Coleção Bayer”
Martin-Gropius-Bau, Berlim
22 de março a 9 de junho 2013 

Hiper-realismo em Madrid



Encontra-se patente ao público até 9 de junho, em Madrid, no Museu Thyssen-Bornemisza, a exposição “Hyperrealism 1967-2012”, reunindo 50 pinturas representativas da evolução deste estilo desde as suas origens americanas nos anos 60 à atualidade, com destaque para os artistas europeus contemporâneos.

Distribuídas por quatro secções (Natureza-morta, Na Estrada, Cidades e Figura), podem ser vistas obras de 28 artistas, incluindo Audrey Flack (o primeiro pintor hiper-realista a expor no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) Chuck Close, Ralph Goings, Clive Head ou Charles Bell, assim como obras de vários paisagistas, desde Richard Estes a Ben Johnson.

Algumas obras pertencem à coleção de Louis K. Meisel, galerista nova-iorquino que incentivou o hiper-realismo como estilo, soba designação fotorrealismo.

A exposição itinerante passou já pela Alemanha (Kunsthalle Museum, Tubingen) e segue em junho para a Grã-Bretanha, podendo ser então vista no Birmingham Museum and Art Gallery.

Museu Thyssen-Bornemisza
Paseo del Prado 8, 28014 Madrid, Espanha

Retrospetiva de desenhos de Jorge Martins em Serralves - algumas imagens

"A Substância do Tempo", a obra que dá o título à exposição



sábado, 23 de março de 2013

BOMBARDA com cartazes de Pedro Guerreiro



Em março, as inaugurações simultâneas da Miguel Bombarda apresentaram um novo cartaz, o primeiro de uma série com fundos fluorescentes e formas muito simples, para divulgar as datas desta iniciativa conjunta de mais de 20 galerias e espaços de arte da cidade do Porto, localizadas no quarteirão da Rua de Miguel Bombarda.

Os cartazes são da autoria de Pedro Guerreiro, licenciado em Design de Comunicação pela faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e mestre em Design da Imagem, vencedor do concurso “Fazes tu? Os próximos cartazes de Miguel Bombarda?”, que decorreu entre 19 de janeiro e 04 de fevereiro. Organizado pela empresa municipal PortoLazer, o concurso juntou 79 propostas. Guerreiro arrecadou 2500 euros e nós vamos poder ver os seus cartazes na Bombarda até novembro.

Segundo o autor, as formas e as cores prestam-se a diversas interpretações mas possuem um sentido imediato. Representam as cinco edições da Bombarda 2013, sucessivamente representados por um círculo (ponto de partida), dois traços (sinal igual), triângulo (três vértices equidistantes), quadrado (4 vértices) e asterisco com estrutura pentagonal (5 traços convergentes) “a deixar uma nota no ar de algo que não acaba aqui e para o ano há mais”. Por outro lado, as cores evocam a sucessão de estações do ano e “simbolizam à sua maneira a passagem do tempo”.

Apesar das explicações, que remetem para a frieza objetiva da estética benseana e do funcionalismo, gosto da simplicidade provocatória dos cartazes – mas as séries anteriores eram muito apelativas (VER cartazes de 2008 a 2012 no WIX).

Os últimos seis anos de inaugurações simultâneas na Miguel Bombarda foram recordados em fevereiro, na Estação de Metro da Trindade, onde esteve patente uma “timeline” dos cartazes desde 2007.

Datas das próximas inaugurações simultâneas na Miguel Bombarda:

20 de abril
01 de junho
21 de setembro
02 de novembro

sábado, 16 de março de 2013

A substância do tempo – retrospetiva de Jorge Martins dividida por Lisboa e Porto



Abriu hoje ao público em Serralves, no Porto, e na Fundação Carmona e Costa (1), em Lisboa, a maior retrospetiva de desenhos de Jorge Martins realizada até à data, sob o título “A Substância do Tempo”.

Jorge Martins é sobretudo (re)conhecido pelos seus desenhos abstratos e sem cor, um traço distintivo que unifica a sua obra ao longo de mais de 50 anos de atividade artística, mas o pintor neofigurativo desenvolveu ao longo das décadas um renovado olhar informado e crítico sobre o mundo circundante, com influências mais evidentes do abstracionismo lírico, da arte pop ou do minimalismo. Particularmente estudada desde os anos 80 (2) a sua obra adquire especial sentido pela natureza do diálogo entre o figurativo e o abstrato, expondo a diversidade de relações desproporcionais que se estabelecem no dia-a-dia, a vários níveis, entre pessoas, ideias, espaços e objetos, aplicando o princípio de “utilizar apenas a cor inevitável” (3).

Em Serralves, apresentam-se mais de 200 obras abstratas realizadas entre 1965 e 2012, um percurso que se completa com as cerca de 150 obras mais figurativas expostas no Edifício Espanha (antiga Bolsa Nova de Lisboa), sede da Fundação Carmona e Costa. A mostra de Serralves tem curadoria de Marta Moreira de Almeida e, a de Lisboa, de Manuel Costa Cabral.

Jorge Martins nasceu em Lisboa em 1940. Frequentou os cursos de arquitetura e pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Começou a expor em 1958, no I Salão de Arte Moderna da Casa da Imprensa, e individualmente desde 1960 (Galeria Gravura, Lisboa, Galeria Alvarez, Porto). Entre as várias exposições que reuniram parte significativa da sua obra, contam-se “Desenhos, 1957-1987” na FCG em 1988, a retrospetiva “Pintura, 1958-1993” na FCG em 1993 e a exposição antológica “Simulacros / Uma Antologia”, enquadrada por um estudo aprofundado de Raquel Henriques da Silva, que teve lugar no Centro Cultural de Belém em 2006.



(1)-A Fundação Carmona e Costa foi criada em 1997 para “desenvolver e dinamizar projetos na área da arte contemporânea portuguesa”. Em parceria com outras instituições, criou em 2003 um programa de apoio à arte contemporânea para projetos na área do desenho.
(2)- Maria Filomena Molder  publicou em 1984 o livro “Jorge Martins” e, no ano seguinte, a FCG editou um livro e dedicou um colóquio à obra do artista, que vivia então em Paris. Em 1981 e 1982, M. Barroso realizou dois filmes sobre J.M., “Visible-Invisible” e “Doce Exílio”. Vários críticos de arte escreveram prolixamente sobre a sua obra, com destaque para João Pinharanda e Rui Mário Gonçalves.
(3)-“Preto.branco”, desenhos de Jorge Martins, FCG, 1983.

Luiz Morgadinho na República Checa com o movimento surrealista internacional


Morgadinho mostrará na República Checa 4 trabalhos a preto e branco da série “Na Aldeia”. 

Desde a primeira Exposição Internacional Surrealista (Londres, 1936), o Surrealismo impôs-se progressivamente como um importante movimento internacional. Em Portugal, a primeira exposição data de 1949 (1ª Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa – a primeira e única do grupo) mas as coletivas surrealistas têm recebido, nos últimos anos, um forte impulso de artistas naturais ou residentes na região centro. Com boas relações com outros grupos surrealistas, sobretudo americanos e europeus, alguns destes artistas viajam atualmente nas carruagens da frente do surrealismo internacional, expondo em diversos países da Europa e Américas ao lado dos seus congéneres locais.

Um desses artistas é Luiz Morgadinho, natural de Coimbra (1964) e residente em Seia. Depois da exposição individual de pintura em Oliveira do Hospital, “Ontogénese do Quotidiano” (Casa da Cultura do Dr. César de Oliveira, fevereiro 2013), participa em março na coletiva “Surrealizar o Sonho”, em Vizela, e na exposição internacional do surrealismo que irá percorrer importantes cidades da República Checa ainda em 2013. Uma agenda cheia – e “em cheio” – que dá bem a ideia da importância da obra de Morgadinho no contexto do surrealismo atual.

Surrealizar o Sonho

Hoje, dia 16 de março, pelas 16 horas, abre nas Termas de Vizela a exposição coletiva “Surrealizar o Sonho”, reunindo obras de Adias Machado, Alberto D’Assumpção, Alua Pólen, André Ribeiro, António Porto, Arnaldo Macedo, Carlos Godinho, Dina de Souza, Kim Molinero, Luís Fernando Graça, Luiz Morgadinho, Marco Santos, Pedro Prata, Sílvia Marieta, Susana Bravo e Vítor Zapa. Promovida pela Fundação Jorge Antunes com o apoio da Câmara Municipal  de Vizela, a exposição decorre até 12 de abril.

Exposição Internacional do Surrealismo na República Checa

Os artistas surrealistas portugueses Cruzeiro Seixas, João Rasteiro, Luiz Morgadinho, Miguel de Carvalho e Pedro Prata integram o grupo internacional de surrealistas que irá mostrar as suas obras em várias cidades da República Checa, com destaque para Praga, Brno (capital da região da Moravia), Jihlava (capital da região de Vysočina), Ostrava (a terceira maior cidade da R. Checa), Třebíč (a terceira cidade da Moravia), e também em Prostějov, Žďár nad Sázavou, Rajhrad e Mohelno, uma pequena cidade próxima de Třebíč.

Sob o lema “Somos todos criados pelo amor”, a exposição é inaugurada em Praga no dia 8 de abril, na Galeria de Arte AzeReT (Tereza ao contrário) da bailarina e atriz checa Tereza Pokorná Herz, e fica pela capital da República Checa até 30 de abril.



sexta-feira, 15 de março de 2013

Obras de Eduardo Nery no CISE

De 23 de março a 31 de agosto, o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) vai mostrar em Seia um conjunto de obras de Eduardo Nery, recentemente falecido, entre as quais 2 desenhos que o artista ofereceu ao Município de Seia.

Datados de 1960, os desenhos inspiram-se nas paisagens rochosas da Estrela, evocando concretamente as formações rochosas da área dos Piornos e do Covão do Boi. Trata-se de duas obras da fase gestual inicial de E. Nery antes de enveredar pelo abstracionismo geométrico. Sucedendo a um momento de puro abstracionismo (1958-59), as suas “obras gestuais de temática cósmica” representam também um momento de pesquisa ao nível dos materiais (aguadas de tinta da China, guache preto, canetas de feltro) explorando as tensões entre a linha e a mancha, o desenho e a pintura. Algumas destas experiências poderão ser entendidas como paisagens, pela sugestão dos títulos (“Pântano”, 1960, “Cidade”, 1960) mas, em pouco tempo, as evidências da representação intensificam-se (“Montanha, 1962”) e clarificam-se (“Marinha”, 1963).

Nos anos 80, E. Nery regressa ao tema da paisagem (série “Paisagem: Re-construção”), agora entendida como construção – algo que pode ser desconstruído e recriado através de ilusões visuais simples, desde os jogos de perspetiva à diluição do todo em partes (e o que dele se vai assim perdendo), a paisagem como “invenção” do olhar.

Nota: as obras acima referidas podem ser vistas no site de E. Nery.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Técnica mista de Dario Moschetta

Dario Moschetta, NY.6, técnica mista sobre tela

Dario Moschetta é um pintor e ilustrador italiano, de Treviso, cuja obra é marcada pela experimentação de materiais e combinação de técnicas - com destaque para a mistura de cola, papel e tinta acrílico sobre tela., obtendo uma pintura táctil. Pinta cidades, a vida agitada das grandes metrópoles.

Saatchi online



Dario Moschetta, London-1, técnica mista, 2013

sábado, 2 de março de 2013

EDUARDO NERY (1938-2013)


Eduardo Nery, "Estrutura Ambígua IV"

Pelas obras de Eduardo Nery, de traço rigoroso e espaços arrumados, nos quais convivem o verso e reverso e perspetivas diversas de formas totalmente díspares, harmonizadas no plano da pintura ou nos variados suportes em que trabalhou, podemos entender a conceção que tinha do mundo e da arte. A ideia base de toda a sua obra é a de construção, quadrado a quadrado, cubo a cubo, tijolo a tijolo, vidro a vidro. Estruturas pensadas e testadas para um mundo sem paredes estanques, a arte sem fronteiras artificiais entre estilos ou movimentos, e por isso se dedicou também à gravura, azulejaria, tapeçaria, vitral, pintura mural, arte pública, colagem e fotografia - para além da pintura. Por isso colecionava arte africana. Por isso ajudou a fundar a Associação Portuguesa de Arte Outsider, que valoriza a arte produzida fora dos circuitos culturais convencionais e os seus autores, sem formação artística e afastados da sociedade pelos mais diversos motivos. É esta conceção aberta e participada do mundo e da arte que nos deixa a todos como herança.

O corpo principal da obra de Eduardo Nery estrutura-se no construtivismo geométrico. Em 1969, Rocha de Sousa chamava a atenção para os jogos perspéticos e espaços ilusórios dos seus quadros, que chegaram a incluir formas tridimensionais articuladas com formas bidimensionais: as pinturas-objeto, entre as quais as “Estruturas Ambíguas”. Nos anos 70, a sua pintura reformula-se com a introdução de fundos planos e paradoxos de representação do espaço, combinando formas díspares em imagens “de mistério e de humor”. Ao nível da pintura, destacam-se ainda as suas paisagens abstratas de temática cósmica, combinando spray e colagem, que realiza até aos anos 90. A fase gestual de 2000/2001 antecede a pintura expressionista de máscaras e, em meados da primeira década do século XXI regressa ao abstracionismo geométrico.

E. Nery, azulejos na Estação de Metro do Campo Grande: "jogo dialético entre modernidade e tradição" (E.N.).

O conceito de estrutura, na construção ou desconstrução das formas e dos espaços, é transversal na obra de E. Nery, que começou por desejar ser arquiteto antes de se tornar artista plástico. Os jogos visuais ou de sentido (ilusões, ritmos, relações cromáticas) são a argamassa necessária à coerência do conjunto - tal como as melodias que resultam da junção e sobreposição de sons dissonantes. A propósito, Eduardo Nery era apaixonado por música, Jazz em particular - como grande parte dos artistas abstratos. Um género musical em que o improviso também é estrutural.

Natural da Figueira da Foz, onde nasceu em 1938, faleceu hoje de manhã em Lisboa, aos 74 anos.

Video:
A Arte e a Mente de… Eduardo Nery” (2010). O filósofo José Neto conversa com Eduardo Nery.

Rocha de Sousa sobre Eduardo Nery:
- Artistas Portugueses Contemporâneos: Eduardo Nery.
- Fotografia.
- Obra pictórica.
- Obra em azulejo.
- Tapeçaria.
- Vitral.

José Santos e a "Light Painting"

O Cristo na cruz resplandece e o espírito liberta-se em forma de ave. Foto de José Santos

Pelo final da tarde de ontem, teve lugar a inauguração da exposição de fotografia de José Santos, na galeria de Herman Mertens e Magda Vervloet em Vale de Ferro, com muito público e a surpreendente participação musical do jovem tenor Renato Santos. Chamado a apresentar a exposição, contando com algum desconhecimento do fenómeno da “light painting”, preparei algumas notas sobre este tema e sobre a fotografia de José Santos, que tentei explicitar na ocasião.

A “light painting” é uma técnica fotográfica que consiste em obter imagens através de fotos de longa exposição, movendo uma fonte luminosa diante da câmara fotográfica (“light drawing, light graffiti”) ou movendo a própria câmara (“camera painting”). À primeira vista, parece o contrário da fotografia convencional, mas a “light painting” também trabalha temas e assuntos concretos, exigindo abordagens muito precisas e mobilizando grandes meios técnicos quando se trata, por exemplo, de reforçar os conteúdos emotivos da cor em fotografias de paisagens ou monumentos, que requerem desde logo condições extraordinárias de iluminação artificial.

O processo utilizado por José Santos enquadra-se mais na “camera painting”, pois recorre sobretudo a movimentos da câmara e do zoom. À noite ou num ambiente escuro, a câmara fotográfica torna-se pincel e as luzes são utilizadas como as cores na paleta, para dar a ver diferentes aspetos da realidade ou criar imagens totalmente abstratas. Na realidade, o processo da “light painting” é tão simples de entender e fácil de executar que abundam, na Internet, imagens de todos os tipos e para todos os gostos, desde a experiência mais elementar às obras de autênticos artistas – como os norte-americanos Brian Hart, Eric Staller,  Jason Page e Elizabeth Carmel, o argentino Arturo Aguiar, a canadense Tatiana Slenkhin, o francês Julien Breton ( Kaalam), o japonês Tokihiro Sato e, naturalmente, o português José Santos.


Um desenvolvimento do ato de fotografar (literalmente, “escrever com luz”), a “light painting” aproxima a fotografia da pintura e da performance. Ao longo do século XX, os artistas utilizaram criativamente os meios da fotografia. O primeiro artista a explorar a técnica da pintura com luz terá sido Man Ray, em 1935, e a novidade não escapou à curiosidade de Pablo Picasso, que integrou algumas experiências com luz na sua vasta obra multidisciplinar. Considerando que os desenvolvimentos da arte contemporânea permitiram à fotografia tornar-se abstrata, entre outras coisas ainda ontem inaceitáveis (como as espetaculares fotografias recortadas de Germán Gómez), não admira que o fotógrafo se assuma cada vez mais como artista. A arte contemporânea carateriza-se, sobretudo, pela articulação de linguagens artísticas, pela interação de conceitos, espaços e metodologias – por muito pouco permutáveis que pareçam. A “light painting” é hoje creditada ao mais alto nível (a Photographic Society of America, por exemplo, dispõe de consultores para essa área específica) e a vulgarização da fotografia, ao alcance do mero utilizador de telemóvel, tem levado os fotógrafos a procurar cada vez mais o espaço das galerias de arte para desenvolverem os seus projetos noutro patamar de exigência e manterem um estatuto diferenciado.

No caso particular das obras de José Santos, apesar de se assumir como autodidata da fotografia (1), sobressai imediatamente o sentido da composição, tal como o entendemos na pintura, e o elaborado uso da cor através da criteriosa manipulação da luz. Nos seus trabalhos abstratos, cujo melhor exemplo é a série "Luzes", predomina o diálogo das formas e harmonia das cores, despontando e evoluindo com ritmo e força visual no fundo negro – o nada de onde tudo emerge. Nos seus trabalhos mais figurativos (séries "Cristos" / "Paixão", por exemplo), é clara a preocupação de ir além de mera representação, do visível imediato, extraindo das formas efetivamente fotografadas algo mais que uma simples imagem, o seu halo mítico, a sua energia própria, a sua luz.

E por aqui entendemos a coleção de imagens que integram esta exposição, intitulada “Paixão” por abordar o momento crucial da paixão de Cristo, a morte na cruz. Na sua origem latina, o termo “paixão” significa “sofrer ou suportar uma situação difícil” mas usamos também este termo para designar o sentimento de entrega total a uma pessoa, a uma atividade ou a um ideal. O momento religioso que se aproxima, a Páscoa, os mais profundos sentimentos humanos do autor, José Santos, e a sua autêntica paixão pela fotografia, explicam o tempo e o modo desta exposição.

Simples cruzes, o símbolo máximo do cristianismo, grandes cruzes de altar ou figurações de Cristo crucificado, as fotografias “pintadas com luz” de José Santos destacam a convicção cristã de que Cristo é luz e redenção. Da cruz vibrante de luz, faiscando no fundo da noite escura, à imagem que parece contorcer-se na cruz ou acenar tristemente, vislumbra-se um complexo percurso de emoções, um mapa para a via-sacra mais interior de cada um. E a exposição de José Santos em vale de Ferro termina com uma proposta desconcertante, nada canónica, irradiando luz para as consciências: duas imagens da crucificação, lado a lado, uma no masculino e outra no feminino – evocando ao mesmo nível mítico a Paixão da mulher, a pouco dias do seu Dia Internacional, 8 de março.

Alguns sites sobre LPP:
Lightgraff (França)

(1) - Autodidata da fotografia, José Santos expõe individualmente desde 2009 (Museu Grão Vasco, Viseu, 14 de fevereiro a 21 de março). Em Maio de 2009, mostrou o seu trabalho em Seia, expondo depois no Museu de Lamego, Biblioteca Municipal de Cantanhede, Museu de Resende, Museu Diocesano de Lamego, Espaço João Abel Manta em Gouveia, Sede do Rancho Folclórico Pastores de São Romão, Posto de Turismo de Seia, Casa da Beira Alta no Porto e Casa da Cultura de Seia – uma exposição intitulada "Luzes", que decorre até final de março 2013.
Mais fotografias de José Santos em olhares.sapo.pt.

Vista parcial da inauguração



Algumas obras da série "Luzes" (2009):




Mariza, 2009

Guitarras, 2009

José Santos

sexta-feira, 1 de março de 2013

"Paixão" - fotografia de José Santos no Pátio-Velho


Hoje, dia 1 de março 2013, pelas 18:00 horas, será inaugurada na Galeria Pátio-Velho, em Vale de Ferro (Ervedal da Beira - Oliveira do Hospital), uma exposição de fotografia de José Santos, intitulada "Paixão".

Para além do interesse da obra de José Santos e da qualidade da receção que Herman Mertens e Magda Vervloet proporcionam habitualmente aos visitantes da sua galeria, a inauguração contará com a participação musical de Renato Santos, que interpretará algumas peças de música erudita.